29 de setembro, de 2022 | 01:00
Livros debatem o jornalismo e a democracia hackeada
Um cão late na noite” fala de jornalismo a partir da tragédiaO protagonista do romance Um cão late na noite” (Penalux), do professor e jornalista Sérgio Arruda de Moura, é atormentado pela ferida não cicatrizada da perda do filho de 11 anos, assassinado por outra criança. Joaquim de Assis - esse nome não é casual - tem dificuldade de viver suas memórias por nunca ter podido dar-lhes um termo, já que não houve nem havia como fazer justiça por ser o infrator um menor de idade”, explica Sérgio.
Analista do discurso e professor de pós-graduação na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em Campos dos Goytacazes (RJ), o autor apresenta em seu romance a história de Assis, que, 20 anos depois, revive a sua tragédia pessoal quando a jovem jornalista Isadora resolve desenterrar o caso. Mas por que alguém não buscaria a punição para o algoz do próprio filho?
Joaquim tem o perfil dos velhos jornalistas que, inspirados no iluminismo, acreditam na busca do bem pelo via da razão. Que país é esse que não consegue educar nem um menino?”, pergunta-se o protagonista imerso num mar de angústia. A obra discute as tecnologias, as mudanças no jornalismo, sua ética e desencantos. No desenrolar da história, bebemos e passeamos com Joaquim, um flaneur, no centro do Rio. Pegamos a barca e vamos para Niterói. Passamos pela Praia das Flechas e subimos a rampa que leva ao Museu de Arte Contemporânea. O leitor até imagina o barulho das ondas como paisagem sonora”, descreve o autor.
Arruda apresenta referências a Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Honoré de Balzac, Manoel Bandeira, Nelson Rodrigues e outros. Não faltam reflexões filosóficas, sociológicas e éticas. Da ecologia às questões de gênero, poucos temas atuais ficam fora do imaginário de Assis, nesta obra que fala de tragédia e medo, mas também de idealismo, amor e esperança. O livro tem 210 páginas.
Democracia Hackeada” debate a manipulação on-line de ideais
A revolução nas comunicações digitais - o colapso dos veículos de comunicação e a ascensão de plataformas tecnológicas hegemônicas como Google, Facebook e Twitter - vem maltratando as nossas eleições, derrubando candidatos convencionais e matando afogados os partidos de centro. Mais ainda, vem reestruturando a política, corroendo as instituições existentes e remodelando o papel de cidadão”.
O trecho escrito por Martin Mooree, diretor do Centre for the Study of Media, Communication and Power e conferencista sênior do Departamento de Política Econômica da faculdade Kings College de Londres, dá o tom sobre a abordagem do livro Democracia Hackeada: Como a Tecnologia Desestabiliza os Governos Mundiais”, publicado no Brasil pela Editora Hábito.
Na obra dividida em três partes e nove capítulos, o escritor explica como os cidadãos usam as ferramentas das redes sociais para incubar protestos e coordenar ações coletivas contra governos autoritários e autocráticos. Segundo ele, porém, ao desenvolver essas revoluções por meio da tecnologia, os governos democráticos aproveitam para usufruir dessas plataformas e se autopromover. Democracia Hackeada” é o panorama de um mundo em que cidadãos são reduzidos a dados e submetidos à análise e ao processamento de vigilância em tempo real, no qual o indivíduo está sujeito à criminalidade subentendida.
O especialista compartilha com o leitor como isso pode gerar consequências negativas no bem-estar social, na liberdade e privacidade dos usuários de redes sociais - pois, para Mooree, o celular causa mais impactos na vida das pessoas do que a mudança de governo. Pois, à medida que os usuários migram para a vida on-line, tornam-se cada vez mais vulneráveis às fake news, já que as plataformas digitais são construídas para conquistar a atenção com base no lance mais alto: manipular ideais. O livro tem 368 páginas.
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