14 de agosto, de 2022 | 07:25

Brasileiro recorre ao conhecido ''bico'' para complementar a renda

O resultado da pesquisa “Cidades Sustentáveis: Desigualdades” foi divulgado nesta semana

Tânia Rêgo/Agência Brasil
 Dentre as atividades realizadas, foi citado o ''bico'' na área de serviços da beleza, com 5% Dentre as atividades realizadas, foi citado o ''bico'' na área de serviços da beleza, com 5%
(Stéphanie Lisboa - Repórter do Diário do Aço)
Contas chegando, alimentação mais cara e salário baixo. A soma desses e outros fatores econômicos tem feito com que muitos trabalhadores do país recorram ao popular “bico”, trabalho informal, para garantir o sustento da família.
Uma pesquisa realizada pela empresa Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), revelou que 45% dos brasileiros precisaram fazer atividades extras para complementar sua renda no último ano.

O resultado da pesquisa “Cidades Sustentáveis: Desigualdades” foi divulgado nesta semana. A sondagem nacional buscou levantar a percepção da população sobre as desigualdades presentes no país. Foram realizadas duas mil entrevistas, de forma presencial, em 128 municípios, nas cinco regiões do país, entre os dias 1 e 5 de abril de 2022.

“Bicos”
Praticamente a metade dos brasileiros precisou trabalhar um pouco mais para garantir o recurso financeiro. Destaque para área de serviços gerais (faxina, manutenção, marido de aluguel), que ocupou a primeira colocação no ranking dos bicos mais citados, com 13%. Em seguida veio a produção de alimentos em casa para revender (8%) e a venda de roupas e outros artigos usados (6%).

Fome e pobreza
As respostas mostraram também que 74% dos brasileiros perceberam o aumento no número de pessoas em situação de fome e pobreza nos últimos 12 meses. Os desafios para prover a alimentação também foram notados na pesquisa. Pelo menos 47% dos entrevistados disseram ter visto ou conhecer pessoas com dificuldade para comprar alimento.
Arquivo pessoal
''Hoje nós vivemos um processo muito mais acelerado de aumento da desigualdade'', afirmou o professor de Sociologia da UFMG, Jorge Alexandre Neves''Hoje nós vivemos um processo muito mais acelerado de aumento da desigualdade'', afirmou o professor de Sociologia da UFMG, Jorge Alexandre Neves


Desigualdade e empobrecimento
Para o professor titular de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jorge Alexandre Neves, a pesquisa revela a desigualdade social do país. “Uma sociedade com forte desigualdade e em processo de empobrecimento”, afirmou.

O especialista avalia este contexto como consequência, do que ele chama, de destruição do mercado de trabalho. “Toda esta situação é um resultado do processo de destruição das proteções no mercado de trabalho no Brasil. As seguidas reformas trabalhistas. A gente está tendo uma reforma trabalhista no gerúndio, né? Porque ela não para”, declarou.

Crescimento da desigualdade x políticas sociais
Jorge Alexandre foi enfático ao dizer que, hoje, o Brasil vive o maior crescimento da desigualdade da sua história. “O pessoal cita que foi terrível o crescimento da desigualdade dos governos da ditadura militar. E é verdade, mas hoje nós vivemos um processo muito mais acelerado de aumento da desigualdade”.

O sociólogo atribui esse crescimento rápido da desigualdade no país a dois fatores. “O crescimento na informalidade e a precarização do mercado formal é o principal fator. Em segundo lugar a desestruturação das políticas sociais. Então você tem aí questão do mercado de trabalho e a questão das políticas sociais como principais razões”, explicou.

Solução
Por mais que a situação seja desafiadora, o especialista afirma que existem medidas que podem ser executadas para reverter o cenário. “Você precisa de boas políticas sociais e de desenvolvimento econômico focado na elevação da renda da população, a capacidade de consumo das famílias. Focado na melhoria da renda da população”.

Salário mínimo
O professor compreende que o caminho para redução da desigualdade está atrelado a uma retomada da política de elevação do valor real do salário mínimo a cada ano. “O salário mínimo é um salário de referência muito importante, ele regula toda estrutura salarial, de metade ou mais da população economicamente ativa. Ou seja, quando você empurra o salário mínimo para cima, você empurra a estrutura salarial como um todo para cima, aumentando a participação da massa salarial na renda nacional”, defendeu.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário