
29 de março, de 2023 | 07:00
Vale do Rio Doce encerra 2022 com desemprego em 7,1%
A região do Leste Mineiro inclui o Vale do Aço e o Colar Metropolitano de sua Região Metropolitana
Ao fim do ano passado, cerca de 78 mil pessoas procuravam trabalho nos 128 municípios que incluem o Vale do Aço e seu Colar Metropolitano.Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (PNAD Contínua Trimestral), do IBGE, o Observatório das Metropolizações Vale do Aço, projeto de extensão do IFMG Ipatinga, calculou a taxa de desocupação dos Estratos Geográficos do Estado de Minas Gerais, fornecendo um panorama comparativo do interior com a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e seu Colar Metropolitano.
Ao fim de dezembro de 2022, a média da taxa de desocupação no interior foi de 5,2%, contra 7,8% na RMBH e 4% no Colar da Capital. No total, cerca de 78 mil pessoas procuravam trabalho nos 128 municípios do Vale do Rio Doce, que inclui o Vale do Aço e o Colar Metropolitano de sua Região Metropolitana. Neste Estrato, a taxa de desocupação encerrou o ano de 2022 em 7,1%, a maior do interior. Por outro lado, a menor desocupação foi registrada pelo Sul (3,6%), seguido pelo Triângulo Mineiro (3,8%), Região Central (5,0%), Zona da Mata (5,3%) e Norte (6,6%).
Já a taxa composta de subutilização, que inclui pessoas desocupadas, que trabalham menos horas por semana do que gostariam e a força de trabalho potencial (pessoas de 14 anos ou mais que não estavam ocupadas nem desocupadas na data da pesquisa, mas possuíam potencial para se transformarem em força de trabalho), foi de 9,3% no Sul, 10,2% no Triângulo, 12,0% na Zona da Mata, 12,5% no Colar Metropolitano da Capital, 14,3% na Região Central do Estado, 15,2% na RMBH, 17,8% no Vale do Rio Doce e de 25,3% no Norte. Os dados foram tabulados pelo geógrafo William Passos, com especialização doutoral em estatística pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), do IBGE, e coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço.
Trabalho por conta própria
Ainda ao fim de dezembro passado, 23,7% da população ocupada na RMBH trabalhava por conta própria, contra 20,2% no Colar Metropolitano da Capital. Essa média no interior foi de 30,7%, sendo de 26,3% no Triângulo, 26,8% no Vale do Rio Doce (cerca de 273 mil pessoas), 31,1% na Região Central, 32,2% no Sul, 32,7% na Zona da Mata e 35,1% no Norte.
Para o IBGE, trabalhador por conta própria é aquele que trabalha como autônomo, com registro de CNPJ ou sem regularização como Pessoa Jurídica. Quando formalizado com CNPJ, a depender da atividade, o trabalhador, em muitos casos, aparece registrado como Microempreendedor Individual (MEI). É importante destacar este dado para evitar o equívoco da contabilização dos MEIs como Empresas Ativas”, ressalta William Passos.
Informalidade
No que diz respeito à taxa de informalidade, que considera os empregados do setor privado sem carteira de trabalho assinada, os empregados domésticos sem carteira, os empregadores sem registro no CNPJ, os trabalhadores por conta própria sem CNPJ e os trabalhadores familiares auxiliares, que colaboram no serviço doméstico e no cuidado com familiares, mas que não recebem remuneração, a menor informalidade, ao fim de 2022, foi registrada pelo Colar Metropolitano da Capital (29,0%), seguido da RMBH (32,1%). No interior, a média da taxa de informalidade foi de 41,6%. O percentual foi puxado pelos 536 mil residentes do Vale do Rio Doce, que encerraram dezembro trabalhando sob condição informal (52,6% da população ocupada no Estrato Geográfico).
PNAD e Caged
Por trabalharem com metodologias diferentes, não é possível a comparação da PNAD Contínua Trimestral, calculada pelo IBGE, com os registros de empregos formais do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)”, detalha o geógrafo.
Assim, quando aumenta o emprego formal, isto é, o número de trabalhadores sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não necessariamente diminui o total de desempregados. Isso porque o que se considera taxa de desemprego no Brasil, na verdade, consiste na taxa de desocupação (procura por emprego) na semana da pesquisa da PNAD Contínua Trimestral.
Desse modo, apenas são considerados desocupados (ou desempregados) os trabalhadores que procuravam alguma ocupação, seja formal ou informal, quando entrevistados pelo IBGE, podendo ser esta ocupação também alguma atividade por conta própria ou mesmo como empreendedor na iniciativa privada”, explica William. Com isso, a pesquisa da PNAD Contínua Trimestral também apura a dimensão da informalidade do trabalho no Brasil, não captada pelas estatísticas do Ministério do Trabalho e Emprego.
Como lembra o coordenador do levantamento, a compreensão ampliada do comportamento do mercado de trabalho brasileiro exige que os empregos formais do Caged e da RAIS sejam cruzados com a PNAD Contínua Trimestral. Daí a enorme importância do trabalho do projeto de extensão do IFMG Ipatinga, o primeiro no Brasil a divulgar as duas estatísticas para municípios do interior”.
Conta própria e informalidade no interior
O panorama comparativo do interior com a RMBH (e seu Colar Metropolitano) fornecido pelo levantamento do Observatório, com base na PNAD Contínua Trimestral, permite concluir que o trabalho por conta própria e a informalidade do mercado de trabalho são maiores no interior mineiro, compensando a menor taxa de desocupação média.
Segundo William Passos, enquanto a média da população ocupada trabalhando por conta própria foi de 23,7% na RMBH, no interior, o percentual alcançou 30,7% ao fim de dezembro de 2022. Já a taxa de informalidade da população ocupada, que encerrou dezembro do último ano em 32,1% na Região Metropolitana da Capital do Estado, foi a 41,6% no interior”.
Conforme o geógrafo, isso reflete o menor dinamismo do mercado de trabalho no interior, organizado em torno de uma heterogênea economia, que combina centros dinâmicos com periferias estagnadas. Nos centros dinâmicos, localizam-se as principais áreas industriais do estado, com destaque, regionalmente, para o Triângulo Mineiro e o Vale do Aço. Adicionalmente, os centros dinâmicos contam com municípios que, isoladamente, receberam grandes plantas industriais ou construíram importantes parques industriais ao longo do tempo. Estes municípios se destacam no conjunto da economia do interior de Minas, que, associada à contribuição localizada da indústria, organiza-se com base na agropecuária, com destaque para o café e a bovinocultura, na mineração, no turismo e na presença de estatalidades, em especial, as universidades e as prefeituras, grandes empregadoras de muitos municípios e grandes responsáveis pela geração de renda em boa parte do interior mineiro”, conclui.


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