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27 de agosto, de 2022 | 10:30

Proprietários de área rural em Santana do Paraíso relatam prejuízos que teriam sido ocasionados por lama


Alguns proprietários de área rural na localidade do Córrego Garrafinha (próximo ao aeroporto), em Santana do Paraíso, contabilizam prejuízos após uma enchente, ocorrida em janeiro. Romário Célio Costa Ribeiro e Felipe Alves Fabretti, que possuem sítio na região há aproximadamente 20 anos, relataram ao Diário do Aço que nunca antes os efeitos da chuva foram prejudiciais, o problema foi ocasionado pela lama acumulada no rio Doce, ainda com resquícios de metais, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.

Conforme relato deles, a enchente foi a primeira de maior magnitude pós-rompimento da barragem. “Estamos nas proximidades do rio, quando a água subia não havia problema, mas agora foi totalmente diferente, porque trouxe a lama da Samarco para dentro das propriedades e atingiu a gente de uma forma severa. Perdemos móveis, mas o principal foi a produção, como hortaliças, pomar... Perdi porque o barro veio e destruiu tudo”, lamenta Romário.

Ele acrescenta que foi preciso 36 horas de trabalho com máquina para limpar o estrago. “O barro veio por cima de pastagem, ficou 60 cm de barro. Desde o início estamos fazendo um trabalho de replantio e estamos prejudicados porque temos de buscar trato animal fora, no período de seca é muito caro, independentemente de estar caro ou não, é uma coisa que tínhamos dentro de casa”.

Prejuízos

Bruna Lage
Romário Célio Costa Ribeiro e Felipe Alves Fabretti contabilizaram prejuízos  Romário Célio Costa Ribeiro e Felipe Alves Fabretti contabilizaram prejuízos

No período de chuva, Romário teve de buscar silagem (capim armazenado) para os cavalos, pois o capim morreu, mas a silagem é, segundo o proprietário, perigosa para cavalo por causa de toxinas. “Resultado, perdi uma égua com valor imensurável e como a morte foi resultado de má alimentação, tive de levar todos os meus animais para o hospital, que fica em Matipó. Tive um gasto de mais de R$ 20 mil para não perder outro animal”, recorda.

Já Felipe relata que estava iniciando plantação no chão de hortaliças, fez análise da terra – pois ia plantar no chão, associado a hidroponia (sistema de cultivo dentro de estufa) e análise da água. “Faço isso de seis em seis meses, e como eu tinha esses dados, depois que veio a enchente analisei em uma empresa de geologia. O laudo concluiu que a lama prejudicou o solo e o lençol freático da região. A minha estufa perdi 100%, a estrutura está lá, mas o barro contaminou tudo”, aponta.

Ele destaca ainda que investiu mais de R$ 24 mil de aterro para montar a estufa, mas a lama entrou um metro e meio e devastou tudo. “Tenho uma casa construída a um metro do chão, nunca foi água lá, e dessa vez perdi tudo. Todas as vezes que havia uma chuva mais forte a água subia e descia com três dias, esse ano, como tinha muito sedimento, a correnteza não é rápida. Tudo que estava plantado morreu, meu cavalo foi o único que não vendi, as vacas vendi barato, meu sítio ficou completamente alagado”, conta Felipe.

Contaminação

Romário destaca que uma amostra de 1/03/2016, feita após o desastre de Mariana, apontava os níveis de alumínio, manganês e outros, e ainda não apontava contaminação. “Mas percebemos mau cheiro e em 2018, numa nova análise, percebemos que os níveis estavam alterados. Por exemplo, alumínio estava quase seis vezes a mais do que o permitido em portaria, o manganês com o dobro, o ferro com pouco mais de quatro vezes o limite permitido. Ou seja, o rio estava contaminado com metal pesado. Acredito que o barro elevou o nível do rio, que não está como antes e por isso entrou de forma violenta nas nossas propriedades”, avalia Romário.

Os dois aguardam uma resposta do que a Fundação Renova pode fazer em relação à situação vivida por eles. “Porque tentamos contato, mas as compensações realizadas são referentes aos estragos relacionados ao rompimento da barragem. Os problemas resultantes disso, como o de janeiro, não tem nada sobre”, concluem.

Rompimento

No dia 5 de novembro de 2015, aproximadamente às 15h30, aconteceu o rompimento da barragem de Fundão, situada no Complexo Industrial de Germano, no município de Mariana (MG). Além do crime ambiental, dezenas de pessoas morreram.

O empreendimento, sob a gestão da Samarco Mineração S/A, empresa controlada pela Vale S/A e BHP Billinton, estava localizado na Bacia do rio Gualaxo do Norte, afluente do rio do Carmo, que é afluente do rio Doce.

O colapso da estrutura da barragem do Fundão ocasionou o extravasamento imediato de aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e sílica, entre outros particulados, outros 16 milhões de metros cúbicos continuaram escoando lentamente. O material liberado logo após o rompimento formou uma grande onda de rejeitos.

À medida que a onda de rejeitos avançava pela calha do rio Doce, sua força inicial foi dissipando, gerando, nesse trajeto, danos associados à poluição hídrica, mortandade de animais e à interrupção do abastecimento e distribuição de água em vários municípios, como Governador Valadares (MG), Baixo Guandu (ES) e Colatina (ES).

Posicionamento

Em resposta ao Diário do Aço, a Fundação Renova ressaltou que os efeitos e os materiais carreados durante os eventos de inundações refletem essencialmente as características da própria bacia do rio Doce. Os solos de toda a bacia estão submetidos a processos históricos de degradação e erosão, potencializando a produção de sedimentos que acabam sendo carreados durante as cheias.

“É importante destacar que a produção de sedimentos da própria bacia já é da ordem de milhões de toneladas por ano, ou seja, o rio e as planícies recebem naturalmente uma contribuição significativa de sedimentos durante as cheias. Desde 2016, a ANA (Agência Nacional das Águas) e o CPRM (Serviço Geológico do Brasil) emitiram relatórios que demonstram que a deposição de material oriundo do rompimento da barragem de Fundão não tem o potencial de alterar os efeitos de inundações de regiões que margeiam o rio Doce”, frisa.

Durante a chuva de janeiro de 2020 e 2022, foram realizadas coletas da lama depositada em diversos pontos dessa mesma região. Os resultados das análises não indicam, segundo a Fundação Renova, impactos associados aos rejeitos provenientes da barragem de Fundão. Também não foram observadas concentrações de metais superiores em comparação a legislação e outros estudos realizados antes do rompimento.

“A Fundação esclarece que o rejeito da barragem de Fundão não possui característica de toxicidade e é um subproduto do processo de beneficiamento de minério de Ferro, extraído de rochas naturais da bacia e não envolve modificações em sua natureza química”, conclui.
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Comentários

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Luana Lorena

22 de julho, 2024 | 16:54

“Uma lástima...”

Bob.

27 de agosto, 2022 | 20:02

“A indenização era pra guardar e se sustentar um bom tempo , até normalizar ou amenizar essa situação da tragédia .
Tem gente que comprou carro zero , moto , e outras coisas mais .
Agora querem mais dimdim .
Um dia o poço seca .”

Velhaco Esperto

27 de agosto, 2022 | 17:12

“Moro no trigésimo andar de um prédio aqui em Ipada e também fui atingido, descobri ontem. Kkkkkk! Vai trabalhar moçada.”

Edimar Silva

27 de agosto, 2022 | 11:18

“Não sei não, mas acho que está querendo entrar no bolo da galera que recebeu 90 mil . Devido as explanações aí, qualquer advogado multiplica isso por 10 vezes. Aí saí todo mundo feliz.”

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