03 de dezembro, de 2022 | 07:50

Ipatinguense Katita conta sua passagem pelo futebol do Catar

Álbum Pessoal
Katita viveu no Catar nos idos 1992 e 1993Katita viveu no Catar nos idos 1992 e 1993

Um “cigano da bola”. Assim pode ser definida a carreira do zagueiro ipatinguense Edilson Marques Virgílio, o Katita, atualmente com 54 anos e trabalhando há algum tempo na Federação Mineira de Futebol (Departamento de Futebol Amador). Nascido no bairro Canaãzinho, Katita começou nas escolinhas e equipes de base de Ipatinga, tendo passado pelo pré-infantil do Itamarati, Vila Celeste, Bethânia, Palmeiras, Aciaria e até na Usipa.

Mais tarde, foi aprovado na chamada “peneirada” do infantil do Cruzeiro, iniciando uma carreira de alguns títulos, muitas andanças e outras tantas histórias. Atuou em muitos clubes, em três países, além de defender a seleção brasileira nas categorias infantil e juvenil em diversas competições internacionais.

Uma dessas suas aventuras foi aceitar um convite para jogar no Catar, nos idos 1992 e 1993, onde adquiriu enorme experiência de vida, em virtude dos costumes e da cultura do país que atualmente sedia a Copa do Mundo. Lá, aos 24 anos de idade, atuando pelo Tuan FC, vivenciou momentos marcantes, como a conquista de uma Copa do Sheik de 1992.

Pouco antes de seguir para o mundo árabe, Katita também atuou num Campeonato Paulista da divisão de acesso com “Neymar pai” (era meia-atacante), defendendo o União Mogi das Cruzes, onde igualmente acumulou algumas histórias.
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Ao ver o Mundial no Catar em 2022, Katita lembra que o país sempre se esforçou para receber grandes eventosAo ver o Mundial no Catar em 2022, Katita lembra que o país sempre se esforçou para receber grandes eventos

Katita recebeu o Diário do Aço para falar especificamente de sua experiência no Catar, contando sobre o calor, costumes, enfim, um ritmo de vida inimaginável para quem vive no Ocidente.

Calor e Mundial
A cidade onde Katita viveu no Catar, Alcor, recebeu uma das principais partidas desta Copa do Mundo, o duelo entre Espanha e Alemanha. Ele conta que chegou ao país pelas mãos do empresário Levi Lafetá. “Ele era empresário de alguns jogadores do Fortaleza e quando joguei lá ele me perguntou se eu tinha interesse de ir ao Catar, e aceitei. Lá eu morava em uma casa com um nigeriano, que depois se machucou, foi embora e eu continuei como o único estrangeiro na equipe”, relata.

Sob um forte calor, de 40 a 50 graus, Katita treinava durante o dia dentro de casa e só ia ao estádio, já moderno nos anos 1990, à noite. “O estádio já tinha no entorno do gramado aquele piso emborrachado, de pista de atletismo. Esse tipo de coisa não se via em campo nenhum naquela época, até porque era caríssimo, só usado mesmo nas olimpíadas”, relembra o ex-jogador. “A maioria dos estádios tinha ar-condicionado nas partes internas”.

Já naquela época, os catares já pensavam em levar grandes eventos ao país. “O Catar já recebeu jogos eliminatórios da Copa, em Doha, além de campeonatos de outros esportes. O Roger Federer [tenista] já jogou lá”.
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O ipatinguense à direita, ao lado de um colega de Tuan FC O ipatinguense à direita, ao lado de um colega de Tuan FC

Katita já pensava que o país poderia receber um Mundial, mas imaginava que não abriria mão de seus costumes. “Eles são muito conservadores e não abrem mão. Quem for lá que tem que se adaptar”.

Futebol
O ipatinguense relata que um dos momentos mais marcantes no Catar, dentro de campo, foi ganhar a Copa do Sheik. “No jogo que antecedia a classificação eu consegui fazer o gol e depois ganhamos o torneio”, lembra com alegria.
Enquanto esteve no Catar, Katita viu outros brasileiros por lá. “O Marquinhos que jogou no Flamengo, o Oswaldo de Oliveira era treinador lá, o Lapola, alguns que já foram treinadores da seleção brasileira, Celso Roth, Renê Simões”. Defendendo o Tuan, Katita tinha um treinador húngaro.

Choque cultural
O ipatinguense lembra ainda algumas das restrições no país do Oriente Médio, como não poder ingerir bebidas alcóolicas. “Não pode tirar foto da mulher árabe. Lá tem o cemitério dos homens e o cemitério das mulheres. Tudo é separado. O árabe namora por foto e por telefone. Ele só conhece a esposa depois que casa e quando casa fica a turma dos homens em uma cabana tomando chá e se divertindo e do outro lado, em um outro quarteirão, tem a cabana das mulheres. Aí só depois que os noivos se encontram”, explica.
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Junto do elenco, ex-atleta conquistou um título da Copa do SheikJunto do elenco, ex-atleta conquistou um título da Copa do Sheik


O choque cultural também se dá na questão religiosa. “Se estivesse no meio do jogo e o sino da oração tocasse, eles saíam do jogo para fazer a oração e voltavam depois, porque todos os estádios têm uma mesquita para oração. Durante o treino, paravam e voltavam depois. Eles não abrem mão dos rituais mulçumanos”, ressalta Katita.
“Não tem bebida, não tem prostituição, não deixam outras culturas chegarem e quebrarem essas tradições por dinheiro nenhum. Até porque eles vivem do petróleo e pesca, além de serviços prestados pelos estrangeiros, que tem que ser do jeito que eles querem, e se não for do jeito deles é possível que sofra alguma sanção”.

Apesar das variadas e profundas diferenças, Katita conta que não teve dificuldades de adaptação, até mesmo pela rigidez imposta pelo próprio futebol. “Pra mim foi uma experiência muito boa porque no futebol eu sempre vivi uma vida de muitas regras. Horário pra acordar, pra treinar, pra dormir, pra lanchar. Consegui muita coisa na minha vida por ter sido pautado em disciplina e cumprir com o que é determinado. Então foi uma experiência ótima, só tenho a agradecer a Deus, porque tudo que ele me deu, porque todo o esforço que fiz eu fui agraciado”.

Seleção brasileira
Nesta Copa, Katita está confiante que a seleção brasileira tem chances de conquistar o hexa. “Seria bom vencer para nos dar alegria, esquecer dos problemas, até porque o futebol nos proporciona tudo isso, ele mexe com a nossa autoestima”, torce o ex-atleta, que disputou Mundiais pela seleção brasileira de base.

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