22 de março, de 2023 | 14:00
Opinião: Um esforço de muitas mãos no combate à depressão pós-parto
Kalil Duailibi e Gabriel Monteiro *
Ao contrário do que muita gente pensa, médicos não trabalham sozinhos quando atuam em consultório. Em qualquer situação, o sucesso do nosso trabalho depende das mais diversas parcerias. Com o paciente, com a família, com profissionais como enfermeiros, especialistas em exames específicos e, principalmente, com outros médicos.No caso da psiquiatria, que é a minha área e uma especialidade que tem foco total na saúde mental dos pacientes, a parceria com outros médicos é mais do que importante, ela é fundamental. Isso porque a saúde mental se relaciona diretamente com a saúde física das pessoas, o que nos move a falar em saúde global.
Neste mês da mulher, vale falar da parceria de ginecologistas e obstetras, responsáveis pelo pré-natal de gestantes, e de psiquiatras que, juntos, ajudam as pacientes que apresentam qualquer tipo de transtorno mental, inclusive depressão. Esses dois profissionais podem atuar de forma proativa no sentido de identificar antecipadamente possíveis casos de depressão pós-parto que atinge de 10 a 15% da população de mulheres em todo o mundo e aqueles casos ainda mais complexos, que chegam a resultar em psicose puerperal. Atualmente, ela pode acontecer em um a cada mil partos no Brasil. Quase 3200 casos por ano se considerarmos a média de nascimentos entre 2010 e 2020. É preocupante.
A depressão pós-parto é uma condição tratável, mas
também prevenível quando se conhece bem a paciente”
Por isso, eu defendo veemente essa atenção que começa no ginecologista/obstetra em forma de observação e acolhimento, e vira acompanhamento e tratamento adequado nas mãos do psiquiatra em situações em que se pode antecipar possíveis quadros de depressão ou psicose pós-parto. Embora ter filhos seja maravilhoso, levar uma gestação a cabo, parir e cuidar de um bebê nos primeiros meses de vida colocam a saúde mental de qualquer mulher à prova, mesmo quando ela tem um parceiro que a apoie. É desafiador, estressante, mexe expressivamente com os hormônios, com o peso, com a saúde em geral da paciente. Isso sem mencionar outras dificuldades importantes em muitas situações, como pais ausentes, falta de dinheiro, alimentação, acesso a condições dignas de saúde e apoio familiar.
A depressão pós-parto é uma condição tratável, mas também prevenível quando se conhece bem a paciente. Com o ginecologista e obstetra atuando nesta frente, sendo que muitos acompanham suas pacientes por muitos anos, a parceria com o psiquiatra pode reduzir muito a incidência dessa condição, favorecendo a qualidade de vida e a saúde mental das mães nesse período de adaptação à maternidade seja a primeira ou outras. A saúde mental da mulher merece essa atenção, principalmente nesse momento de tanta vulnerabilidade.
* Kalil Duailibi, psiquiatra, e Gabriel Monteiro, ginecologista e obstetra, são professores do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro Unisa
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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