21 de novembro, de 2022 | 17:00

Livro revela a história por traz da foto “As mulheres de X’oyep”

A icônica e premiada imagem intitulada “As mulheres de X’oyep” tem sua trajetória mapeada pelo historiador Alberto del Castillo Troncoso que apresenta no livro “As mulheres de X’oyep: fotografia e memória”, publicado pela FGV Editora, as condições da produção, a busca documental empreendida pelo fotógrafo Pedro Valtierra e seu trabalho de edição nessa imagem.
Pedro Valtierra/Reprodução
Imagem icônica de múltiplas histórias da América Latina, na luta dos povos indígenas em defesa de suas terras e de sua culturaImagem icônica de múltiplas histórias da América Latina, na luta dos povos indígenas em defesa de suas terras e de sua cultura

No dia 22 de dezembro de 1997, no município de San Pedro Chenalhó, no estado de Chiapas, no México, um grupo de 60 paramilitares disparou, com armas de uso exclusivo do Exército, contra homens, mulheres e crianças integrantes de uma organização pacífica, simpatizante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que rezava dentro de uma pequena igreja no povoado de Acteal. O hediondo resultado foram 45 pessoas mortas, todas indígenas da etnia tsotsil.

Nesse contexto de violência e tensão, em 3 de janeiro de 1998 um batalhão com cerca de 200 soldados mexicanos ocupou um olho-d’água que beneficiava as comunidades de Chenalhó, muito próximas da de X’oyep - uma modesta aldeia formada por uma dezena de casas de tábuas de madeira e tetos de zinco. Em busca de notícias sobre os fatos posteriores ao massacre de Acteal, o fotógrafo Pedro Valtierra, coordenador do departamento de fotografia do jornal La Jornada, estava em X’oyep quando mulheres tsotsiles enfrentaram os soldados.

No turbilhão do confronto, Valtierra captou o instante em que duas delas investem contra um dos militares. A expressão de susto de um lado, o destemor do outro, a desproporção de forças e estaturas (em que o fuzil calibre 7.62 mm portado pelo homem é apenas um pouco maior do que os corpos femininos) conferem expressiva carga estética e simbólica à foto.

Troncoso, ao eleger a fotografia de imprensa para análise, articula as imagens visuais ao campo social e político e à representação estética e, nesta obra, investiga os múltiplos aspectos que constituem o complexo processo de construção de uma imagem poderosa como a fotografia “As mulheres de X’oyep” que, transcendendo a si mesma, se tornou um dos símbolos mais representativos da resistência indígena na América Latina.

A versão em português, publicada pela FGV Editora, conta com a tradução de Pablo F. de A. Porfirio e prefácio de Regina Beatriz Guimarães Neto e Antonio Torres Montenegro. A obra ainda apresenta uma variedade de fotografias de arquivo e de outros fotógrafos, além de Valtierra, que representam os momentos descritos pelo autor.
O livro “As mulheres de X’oyep: fotografia e memória” tem 124 páginas.

Mulheres com o nome mais comum no país ganham voz
Maria Dolores, Maria Madalena, Maria do Socorro, Maria Aparecida, Maria das Graças, Maria Bonita, Maria Batista, Maria José, Maria do Carmo, Maria Edvirges, Maria Norma e Maria Flor. Mulheres com o nome mais comum do Brasil, de acordo com os 11,7 milhões de registros levantados pelo Censo de 2010 do IBGE, ganham voz no livro de contos “Silêncio de Marias”, de Núbia Pimentel.

As histórias narradas pela escritora podem ser familiares aos brasileiros. Muitos já conheceram, ou pelo menos leram em uma matéria de jornal, casos de mulheres que sofreram violência doméstica. Também devem ter visto meninas que, com a vontade de se aventurar por um universo de brincadeiras considerado masculino, tiveram suas criatividades reprimidas. Nesta obra, o objetivo da autora é dar visibilidade àquelas situações que, de tão recorrentes, passam despercebidas por grande parte da sociedade.

Escritora negra, Núbia Pimentel não se restringe à estrutura patriarcal do Brasil, mas também demonstra os problemas do racismo em seus textos. Uma das personagens, ainda na juventude, descobre as diferenças nas relações entre pessoas pretas e brancas. São casos de vida como estes, com desfechos trágicos, outros felizes, alguns sem um ponto final, que são expostos em “Silêncio de Marias”. Com 48 páginas, o livro é da Editora Chiado Books.
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