14 de março, de 2023 | 13:00

Crônica: De deuses, troia, bobices e verdades...

Nena de Castro *

Diaaa! E lá vou eu, lendo o Livro de Ouro da Mitologia de Thomas Bulfinch, aprendendo sobre deuses, deusas e heróis mitológicos, gregos e romanos. E a coisa funcionava assim: os deuses, enquanto gregos, usavam a camisa do Flamengo; quando iam atender aos romanos, vestiam a do Fluminense e trocavam de nome. Zeus, por exemplo, trocava a camisa e passava a se chamar Júpiter enquanto atendia à torcida romana. Isso para evitar briga de torcedor; Juno dos romanos era Hera (epa!) pros gregos. Diana também atendia por Artemis. A deusa Terra, romana, era a grega Gaia, Vênus era Afrodite para os gregos e o folgado Baco, Dionísio.

Nessa profusão de nomes, estádios (templos) e torcidas, volta e meia alguém esquecia da camisa que usava e comemorava o gol errado e o pau comia.

Mas tirando isso, a vida seguia, cada deus cumpria suas tarefas quando não estava bêbado ou gastando o dinheiro dos contribuintes, digo fiéis, comprando mansões, jatinhos e “otras cositas mas” que nem...

Contudo, desde pequena eu sou desconfiada, sempre achei que havia mais caroço por debaixo do angu e me lembro da cara escandalizada da freira professora de História, a dileta Irmã Giovana, quando, no sexto ano, no Instituto Imaculada Conceição, em GV, afirmei em alto e bom som que Lee Oswald não tinha matado Jonh Kennedy sozinho.

Ela me perguntou se eu queria saber mais que o FBI e quase fui bosteada na sala de aula. Depois veio outro doido, Jack Ruby que matou o Lee em público e rolou uma teoria da conspiração que rende até hoje. Por ter morado muito tempo em povoado com escolas precárias, eu era mais velha que a turma, mas mesmo assim era muito atrevimento, rs!

Pois antão, a veinha aqui lê as coisas e fica pensando com seus botões: que marmota é essa? Tem jacutinga nesse mato! - e assim segui minha vida, incomodando alguns. Se até Minerva, a deusa da Sabedoria enfiou o pé na jaca, disputando um título de beleza, quem dirá a Bugra de Castro, ara!

Sempre achei a Guerra de Tróia meio estranha: que negócio é esse do sujeito roubar a mulher do outro na maior e provocar uma guerra? Tinha que ter um motivo, uma razão e achei:

Houve um casamento: Peleu casou-se com Tétis e foi uma festança do balacobaco, a deusa Aida se esbaldou a noite toda. Mas os noivos deixaram de fora, a deusa Éris ou Discórdia, por razões que não preciso enumerar. A louca do lado de fora, resolveu se vingar e quando a Mc Pipoquinha se apresentava com toda sua finesse, atirou entre a mulherada um pomo de ouro com a inscrição “À MAIS BELA”.

Ih, nem te conto, foi que nem jogar o buquê da noiva para as moçoilas casadouras, com direito a puxão de cabelo, rasteira, empurrão e arranhões entre Juno, Vênus e Minerva, todas, barraqueiras de primeira.

Júpiter, marido de Juno, que podia ser burro, mas não era besta, sartou de banda e mandou as descabeladas deusas para o monte Ida, onde vivia o belo Páris, pastoreando seus rebanhos para que ele escolhesse a vencedora.
Creio, Vinícius Siman, que Páris devia figurinhas, pinga e dinheiro perdido no pif-paf pra Júpiter, que assim se vingou. O pobre rapaz estava tosqueando as ovelhinhas quando chegaram as candidatas, com mãos cheias de santinhos, bandeiras, malas abarrotadas de cédulas verdinhas...

Começou a campanha: Juno ofereceu poder e riqueza.

Minerva falou em glória e fama na guerra e uma saída com Angelina Jolie.

Vênus prometeu casá-lo com a Kim Kardassian e a contratação de BeYoncé e seu Jorge para a festa de casamento além de nomeá-lo chefe do Itamarati. Caso preferisse, dar-lhe-ia a mulher mais bela do mundo como esposa.
Bão, a escolhida foi Vênus e as outras deusas chiaram. Vendo o trem feio, Páris foi para Grécia, sendo muitíssimo bem recebido por Menelau, rei de Esparta.

Aí deu zebra, causa de quê Vênus deu um jeitinho para Helena se apaixonar por Páris e topar fugir com ele para os Estados Unidos; acabaram indo pra Troia. Deu um cafuçu danado na alfândega, porque os fiscais acharam um cavalinho de ouro cheio de joias e falaram que não podiam deixar passar, pois estavam esperando um cavalo de madeira cheia de guerreiros, senão não haveria guerra e a História ia colocar a culpa neles! O pior, contudo, que deflagrou a guerra foi uma mochila com um portentoso colar de diamantes vindo das arábias, cujo destino ainda não se sabe. E virou uma zorra total no meio dos deuses, enquanto nós mortais, vamos bebendo o fel de cada dia. Enojada! (E nada mais digo!)

* Escritora e encantadora de histórias
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário