13 de dezembro, de 2022 | 14:00

Lendas de pindorama...

Nena de Castro *

E de repente, os homens fatigados pela bruta jornada marítima abrigados nas caravelas, sentiram o coração palpitar ante a visão paradisíaca do litoral pátrio. O grito de “terra à vista” foi um alento para a marujada: após tanto tempo navegando descortinaram um litoral iluminado pelo sol, exibindo coqueiros e além, tons de verde diversos em florestas intocadas, misteriosas e lindas. Desembarcaram e viram os locais, um povo de tez trigueira, nus, armados com arco e flecha, tacape e lanças, que urgia conquistar.

Presentes que eram bugigangas encantaram os nativos. Tomaram posse da terra em nome de Portugal, foi celebrada uma missa, e o escritor-mor descreveu a terra e seus habitantes em carta aos reis daquele país. Pindorama regurgitava de vida, pássaros de todas as cores voavam livres e os animais eram abundantes nas matas.

Todos nós sabemos o que veio depois, a exploração dos recursos naturais, as guerras aos silvícolas, as Entradas e Bandeiras rasgando o coração das florestas e aniquilando seus habitantes, o que acontece até hoje!

“Fascinam-me as lendas e histórias que
nos dizem como viviam os primevos
habitantes que aqui levavam suas vidas”

Fascinam-me as lendas e histórias que nos dizem como viviam os primevos habitantes que aqui levavam suas vidas em contato íntimo e harmonioso com a Natureza, até a chegada do branco invasor. Conta-se que uma princesa indígena, de rara beleza, filha de um chefe valoroso, apaixonou-se perdidamente por um guerreiro de uma tribo inimiga. O pai da moça não aceitou a situação, tampouco os parentes do jovem. Cada qual era vigiado em seus domínios, mas com a força dos enamorados, conseguiram a ajuda de um pássaro misterioso que os conduzia a dois sicômoros fronteiros, cada qual localizado em suas terras. Empoleirados nas árvores, podiam se ver e a índia cantava lindas canções e sua voz deliciosa chegava ao amado. Este, por sua vez improvisava um estribilho e ia tudo muito bem até que o pai descobriu e com a ajuda dos feiticeiros, transformou os dois em pedra, que se transformaram em montes. No entanto, uma fada lhes concedeu que uma vez por ano, na festa de São João, recuperem a forma primitiva e invisíveis aos humanos, trocam juras de amor eterno e se presenteiam com mimos valiosos. O pássaro transformou-se em bola de fogo e leva as mensagens de amor eterno entre os dois, provando a eternidade do AMOR!

* Escritora e encantadora de histórias

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço