
08 de fevereiro, de 2023 | 22:00
Financiadores do garimpo ilegal têm maior responsabilidade na tragédia Yanomami, diz delegado
Com informações da Agência BrasilDivulgação FAB
Hospital de campanha, montado em reserva Yanomami atende indígenas desde a semana passada

O delegado da Polícia Federal Humberto Freire, que atua nos inquéritos abertos para apurar a crise humanitária da Terra Indígena Yanomami, afirmou nesta quarta-feira (8), em Boa Vista, que financiadores do garimpo ilegal em terra indígena têm maior parcela de responsabilidade criminal. Entre outras irregularidades apuradas, sabe-se que garimpeiros cobravam uma espécie de "pedágio em ouro", para que indígenas pudessem sair da reserva e fossem até as cidades.
Na farra dos garimpeiros liberados nos últimos quatro anos para atuarem na Amazônia, sobrou para os brasileiros pagarem a conta. O custo total do invesetimento com mobilização de equipes das Forças Armadas e técnicos de diversos ministérios ainda não foi divulgado.
"As pessoas serão punidas na medida de sua culpabilidade. As pessoas que financiam, as pessoas que fazem lavagem daquele lucro auferido criminosamente com a retirada desse minério, elas têm uma responsabilidade muito maior. E isso está sendo investigado dentro dos inquéritos que foram instaurados pela PF", disse durante coletiva de imprensa ao lado de ministros do governo federal.
O delegado da PF acompanhou a visita de uma comitiva ministerial formada pelos ministros da Defesa, José Múcio, dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, e os comandantes do Exército, Marinha e da Força Aérea também acompanham o grupo. Durante a tarde, eles visitaram a Casa de Saúde Indígena Yanomami, a Casai, em Boa Vista.
Divulgação FAB
Farra dos garimpeiros na Amazônia: sobrou para os contribuintes brasileiros pagarem a conta

Os ministros da Defesa, José Múcio, dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e a presidente da Funai, Joênia Wapichana, na Casa de Saúde do Índio, onde está o Hospital de Campanha da FAB que atende os Yanomami.
São, até o momento, três inquéritos abertos pela PF. Um deles investiga o crime de genocídio contra o povo yanomami. Outro inquérito busca identificar esquemas de lavagem de dinheiro do garimpo ilegal. Há ainda um terceiro inquérito que apura crimes correlatos, incluindo fraudes em contratos públicos da saúde indígena.
Humberto Freire também destacou que as ações para reprimir o crime na terra indígena já estão em curso. "Nós já tivemos ações de destruição de equipamentos ilegais empregados neste crime. Já tivemos prisão de pessoas que estavam dentro da área. Obviamente que a gente precisa ter fases dessa operação. Nós temos ações programadas e serão implementadas, com vistas à, dentro de todas essas fases, termos a retirada de todos os garimpeiros por completo", destacou.
Questionado sobre as ações em andamento, o ministro da Defesa citou o trabalho de apoio logístico das Forças Armadas e do papel da Justiça na punição de quem for comprovadamente envolvido em práticas criminosas.
"Nós estamos por conta do trabalho, quem cuida da logística disso tudo é a Força Aérea Brasileira. Cada um tem sua função, quando chegar essa vez, vai ficar por conta da Polícia Federal e da Justiça ver quem são os culpados, que serão punidos. A Justiça é quem vai avaliar, a Polícia Federal também. Cada um vai fazer sua parte", afirmou.
Equipes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Funai e da Força Nacional de Segurança Pública destruíram, nesta terça-feira (7), um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas que serviam de apoio logístico aos garimpeiros na Terra Indígena Yanomami.
Comissão do Senado embarca para a Amazônia
O plenário do Senado aprovou, nesta quarta-feira (8), a criação de uma comissão externa de senadores para acompanhar, pelos próximos 120 dias, a crise humanitária que atingiu o povo Yanomami, em Roraima. A comissão vai supervisionar a retirada de garimpeiros que ocupavam e exploravam, de forma ilegal, a reserva Terra Indígena Yanomami. O grupo deve embarcar, nesta quinta-feira (9), para a região amazônica onde vivem mais de 35 mil indígenas.
Proteção de lideranças
O ministro dos Direitos Humanos comentou sobre a possibilidade de incluir lideranças indígenas no programa de proteção de defensores dos direitos humanos, que assegura o acompanhamento de efetivo de segurança contra quem tem a vida ameaçada.
"Assim que identifica a possibilidade alguém que, potencialmente, tenha a sua vida ameaçada, ou sua integridade física, imediatamente toma as providências para a inclusão no programa de proteção dos defensores dos direitos humanos, que é o que a gente tem que fazer", afirmou Silvio Almeida.
Omissão é denunciada
Uma das lideranças ameaças de mort por garimpeiros criminosos, Júnior Yanomami, presidente do conselho distrital de saúde indígena de sua aldeia, afirmou na semana passada que desde 2019 já fez em torno de 100 pedidos de ajuda para o Ministério da Saúde, Funai, além de denúncias protocoladas no Ministério Público Federal. Segundo ele, nenhum dos pedidos foi atendido.
Agenda
Antes da visita à Casai, os ministros José Múcio e Silvio Almeida visitaram às instalações da Operação Acolhida, que trabalha com a recepção dos imigrantes venezuelanos. Eles conheceram a Base da Operação, o posto de triagem, o Centro de Interiorização, além dos abrigos.
Amanhã (9), a comitiva dos ministros viaja ao polo base de Surucucu, a cerca de uma hora de voo de Boa Vista. O local é um dos pontos de referência da Terra Yanomami e possui um pelotão do Exército, além de unidade de atendimento médico aos indígenas. É neste ponto de apoio que há uma pista de asfalto para pousos e descolagens. Essa pista passa atualmente por uma reforma para retomar a capacidade de receber aeronaves maiores. Após a visita, a comitiva retorna a Brasília.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]