10 de agosto, de 2022 | 14:00
Epidemia do coronavírus acelera epidemia de obesidade infantojuvenil
Leonardo Salles de Almeida *
O ganho de peso entre crianças e adolescentes dá sinais de alerta global há algumas décadas. Porém, o quadro se agravou nos últimos dois anos, com a pandemia da covid-19. É o que indica estudo da revista norte-americana Jama, realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan com 191 mil crianças e adolescentes dos Estados Unidos.Na faixa etária de 5 a 11 anos, o índice de sobrepeso e obesidade saltou de 36,2%, em março de 2019, para 45,7%, em janeiro de 2021, uma média de 2,3 quilos a mais por criança. Os percentuais com Índice de Massa Corporal (IMC) também ficaram bem acima do ideal entre adolescentes. De 12 e 15 anos, o índice subiu de 38,7% para 43,4%, com ganho médio de 2,31 quilos; já entre 16 e 17, foi de 36,5% para 38,2%, com média de 1 quilo a mais na balança.
Segundo os pesquisadores, esse preocupante cenário está associado ao aumento do sedentarismo, indiretamente provocado pelo isolamento. Simultaneamente, a qualidade da alimentação também piorou, com a disseminação da ingestão de calorias vazias, os alimentos de baixo valor nutricional e alto índice de gordura e açúcar, representado pelos práticos pedidos de lanches e pizzas por delivery e os alimentos ultraprocessados, como biscoitos, macarrão instantâneo, sorvetes, salgadinhos de pacote, pratos industrializados congelados e sucos prontos.
Infelizmente, se não mudarmos nossos padrões de alimentação,
daqui a menos de dez anos, o Brasil poderá ser o quinto país
com o maior número de crianças e adolescentes obesos”
No Brasil, os dados mais recentes do ganho de peso em crianças e adolescentes são preliminares à pandemia. Mas não há risco em dizer que a tendência de alta global se repete por aqui, acompanhado pela repetição de comportamentos. Em 2019, já tínhamos 30,8% de crianças e 31,4% de adolescentes em situação de sobrepeso e obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde. Agora, tudo indica que vivemos um cenário ainda pior, com maior risco à saúde coletiva por várias décadas adiante, com aumento dos riscos do desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, colesterol, AVC e determinados tipos de câncer, como o de estômago. Isso sem falar dos quadros de baixa autoestima e estado depressivo.
Infelizmente, se não mudarmos nossos padrões de alimentação, daqui a menos de dez anos, o Brasil poderá ser o quinto país com o maior número de crianças e adolescentes obesos, segundo previsão tenebrosa, mas bastante realista da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Virar este jogo exige implementar drásticas mudanças de hábito na rotina infantojuvenil. Dentre eles, atividade física regular por pelo menos 30 minutos diários, cinco vezes na semana , restrição de alimentos de alto valor calórico e baixo valor nutricional, controle das porções de alimentos saudáveis, porém calóricos como pães integrais e castanhas , e aumento da ingestão de legumes, verduras, frutas e de refeições com preparos mais naturais.
Agora, tudo indica que vivemos um cenário ainda pior, com maior risco à saúde
coletiva por várias décadas adiante, com aumento dos riscos do desenvolvimento
de doenças como diabetes tipo 2, colesterol, AVC e determinados tipos de câncer”
Em casos crônicos, a criança e o adolescente obesos também podem necessitar do acompanhamento de psicólogo, para tratar de possíveis compulsões alimentares, ligadas à ansiedade. Medicações devem ser usadas para essa faixa etária somente depois de frustradas todas as alternativas, digamos, orgânicas”. Recursos como o balão intragástrico e a cirurgia bariátrica só são permitidas no Brasil a adolescentes acima de 16 anos, sempre com exames acurados e atendimento médico especializado em obesidade.
Também é fundamental que as autoridades criem políticas públicas de ataque à obesidade infantojuvenil, com planos de alimentação equilibrada nas escolas, leis mais rígidas para a indústria alimentícia e serviços de saúde gratuitos a crianças e adolescentes acima do peso. Para o seu próprio bem coletivo, o país precisa se conscientizar desta verdadeira epidemia de obesidade precoce, que pode comprometer seriamente o futuro.
*Médico cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo do Instituto Mineiro de Obesidade (IMO) - [email protected]
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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