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04 de novembro, de 2022 | 13:00

Governar para 215 milhões de pessoas

Beto Oliveira *

Em seu primeiro pronunciamento após eleito, Lula prometeu governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram nele. A mensagem é ótima e não poderia ser mais oportuna para o momento de cisão em que o país se encontra. No entanto, ainda que pareça óbvio, é preciso lembrar o que significa isso. Afinal, não foi por acaso que Freud incluiu o ato de governar no rol das profissões impossíveis. Se assim o fez, foi justamente por não ser possível agradar a todos, sendo essa a primeira ideia que devemos afastar. Governar para 215 milhões de brasileiras e brasileiros não significa agradar 215 milhões de brasileiras e brasileiros. Mas, o que significa?

Significa, antes de tudo, se submeter às instituições que regem essas 215 milhões de pessoas. A começar por reconhecer a derrota nas urnas, como o fez rapidamente Haddad em 2018. Também Lula, quando preso, ou Dilma, quando impedida, não lançaram granadas e tiros resistindo às sentenças, como fez Roberto Jefferson. Mesmo discordando, eles obedeceram aos ritos da lei e reivindicaram seus direitos à defesa dentro das regras institucionais.

Governar para 215 milhões de pessoas significa que aqueles que não foram contemplados nas urnas não deverão se curvar diante da maioria como proferiu Bolsonaro em relação às “minorias sociais”. Muito menos que serão metralhados, literal ou metaforicamente, como também bradou Bolsonaro no Acre em 2018 ao dizer: “vamos fuzilar a petralhada”.

Governar para 215 milhões de pessoas significa que a opinião de todas elas será respeitada de modo que quando uma jornalista manifestar sua ideia, fizer alguma pergunta embaraçosa, ou mesmo hostil, essa pergunta será respondida e não que se iniciará uma série de impropérios e ofensas; ou que a pergunta leve ao abandono da entrevista. É assim que se passa a mensagem de que também na família, entre amigos ou na rua, podemos divergir de forma saudável. E caso a discussão se acalore, se houver ofensas, injúrias ou calúnias, que sejam feitas as denúncias, mas que nunca se corra atrás de alguém com uma arma na mão como fez Carla Zambelli nas vésperas da eleição.

“Que tais divergências possam ser
mediadas pela palavra, pela lei, pelas
instituições, e não pelo ódio e pela arma”


Governar para 215 milhões de pessoas significa que os símbolos nacionais representarão toda uma nação e não apenas um partido político. E que os símbolos partidários também serão respeitados sem que um cidadão seja assassinado por ornar seu aniversário com faixas de um partido – como aconteceu com o guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda em julho de 2022.

Governar para 215 milhões de pessoas significa que todas as religiões serão respeitadas e que a escolha de um ministro do STF não esteja condicionada a ele ser “terrivelmente evangélico” (nem católico, umbandista ou ateu), expressão que Bolsonaro fez questão de ressaltar quando André Mendonça foi aprovado para o cargo. Significa também que a atividade de tais cargos será orientada pela Constituição e não pelos interesses dessa ou daquela religião. Tampouco pelos interesses de uma família, o que fez com que Bolsonaro trocasse o comando da PF mais do que Lula, Dilma e Temer juntos.

Enfim, governar para 215 milhões de pessoas não significa a harmonia absoluta entre elas, nem o fim das divergências ou dos conflitos. Mas que tais divergências possam ser mediadas pela palavra, pela lei, pelas instituições, e não pelo ódio e pela arma. Significa que vitoriosos e derrotados nas urnas participarão ambos da política nacional, em que pese suas diferenças. Seja apoiando, discordando, criticando, cobrando, eles farão parte do processo político nacional, porque participação política não se resume a votar de quatro em quatro anos.

Que até janeiro tudo ocorra conforme os ritos da nossa democracia, e que a partir de 2023 Lula de fato cumpra sua promessa de governar para 215 milhões de brasileiras e brasileiros.

* Psicólogo. Mestre em Estudos Psicanalíticos pela UFMG. Coordenador do CEPP (Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço). Autor do romance “O dia em que conheci Sophia” e da peça teatral “A família de Arthur”
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

04 de novembro, 2022 | 18:52

“Parabéns garoto! Você é genial!”

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