21 de agosto, de 2022 | 09:00

BR-381: o pesadelo dos caminhoneiros do Vale do Aço

Dois motoristas, que estão na profissão há mais de 20 anos, contaram à reportagem do Diário do Aço quais são as dificuldades enfrentadas ao trafegar pela rodovia

Quem já passou pela BR-381 sabe que a estrada não ganhou o título de “Rodovia da Morte” à toa. Se transitar por ela, ocasionalmente, já é um drama, imagina então para quem precisa girar pela BR-381 com frequência, melhor dizendo: pelo menos duas vezes por semana, e ainda transportando alguma carga. É o caso de muitos caminhoneiros.

O Diário do Aço ouviu dois profissionais que moram em Timóteo, e que conhecem bem os gargalos do trecho que liga o Vale do Aço à capital mineira. Com mais de 20 anos atuando como caminhoneiros, eles compartilharam um pouco dos desafios, dos medos e dos problemas que encontram em meio ao trajeto.

Jakson Caetano da Silveira Almeida é um deles. O caminhoneiro tem 22 anos de profissão, transporta carvão, cal virgem e calcário agrícola e passa pela BR-381 ao menos quatro vezes por semana. José Alves de Lima Filho, que dirige caminhão há 25 anos e carrega minério de ferro e escória de aciaria, também deu seu relato. Ele também conhece com riqueza de detalhes o trecho, pois passa por ele pelo menos duas vezes por semana.

Pontos negativos

Os dois caminhoneiros não tiveram dúvidas e nem dificuldades para elencar quais eram os pontos negativos da rodovia. José Alves foi sincero: “Para mim, o trajeto todo de Ipatinga a Belo Horizonte é só ponto negativo, são curvas, buracos, é uma estrada muito ruim que traz muitos danos ao meu caminhão”. O outro entrevistado também não amenizou: “O traçado dela é muito sinuoso, e com alto índice de acidentes porque são muitas curvas acentuadas”, apontou Jakson Caetano.

Dificuldades

Com tantos pontos desfavoráveis, os caminhoneiros enfrentam muitas dificuldades ao viajar. E a maior delas é, com certeza, o estado de conservação da pista, que torna a jornada bastante instável. “O primeiro ponto é a danificação que a via está, a via está precária. A BR está acabada”, definiu Jakson Caetano. O outro profissional concorda com o colega. “O asfalto é muito ruim de trafegar. Quando não são os buracos, são aqueles ‘caroços’ formados quando eles tapam os buracos, que é muito ruim para o caminhão”, lembrou José Alves.

Prejuízos

E se tem fendas, orifícios e buracos espalhados pela via, consequentemente tem prejuízos, e que pesam muito no bolso desses motoristas. Os dois caminhoneiros contaram que precisam arcar com reparos nos veículos. “Eu quebrei duas molas do meu caminhão lá em Caeté, me gerou um custo de R$ 3.400, mais a mão de obra, deu R$ 3.600”, contabilizou Jakson Caetano. José Alves também não está fora do barco. “A BR traz muitos prejuízos, danificando os pneus, amortecedores, e cabine, amortecedor de cabine...”, lista.

Acidentes


Não bastassem os impactos no bolso, os caminhoneiros também convivem com o risco iminente de acidentes, como recorda José Alves, em um episódio que o marcou bastante. “Entrei em uma curva, um buraco enorme, não dei conta de tirar o veículo e bati no buraco, amassei a roda, estourei pneu, quase que ainda vou com meu caminhão carregado em cima de um veículo com uma família dentro. Foi por pouco essa”, contou aliviado.

Duplicação

A qualidade do trabalho executado nos trechos já duplicadas da BR-381 também não agradou a alguns profissionais da estrada. Jakson Caetano fez questão de enfatizar que em alguns pontos o concreto já está danificado. “Está afundando tudo, deixando ponta. Tem lugar aqui, que já tem entre 10 a 14 cm afundando. Isso causando risco seríssimo de acidente”, alertou o caminhoneiro, que também está preocupado com a chegada do período chuvoso. “Se chover, igual choveu no ano passado, com certeza nós vamos ter muita dificuldade. A chance de nós não conseguirmos trafegar na BR-381 vai ser muito grande”, disse.

Soluções

Ao serem questionados sobre as melhorias no trecho, cada profissional seguiu um caminho. José Alves foi mais objetivo: “Duplicar toda a BR e diminuir algumas curvas”, sugeriu. Jakson Caetano pediu mais: “Dar manutenção e os reparos necessários que precisam naqueles pontos que já estão duplicados e dar uma manutenção no traçado antigo da rodovia”, recomendou. Ele também acredita que seria interessante construir um ponto de parada para descanso dos motoristas.

Resposta Dnit

As observações feitas pelos profissionais em relação à BR-381 foram repassadas ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em nota, o órgão informou que que mantém contrato de manutenção rotineira em todo o segmento. “Que inclui tapa-buracos, manutenção dos dispositivos de drenagem, além de roçada da vegetação às margens da rodovia”, diz o texto. Esclareceu ainda que, nos trechos duplicados, ainda serão realizados alguns serviços, como de cepilhamento (método utilizado para eliminar ondulações do pavimento).

Concessão

No dia 3 deste mês, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou a audiência pública para tratar sobre a concessão da BR-381, que ainda será marcada, assim que o edital for publicado. Na oportunidade, foi apresentado o projeto, no qual consta cinco praças de pedágio ao longo da rodovia, de Governador Valadares até Belo Horizonte, com tarifas que variam entre R$ 10,79 e R$ 13,80.

O projeto prevê que cinco praças de pedágio poderão ser instaladas nos seguintes municípios: Caeté (R$ 13,80), João Monlevade (R$ 11,52), Jaguaraçu (R$ 13,40), Belo Oriente (R$ 10,79) e Governador Valadares (R$ 11,24). Com isso, um motorista poderá gastar com pedágios, numa viagem de ida e volta entre Ipatinga e Belo Horizonte, quase R$ 80.

Conforme o projeto, estão previstos investimentos de R$ 5,5 bilhões nos 304 km da rodovia, para adequação do traçado e duplicação de alguns trechos.