09 de março, de 2023 | 09:00

Estudantes da rede pública de Ipatinga protestam contra o Novo Ensino Médio

Arquivo Pessoal
Gabriella tomou a iniciativa de reunir os estudantes em Ipatinga, e Matheus faz parte da comissão que organiza o protestoGabriella tomou a iniciativa de reunir os estudantes em Ipatinga, e Matheus faz parte da comissão que organiza o protesto

O Novo Ensino Médio tem causado polêmica país afora. Isso porque o modelo, em vigor desde o ano passado, já era criticado antes mesmo de sua implementação completa. Com o início do ano letivo, sob um novo governo, o debate entre as partes ganhou força e promete render ainda mais.

Envolvidos na discussão estão alunos, professores, o Ministério da Educação (MEC) e entidades da sociedade civil, que debatem os prós e contras da chamada Reforma do Ensino Médio. Em Ipatinga, jovens da rede estadual se mobilizam para um protesto na próxima quarta-feira, dia 15, a partir das 8h, na Praça dos Três Poderes, cuja reivindicação principal é a revogação do novo modelo. A iniciativa segue a movimentação nacional liderada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), a partir das mídias sociais.

Gabriella Figueiredo, de 16 anos, que cursa o Ensino Médio na Escola Estadual João XXIII, no bairro Iguaçu, foi quem começou a mobilização. “Depois que vi a publicação no Instagram da Ubes, decidi pesquisar para ver se alguém já estava tomando alguma iniciativa para trazer isso para Ipatinga. Como não encontrei ninguém, decidi fazer uma pesquisa entre meus amigos, e aí criamos um grupo de pessoas para fazer essa manifestação acontecer”, afirmou em entrevista ao Diário do Aço.

Gabriella e outros três colegas de escola formaram uma comissão para mobilizar outros estudantes da cidade. Ela, Jhaysam Gabryel Soares, Emmanuelle Fernandes e Matheus Brito criaram um grupo no WhatsApp que aumentou o alcance da manifestação. “Alcançamos muitas outras escolas”, afirma Matheus.

Críticas
Sobre as pautas que motivaram o protesto, os jovens alegam que “o plano do Novo Ensino Médio era uma completa mentira. Primeiro falaram que os alunos poderiam escolher as áreas de conhecimento nas quais iam se aprofundar, e isso não aconteceu. Quem escolhe quais áreas de conhecimento vão ser oferecidas, ou não, é a própria escola, e se a escola quiser oferecer somente uma área, ela pode”.

Arquivo Pessoal
Gabryel e Emmanuelle tem 16 anos e estão à frente da manifestaçãoGabryel e Emmanuelle tem 16 anos e estão à frente da manifestação

Outra reclamação é sobre a infraestrutura. Segundo eles, quando a proposta foi implementada, a promessa era de que as escolas receberiam laboratórios e salas equipadas para o desenvolvimento das atividades. Mas Jhaysam Gabryel diz que “as escolas públicas continuam sem conseguir dar para o estudante uma sala bem ventilada, quem dirá uma sala de computadores para aulas de computação e robótica”.

Já para Emmanuelle, o modelo é “reducionista e excludente” e “essa grade tem o foco apenas no mercado de trabalho, sem dar a importância do que é o pensamento crítico do estudante. Quem realmente vive a realidade do ensino público sabe o que estamos passando e que não tivemos voz nessa reforma”.

Os professores
Emiliano Felipe, professor da rede pública em Timóteo, aponta que a diminuição da carga horária das disciplinas tradicionais em detrimento das novas é um dos principais problemas. “Todas as matérias clássicas perderam carga horária. O currículo já era extenso, e agora aumentaram as horas, subindo de 12 para 21 disciplinas, com o acréscimo dos chamados ‘itinerários formativos’, mas diminuíram as aulas de Matemática, Português, História e Física, por exemplo”.

Outro ponto é o material didático: “Temos quatro turmas de primeiro ano, que totalizam quase 160 alunos e possuímos apenas 35 livros de ciências humanas”, detalhou. Sobre o material de apoio para os professores, Emiliano diz que “se o professor quer usar uma didática diferente, projetando um filme ou música, ele tem que fazer um agendamento e disputar com os outros professores os horários disponíveis”.

Para ele, as falhas no novo modelo deixaram os alunos da rede pública ainda mais defasados se comparados com os da rede privada. “O padrão de exigência se manteve, porque o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ainda não mudou, mas o padrão de oferta de conhecimento foi reduzido”, afirmou o professor.

Reforma do Ensino Médio
As mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovadas em 2017, no governo de Michel Temer, determinam, entre outras alterações, a ampliação da carga horária mínima de 2.400 para 3.000 horas no decorrer dos três anos do Ensino Médio. O modelo é obrigatório para todas as escolas do país das redes pública e privada.

Na prática, as disciplinas tradicionais como Química, Geografia, Matemática e outras agora estão agrupadas por áreas do conhecimento: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.

Além disso, os conteúdos estão divididos em duas modalidades: os eletivos, nomeados pela Lei nº 13.415/2017 como “itinerários formativos”, e os obrigatórios.

O que diz o MEC
O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), disse na terça-feira (6) que irá criar um grupo composto por todas as partes envolvidas no debate, já sinalizando que a revogação do modelo não está nos planos do governo.

“Já foi criado o grupo de trabalho para que a gente possa corrigir e fazer um novo desenho, fazer o debate que eu acho que foi um grande erro passado”.

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Comentários

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Celio Cunha

09 de março, 2023 | 14:44

“Cinco anos se passaram desde a malfadada reforma do ensino médio. Outrora foi apresentada a  ''pílula flórida''  pelos pseudos ''especialistas da educação''. Fato é, que nada do prometido foi alcançado, pelo contrário o que percebemos é mais uma maldade do governo que tenta imprimir uma educação sem qualidade, onde o que menos importa é a capacidade crítica do aluno. Por outro lado, as empresas e empresários adoram esse modelo de robôs construídos a partir dos cofres públicos. Galera que ainda carregam o espírito revolucionário da rebeldia, de luta e de inconformismo com imposição de governos totalitários lutemos enquanto se pode gritar, empunhar sua bandeira e demonstrar sua indignação com tudo isso. Viva a educação de qualidade pra todos e todas, viva a educação inclusiva.”

Juquinha

09 de março, 2023 | 14:01

“A verdade é uma só, reclamação de alunos e professores e nada de trabalhar para solução.”

Lucas Henrique

09 de março, 2023 | 13:22

“Acho uma boa, para as pessoas que acham que devemos(alunos) ter melhores comportamentos, acho que sem um lugar adequado para estudar é mais difícil estamos lutando pelo direito de ter matérias que vão ser necessárias para termos notas boas no ENEM. Agora se as pessoas não querem que façamos protesto então procurem saber mais sobre o novo ensino médio que não ajuda em NADA.”

Vitória Emanuella

09 de março, 2023 | 11:44

“Ouvi muitos professores dizendo que ao invés de protestarmos contra o novo modelo do ensino médio, deveríamos protestar para melhorias nas escolas seja na infraestrutura ou até mesmo para um melhor comportamento dos alunos. Mas nós somos humanos, não robôs, é desumano ficar das 7:00 até as 16:35 dentro de uma escola sem direito a lugar para descansar e tendo que assistir a 9 aulas por dia. E além disso, de qje adiantaria uma escola equipada com os melhores equipamentos e os alunos com o melhor comportamento se o sistema de ensino é fraco? Mesmo que seja a melhor escola, se não tiver um bom sistema de ensino não adiantará nada, por exemplo matérias como "Projeto de Vida" e "Pesquisa e Intervenção" foram adicionadas e retiraram a carga horária de matérias da BNCC, agora só temos 1 aula de física por semana, enquanto as escolas particulares tem 6. Agora eu lhes pergunto: a culpa das aulas não estarem "funcionando adequadamente" é dos alunos ou do novo sistema de ensino?”

Priscila Doris

09 de março, 2023 | 10:30

“Por que não protestam por melhores comportamentos em sala de aula? Chegar no horário correto de início das aulas. Por que não protestam por mais dedicação aos estudos? Agora ficam inventando moda pelas cidade.”

Gildázio Garcia Vitor

09 de março, 2023 | 09:20

“Este movimento não pode ser só dos Estudantes e Professores das Escolas estaduais. Por onde andam nossas lideranças politicas do campo democrático? Companheiras Cida Lima, Cecília Ferramenta e Marienne, apresentem-se. Afinal, o que está em discussão é o futuro da Educação Pública do Brasil. Portanto, a participação de todos é imprescindível.”

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