
10 de janeiro, de 2023 | 22:37
Anarquistas, graças a Deus” fez sucesso na literatura e na TV
GB Imagem
Minissérie foi exibida pela Globo em 1984 e protagonizada por Ney Latorraca e Débora Duarte
A infância da menina Zélia Gattai (1916-2008) enche de poesia o seu primeiro livro, Anarquistas, graças a Deus”, obra adaptada, em 1984, pela Rede Globo na minissérie homônima de nove capítulos. A produção contou a história da família de imigrantes italianos Gattai, que veio para o Brasil perseguindo o sonho da Colônia Santa Cecília, reduto anarquista, e viveu em São Paulo nos anos 10 e 20, acompanhando o crescimento da cidade.
Ernesto Gattai (Ney Latorraca) era um jovem toscano de ideias anarquistas que tinha uma oficina mecânica e trabalhava também como motorista particular de ricas famílias paulistanas. Ele se casou com Angelina Da Col (Débora Duarte), mulher forte e sensível que conseguia conviver com os sonhos do marido sem tirar os pés do chão. A matriarca gostava de jogar no bicho e assistir aos enterros que passam diante de sua porta.
O casal teve cinco filhos, incluindo Zélia (Daniele Rodrigues), a narradora do cotidiano de sua família. Através das lembranças da menina, conhecemos seus pais, a empregada Maria Negra (Zenaide Pereira) e seus quatro irmãos mais velhos: Remo (Marcos Frota), Vanda (Lilian Vizzacchero), Vera (Christiane Rando) e Tito (Afonso Nigro).
Valores
Anarquistas resgatou os valores mais importantes de uma família - o respeito, o amor, o carinho e a ternura. E foi gravada acompanhando este ritmo da vida, mostrando os personagens à mesa esperando os outros para começar a comer”, ressalta Ney Latorraca. Para o ator, seu personagem era um sonhador que realizava sonhos”. Na minissérie, a trajetória de Ernesto Gattai, trabalhador pobre e militante do movimento anarquista, revelou também um pouco da história do Brasil.
Antigos filmes da época da imigração italiana serviram de contraponto à história e explicavam o que ocorria em São Paulo no período que se segue à Primeira Guerra Mundial. Cada capítulo da produção era composto por trechos de documentários e fragmentos da memória de Zélia. Eles, como outros imigrantes, foram pessoas que vieram para construir uma nação. E fizeram isso. É só notar que São Paulo na época tinha cerca de 32 mil habitantes”, comenta Latorraca.
A escritora Zélia Gattai, que foi casada com o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), acompanhou de perto a produção de sua obra para a televisão e fez questão de dar sua opinião sobre a minissérie aos atores que interpretaram seus pais. A Zélia falou que minha personagem tinha até cacoetes da mãe, que eu parecia muito com ela. Meu maior presente foi ela ter visto e gostado", garante Débora Duarte, que interpretou a Angelina. Já Ney Latorraca lembra que a obra marcou sua primeira atuação como um personagem que era, acima de tudo, um pai. Um dia recebi um telegrama em que a Zélia dizia que, se seu pai estivesse vivo, estaria muito orgulhoso”, recorda. Anarquistas, graças a Deus” foi lançado em DVD, pela Som Livre.
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