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22 de setembro, de 2022 | 13:00

Precisamos falar, sim, de suicídio

Meire Rose Cassini *

Até poucos anos atrás, falar abertamente sobre suicídio era um tabu. Pairava no ar um medo, uma sensação de que tocar no assunto era um estímulo para que mais pessoas tentassem contra a própria vida. No entanto, apesar de ainda haver certo receio em falar sobre o tema, tem sido cada vez mais importante conscientizar, trazer à tona aspectos sobre o suicídio buscando romper os paradigmas e, possibilitando maior acesso às informações.

Ao tratar do assunto, buscamos, muitas vezes, identificar um único fator, no entanto, não existe uma explicação universal para o suicídio. Ele é um fenômeno complexo, multicausal, no qual estão inseridos os aspectos psicológicos, sociais, econômicos, biológicos, entre outros. Sem dúvida, se pode afirmar é que existe um forte sofrimento ligado ao indivíduo com intenção de suicidar-se.
Nessa perspectiva, os transtornos mentais, como a depressão tem sido um dos principais fatores de risco, reforçando a causa de tantas tentativas que são registradas em todo o mundo. A depressão, é uma doença psiquiátrica e deve ser tratada de acordo com cada caso.

Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com esse transtorno. Tal transtorno, causado por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos que apresenta diversos sinais e sintomas, sendo para cada pessoa diferenciada, que vai demandar avaliação de um especialista, médico ou psicólogo, sendo o tratamento de acordo também a cada caso, podendo alinhar medicamentos e processos terapêuticos.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) contou mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio encontra-se num nível de alerta tão grande que sua ocorrência supera, por exemplo, o número de mortes por HIV, malária e câncer de mama.

No Brasil, estima-se que 4% dos adolescentes apresentem sinais de depressão, doença que em muitos casos é o prenúncio para o risco de suicídio. Chama a atenção o fato de que a taxa de casos vem diminuindo em todo o mundo. Na Europa, por exemplo, houve uma queda de 47% nos últimos anos, contribuindo para a queda nos índices globais em 36%.

“Antes falar de suicídio era um tabu
e tratar a depressão como frescura
também era um hábito corriqueiro”


No entanto, as Américas se apresentam na contramão dessa queda. Contabilizando entre 2000 e 2019, houve um crescimento de 17% no número de casos de autoextermínio. E este motivo, obviamente associado aos casos ainda existentes mundo afora, é que justificam a existência de uma agenda fixa de conscientização contra o suicídio, no Setembro Amarelo. É o período em que se reforça sobre as ações em favor de pessoas com quadros alterações e/ou transtornos mentais, como a depressão.

No passado recente, aquele mesmo em que falar de suicídio era um tabu, tratar a depressão como “frescura” ou “falta de vergonha na cara” também era um hábito corriqueiro. Isso agravava as crises das pessoas que sofrem de transtorno mentais, acentuando ainda mais o sofrimento, seja pela própria doença, seja por não buscar ajuda, por medo, vergonha. Podemos afirmar categoricamente que o Setembro Amarelo, estabelecido no Brasil em 2015, contribuiu para conscientizar sobre a importância dos cuidados com a saúde mental durante todo o ano, e dar uma nova dimensão ao entendimento do que é a depressão. Há uma cultura de conscientização que leva familiares e amigos desses pacientes a se aproximarem nessas circunstâncias, a também buscarem ajuda e a estabelecerem uma rede de apoio.

Portanto, o Setembro Amarelo é, de antemão, uma conquista social, pois, de um lado busca mobilizar todas pessoas, familiares, órgãos públicos e profissionais para que possam fornecer suporte a quem está em sofrimento e com ideação suicida, e, de outro, também promover apoio e uma rede de cuidados às pessoas com algum transtorno mental, como, principalmente, a depressão. Há sempre uma grande expectativa de que os índices sejam reduzidos gradativamente, e essa esperança passa mais pela consciência e pelo amor, do que pelo desconhecimento e intolerância.

Assim, a importância de falar sobre o tema, conscientizando, rompendo tabus e paradigmas para que mais pessoas possam também falar sobre o que estão passando e buscar ajuda. A ajuda profissional a quem está em sofrimento, aos que vivenciaram próximo às pessoas que tentaram, o acolhimento da família, podem ser os primeiros remédios e podem salvar vidas.

E lembre-se, os cuidados com a saúde mental é durante todo o ano. Se suspeitar que esteja em depressão, faça uma avaliação com seu médico, ou psicólogo para receber os direcionamentos e tratamento de acordo com o seu caso. E, se precisar de ajuda, ou alguém que esteja precisando, direcione a uma unidade de saúde mais próxima de casa, em unidade de pronto-atendimento, num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), fale com seu médico e/ou com especialista em saúde mental, e no telefone 188 - CVV, que funciona 24 horas. Você não está sozinho.

* Psicóloga e gestora do Serviço de Psicologia do Hospital Felício Rocho - [email protected]

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Comentários

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Tião Aranha

22 de setembro, 2022 | 17:00

“O que está faltando no mundo não são ideologias dum partido, mas sim, solidariedade, despojamento e compaixão. Pois, as promessas que eles tanto apregoam não estão no coração, mas sim nos bolsos e para os bolsos deles, daí nasce o desespero dos jovens e a falta de crédito na fala dos políticos. Parece que no fundo, a morte oriunda de toda a violência tem lá as suas raízes nas entranhas eternas da corrupção, deste Deus que precisa ser sentido, e não visto. A morte do espírito que representa a depressão em que o espírito humano faz muito pouco merecimento e não tem justificado a razão de sua existência como necessidade do fortalecimento dessa aliança de Deus aqui na terra. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

22 de setembro, 2022 | 14:13

“"Se te queres te matar, por que não te queres matar?/ Ah, aproveita! que eu que tanto amo a morte e a vida,/ Se ousasse matar-me, também me mataria .../ Ah, se ousares, ousa!/ [ ... ] E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,/ Não saúdes como eu a morte em literatura!".”

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