19 de agosto, de 2022 | 13:00

Polos EADs são as novas paleterias

Antonio Gelfusa Junior *

Nos últimos 10 anos o número de ingressantes na modalidade EAD quadriplicou e, desde fevereiro de 2022, são mais alunos no modelo à distância em relação aos do presencial. Essa marca estava prevista para ser atingida apenas em 2025, mas com a pandemia, o processo foi acelerado. Temos visto uma franca expansão das unidades educacionais transformando – o que deveríamos chamar de escolas de ensino superior – em polos comerciais de educação à distância. São muitas marcas de instituições buscando este posicionamento: Anhembi Morumbi, Cruzeiro do Sul, FMU, Estácio, entre outras.

Algumas escolas de menor porte no segmento também disputam esse share digital. Acontece que muitos desses polos, além de não ter o preparo e infraestrutura para receber público, não contam com a presença de coordenadores pedagógicos ou professores – a tal equipe técnica – na maior parte do tempo. Isso sem falar que o espaço de uma universidade deve oferecer ao estudante a convivência com outros colegas, interação com demais cursos, desenvolvimento político e civil, identidade de grupo, amadurecimento das relações humanas, entre outras situações que são impossíveis de acontecer – com a profundidade necessária – através de uma tela de computador. É triste saber que estamos chamando de escola um lugar sem os itens imprescindíveis acima.

Destacadas marcas líderes do cenário educacional também adotaram um modelo híbrido (parte presencial e parte EAD). Uma forma de encaixar um percentual das aulas no formato online, reduzir fluxo de alunos, otimizar custos e escalar o potencial de vendas. Ninguém gosta de comentar, mas os percentuais de audiência das aulas online são desastrosos. Os alunos em boa parte das vezes não estudam e fazem avaliações copiando as respostas em uma aba paralela no Google – isso quando o fazem. Nas especializações EAD o horizonte já é diferente. Essas sim contam com números de melhor performance – até mesmo por conta da idade e a maturidade do indivíduo matriculado. De qualquer forma, a verdade é que esse modelo atual não consegue entregar educação de qualidade.

"Ninguém gosta de comentar, mas os percentuais de audiência das aulas online
são desastrosos.Os alunos em boa parte das vezes não estudam e fazem avaliações
copiando as respostas em uma aba paralela no Google – isso quando o fazem"


E quanto aos docentes neste novo cenário? Ora, a maioria deles são alocados em condições de remuneração cada vez mais ofensivas, vendendo — numa única vez — o direito autoral de seus conteúdos para as aulas digitais que podem ser transmitidas para milhares de pessoas. Quem lucra de verdade são as instituições é claro — que atualmente estão mais preocupadas em abrir capital na bolsa do que entregar um ensino responsável. O Brasil sempre viveu a febre de empresas “modinha” em nosso modelo econômico volátil. Já foi a época de ter em cada esquina hamburguerias, temakerias ou mesmo as famosas paleterias mexicanas. Parece que chegou a vez das “EADerias”!

Devido à falta de estrutura e qualidade nos ambientes digitais e presenciais, fica muito difícil acreditar que o final desta saga será de bonança. O mais provável é o natural definhamento que já aconteceu com outros segmentos, inclusive. Historicamente só resistiram a esse tipo de explosão comercial empresas de trabalho sério, onde a qualidade ficou à frente da lucratividade desenfreada. Nossa educação, que nunca foi das melhores, infelizmente deve assistir — e de camarote — um dos tempos mais tristes na formação de profissionais da história.

*Publicitário, especialista em educação de ensino superior e professor do SEBRAE-SP.

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

19 de agosto, 2022 | 15:33

“Segundo o escritor Luís Carlos Amorim, em um excelente artigo, publicado ontem neste Portal Diário do Aço, "Educação é tudo". Mas com Qualidade. O que, pelo que parece, estas "novas paleterias" não conseguem, em sua grande maioria, oferecer. E para piorar, o que sempre foi ruim, os cursos mais procurados são os de Pedagogia e de Licenciaturas, ou seja, formação de professores. É preciso dizer mais?! Isto é um círculo vicioso! Isto é uma bola de neve! (favor não confundir com a Igreja). Isto é um efeito dominó! etc.
Por isso, insisto, só produz qualidade, quem tem qualidades.”

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