25 de outubro, de 2022 | 14:00

Cafuçu em Juparanã...

Nena de Castro *

 
Juparanã, a maior lagoa em volume de água doce do Brasil e a segunda em extensão encontra-se localizada nos municípios de Linhares, Rio Bananal e Sooterama no ES. Nela há uma ilha denominada Ilha do Imperador, assim chamada pela visita de Dão Pedro II em1860. Cercada por lendas, dizem que o local foi domínio de fadas e anões. Também dizem que Corsários misteriosos aportaram no local, tentando apossar-se das riquezas naturais do Rio Doce, chamado de Uatu pelos botocudos, indígenas perigosos e resistentes às invasões.

Contam que bem antes da Capitania, naus aventureiras subiram o extenso caudal, até a maior largura do seu leito. Numa das margens do grande Uatu, vivia uma tribo com seu pajé, feiticeiros e oráculos em seus quijemes (ranchos) tornando organizada e bem protegida a sua taba. Viviam da caça, frutos silvestres, mel e eram felizes na plenitude da vida primitiva, até o dia em que as sentinelas avançadas dos silvícolas ouviram o som de remadas fortes que indicava intrusos.

 Uma flecha emplumada foi atirada à aldeia, o alarme soou para congregar os guerreiros; o oráculo invocava Tupã, e os feiticeiros preparavam a fogueira para a queima dos pataquis (resina de pau) e dos amuletos que revigoravam o ânimo geral. Os índios pensavam na festa da vitória, com a carne fresca do inimigo. As embarcações se aproximavam e do seio da folhagem voam as flechas. Mas o inimigo  tem canhões que os índios não conheciam e, protegido pelo ribombar de suas armas, as galeras avançam, penetrando as águas imensas do Uatu.

Desembarcam os guerreiros invasores e se acomodam na praia, aguardando o amanhecer para explorar a terra. Então, entre a terra e o mar, fogueiras começam a arder, cortando o caminho dos estranhos e nuvens de flechas envenenadas obscurecem o espaço, enquanto os índios clamam a Tupã e às entidades da natureza. Furioso, o Uatu encrespa suas águas, arranca árvores e barrancos e os deposita na praia de modo a impedir a fuga do invasor.

Folhas, raízes e detritos formaram uma ilha. Com suas armas de guerra os índios, usando suas pirogas e juncats (canoa de casca de árvore), destroçam o inimigo, furam o casco das embarcações e ao amanhecer corpos e destroços boiavam na calma das águas de um grande lago. No entanto, tempos  depois, apareceram no local da batalha, archotes de fogo - os fogos-fátuos que o homem  primitivo não entendia, julgando fossem manifestação dos invasores mortos, que à meia-noite aparecem na ilha uniformizados, ao som do hino de suas terras. O ritual só termina quando ao amanhecer, os pássaros começam a cantar, afugentando os espíritos dos mortos, que se recolhem. E a Lagoa Juparanã se mostra belíssima e incomparável, suas águas rebrilhando ao sol... E nada mais digo.

* Escritora e encantadora de histórias
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Comentários

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Tião Aranha

25 de outubro, 2022 | 08:18

“As fogueiras nessas terras tupiniquins sempre arderam no torpor da ignorância, só que as armas de hoje são automáticas e a auto suficiência é a mesma: de espertos políticos se competindo - um querendo botar mais dinheiro no bolso que o outro. Briga que nem o padre Kelmon consegue apartar. Pura ilusão deste mundo de idiotas e de mortais. Risos.”

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