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11 de dezembro, de 2022 | 09:00

Mães relatam o sofrimento de crianças autistas com os estampidos de fogos de artifício

A utilização de artefatos pirotécnicos é bem comum para comemorar o resultado de partidas de futebol e durante a virada do ano

Arquivo Pessoal
Layane e o filho Antônio, que no próximo mês completa cinco anos Layane e o filho Antônio, que no próximo mês completa cinco anos

Chegamos ao último mês do ano, época de festas e celebrações, e é exatamente nesse período que se torna bem comum a utilização de fogos de artifício e outros artefatos pirotécnicos que produzem barulhos. O que pode parecer uma maneira divertida e bonita de comemorar a passagem de ano, por exemplo, acaba gerando um desconforto intenso às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que possuem hipersensibilidade sensorial aos ruídos provocados pelos fogos.

Para a costureira Pollyani de Souza, que mora no bairro Bom Retiro, em Ipatinga, o desafio é ainda maior. Por residir relativamente próximo aos bares, em dias de jogos, as comemorações com os estampidos são inevitáveis. “Em época de jogos, independente de qual, aqui vira uma loucura”, definiu. Pollyani tem três filhos: Gabriel, de 12 anos, Pedro, de nove anos e a “rapinha do tacho” Beatriz, de três anos.

Os dois filhos mais novos da costureira são autistas. A mãe relatou como é a experiência em família nos dias em que são emitidos os estouros e estampidos. “O maior, de nove anos, que fica mais incomodado. Ele costuma tapar os ouvidos e fechar os olhos. A caçula ainda não demonstra incômodo. Talvez por ela ser não verbal, não tenha como explicar como se sente. Afinal até eu fico incomodada, às vezes tenho aceleração cardíaca e minha cabeça dói”, contou.

Álbum Pessoal
Pollyani acompanhada dos três filhos: Gabriel, Pedro e Beatriz Pollyani acompanhada dos três filhos: Gabriel, Pedro e Beatriz

A jornalista e influenciadora digital, moradora de Timóteo, Layane Óliver Nunes, é mãe do Antônio, de quatro anos de idade, que é autista. Ela conta que hoje o filho não entra em crise com o barulho dos fogos, fruto das terapias, mas que ele ainda apresenta certa agitação. Layane recordou como eram as reações anteriormente. “Antes ele colocava as mãos nos ouvidos e chorava muito, entrava em desespero, era difícil para acalmar”, lembrou.

O que fazer?

Ao ver o sofrimento dos filhos, os pais acabam criando e desenvolvendo formas para tentar amenizar, ao menos um pouco, a experiência negativa diante dos barulhos incômodos promovidos pelos fogos. Layane sempre costuma conversar com Antônio para “prepará-lo” para os estrondos, dando a ele uma previsibilidade. “Antônio, hoje tem jogo de futebol na televisão, as pessoas vão ficar felizes e, por isso, elas podem soltar foguetes e vai fazer barulho”, exemplificou a jornalista.

Na casa da Pollyani não é diferente e ela também já criou estratégias. “Sempre em épocas de jogos e festividades estamos em meio aos fogos, então eu fecho todas as janelas, tento aumentar o volume da TV com algo que tente direcionar o foco para lá e não para o ruído. Demos um headphone para o Pedro, e algumas vezes ligamos músicas e ele fica ouvindo”, compartilhou.

Ela explica que as ideias surgem e ela aplica para ver se vão funcionar. “Isso (o fone de ouvido) foi uma forma que descobrimos nas tentativas, porque é assim que funciona nessas situações. A gente vai buscando meios de amenizar o desconforto e surgem ideias que funcionam, e outras não”.

Empatia e cuidado com o próximo

As famílias que sofrem juntas com as pessoas com Transtorno do Espectro Autista pedem empatia e cuidado, ou seja, o mínimo de reflexão por parte de quem utiliza os artefatos com barulho. “Só posso pedir empatia. Que antes de soltar esses foguetes, pensem nos autistas, idosos, animais e pessoas doentes. Não é fácil. Controlar uma crise é muito difícil. O autista sofre e a família também”, rogou Layane.

“Só quem vê uma pessoa sofrendo com essa dor auditiva, porque sim, causa dor, sabe como é desesperador não poder sanar esse desconforto. Gostaria de pedir que sim, comemorem, mas que não machuquem o outro. Pessoas convulsionam por conta dos fogos. E além dos autistas, animais, bebês, idosos, todos sofrem”, propôs Pollyani.


Hiper-reatividade a estímulos sonoros


A reportagem do Diário do Aço conversou com a psicóloga especialista em Neuropsicologia e professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Una, Larissa Salustiano, que explicou por que os autistas sofrem tanto com os sons emitidos pelos foguetes e fogos de artifício.

A psicóloga esclareceu que muitas pessoas que estão dentro do espectro autista podem apresentar alterações sensoriais. “Ou seja, vão experimentar e responder aos estímulos do ambiente com características diferentes da população geral”. Ela exemplificou: “podem apresentar indiferença aparente à dor, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento e etc.”, pontuou.

Segundo a especialista, uma outra condição seria a hiper-reatividade a estímulos sonoros. “Um som que para várias pessoas não é notado, pode ser vivido de maneira diferente para muitos autistas. Por exemplo, os ruídos das conversas em um restaurante durante o almoço. Assim, os barulhos emitidos pelos fogos de artifício podem desencadear em muitas crianças com autismo um desconforto de grande magnitude”.
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Comentários

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Incogormado

11 de dezembro, 2022 | 15:31

“Sou morador cidade nobre e hoje mesmo domingo, presenciei hono nacional sendo cantado regrado com um longo foguetório em evento oficial DA LIGA DE DESPORTOS DE IPATINGA. Com apoio da pc mg , pmmg prefeitura municipal de Ipatinga.evidente que todo o repúdio foi oferecido pelos órgãos. Mas terceiros, fizerem isto durante todo jogo no campo do Canaa.”

Juquinha

11 de dezembro, 2022 | 12:32

“Como se diz ,lei sem fiscalização em Ipatinga, têm incluir também som alto nestes carros na rua,a autoridade passa e vira para outro lado .”

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