01 de outubro, de 2022 | 13:00
Show de horrores e fake news na reta final
Marcos Sampaio *
Denúncias infundadas sobre urnas e pesquisas eleitorais, conspirações sobre a TV Globo e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o boato de que o ex-presidente Lula (PT) fechará igrejas, caso eleito, além de temas morais, estão entre as inúmeras notícias falsas que grupos de apoiadores políticos usam para bombardear, dia e noite, os usuários de Whatsapp, Facebook, Twitter, Instagram, TikTok e Kwai, os mais populares aplicativos com páginas pessoais.Em vez de discutir questões determinantes para a vida das pessoas, a economia, os investimentos, a geração de empregos, as reformas estruturais decisivas para o país, os temas que tocam na apenas no emocional, como aborto e sexualidade, sobressaem-se a tudo.
Sobressaíram até no último debate, da noite de quinta-feira, quando candidatos se engalfinharam em troca de acusações e uma baixaria, um show de horrores dos quais o eleitor poderia ser poupado. Quem ligou a TV no debate em busca de propostas de governo deve ter ficado muito decepcionado.
Não adianta denunciar às empresas que gerem as
mídias sociais e o eleitor permanece sob ataque”
Um exemplo de publicação que traz uma distorção da realidade é o desenho de um homem usando um mictório ao lado de uma criança sentada em um vaso é compartilhada com mensagens de ódio a quem defende banheiros unissex” e ideologia de gênero”. Não vote em candidatos que defendam isso”, diz a mensagem. Mas, onde, no mundo, existe um mictório ao lado de um vaso sanitário, num espaço aberto? Em lugar algum, mas no imaginário de quem dissemina a desinformação é uma realidade.
Em 2018 as fake news já tinham ganhado projeção com as questões morais e de gênero, como a mensagem dizendo que mamadeiras com bico em formato de pênis tinham sido distribuídas em creches pelo PT e o boato da criação de um "kit gay" pelo então candidato à Presidência Fernando Haddad para doutrinar crianças. O assunto virou meme. Brasileiro adora um meme. Gosta tanto que acaba elegendo memes para ocupar cargos importantes em esferas que tomam decisões para a vida de todos. E ninguém consegue fazer nada para mudar os absurdos.
Mapeamento da Palver, empresa de tecnologia que monitora mais de 15 mil grupos públicos de WhatsApp, mostra que as mensagens desinformativas que mais viralizaram questionam de algum modo as urnas ou as autoridades eleitorais. Agora, na reta final para o primeiro turno, entre 5 de setembro e o dia 28, explodiu o volume de mentiras sobre o sistema eleitoral, pesquisas de opinião e ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
É uma mensagem falsa, rápida, rasa,
que não abre margem para interpretações
e chega a milhões de usuários”
Um dos conteúdos falsos de maior circulação esta semana dizia que as urnas já estavam sendo abertas e fraudadas em um sindicato ligado ao PT, em Itapeva (SP). O TSE esclareceu que, desde 2014, um cartório eleitoral de Itapeva realiza o procedimento de carga e lacração das urnas na sede do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário, por falta de espaço no cartório, e que os funcionários que atuam no procedimento foram contratados por licitação. A resposta pouco adiantou. A mensagem equivocada continuou em circulação. Até uma deputada federal republicou imagens fazendo acusações de fraude.
Outro discurso de destaque convoca apoiadores de Bolsonaro a enviar fotos dos comprovantes de voto para determinados grupos de Telegram, um tipo de contagem paralela. O texto ainda incita bolsonaristas a seguir o exemplo da invasão do Capitólio nos EUA, em 6 de janeiro, quando Trump foi derrotado na disputa presidencial.
Há também outros indicadores importantes. Em 2018, a maioria das fake news circulava em formato de imagem (59,7%), outros 19,6% em vídeo, 12,5% em texto e 8,2%, áudio. Já, neste ano, segundo o estudo da UFMG, a maior parte está em vídeo (37,3%), depois em texto (32,9%), imagem (22,6%) e áudio (7,2%).
O monitoramento também mostra que os vídeos do TikTok e Kwai estão entre os mais compartilhados. A informação distorcida aparece em forma de uma mensagem falsa, rápida, rasa, pronta, sem abre margem para interpretações e chega a milhões de usuários dos aplicativos.
O entendimento é que o ambiente para a desinformação está mais fragmentado e há muito mais lugares de distribuição, em um comparativo com 2018. Enquanto em 2018 eram poucos os grupos de esquerda, agora os dados mostram que uma pequena parte dos conteúdos dos grupos desse espectro já aparece entre os mais compartilhados - embora a direita ainda protagonize a disseminação de fake news.
A lista é longa e tenta enganar a opinião do eleitor de toda forma. Não adianta denunciar as publicações falsas às empresas que são as proprietárias das mídias sociais, a denúncia e feita e nenhuma providência é tomada. E mediante essa omissão dessas grandes corporações globais, o eleitor permanece sob ataque. É preciso ser inocente demais para não entender que essa situação coloca em risco nossa preciosa democracia.
* Professor de história aposentado
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Tião Aranha
01 de outubro, 2022 | 14:51Bom texto. Fake news deveria ser crime. Deveria ser mentira tb que se o PT, vencer, vamos ficar somente por conta de comer. Risos.”