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09 de agosto, de 2022 | 13:00

Belô e Caê...

Nena de Castro *

Nesse fim de semana fui lá. Tomei o buzu e torci pra não dar biziu na estrada. Afinal, a gente sai, mas a que horas chegará, não se sabe. Essa estrada é de morte, em todos os sentidos. De certa feita a viagem durou 9 horas. Todo mundo desesperado dentro do ônibus, as crianças inquietas e aí comecei a contar Histórias e a magia se fez. Desde 2019 eu não ia lá. Então resolvi ir, ver se tudo estava no lugar. Estava sim, ruas sujas e fedidas ali no centro e um número cada vez maior de pessoas deitadas nas calçadas. Mas o horizonte continua belíssimo, como a dar um laivo de esperança aos mortais. Fui em busca de uma feira de livros na Savassi, mas achei foi a feira de plantas decorativas e um músico muito bom, cantando ao ar livre. Eu me assentei junto aos outros e viajei pelas canções lindas, atemporais, observando as folhas levadas pelo vento que por ali brincava e a expressão de emoção e alegria das pessoas. Ah, se tivéssemos Poesia e Música por todo canto, o riso se multiplicaria e a alegria seria a parceira, ao invés de tristeza, violência e medo. E então seríamos felizes e as menininhas poderiam comprar pão e voltar para casa sem que o Lobo Mau as atacasse, ceifando sua vida.

No domingo, volto pros meus ovos de urubu e meu Papai Noel, feliz por reencontrá-los, rindo da bobice de fotografar tudo que comemos fora de casa para dar inveja. Fui no Vila Árabe, a comida libanesa estava um must, honrei a cidadania libanesa concedida pela embaixatriz Vera TufiK...

À noite, show de 80 anos do Caetano, chorei de emoção ao ouvir certas melodias, ao me lembrar de anos duríssimos pelos quais passamos, o medo e o terror no coração e aquele rapazinho baiano magérrimo, cutucando a onça, “caminhando contra o vento” e contra a ditadura, eitaaaaaa!

E eu que pensava que ”eles” o fariam “sumir” como tantos e ele cantando o verso de Maaikóvski “que gente é pra brilhar, não pra morrer de fome, Que Irene ri, que uma criança sorridente feia e morte, estende a mão, em Tropicália; a melancolia de London , London. A inovação de Alegria, Alegria, Tropicália, Podres Poderes, Um Indio, Sampa, Oração ao Tempo, Língua” e tanta coisa boa mais, num brado vanguardista contudo enraizado em nossas belezas!

O rapazinho tinha coragem, desafiava os padrões com sua música, apresentava-se de saia, boca pintada de batom vermelho...Foi preso com Gil, cabeça raspada, solto, foi para Santo Amaro, não podiam cantar e nenhum jornal do país podia noticiar o fato. Exílio em Londres. E o talento sendo derramado com a dialética, a nova estética, a inovação musical somada ao amor às raízes. Viveu seus amores como quis, amou a quem amou e pronto! Ainda bem que não desapareceram com vc, Caê!

Quem me faz delirar com OS VERSOS ABAIXO, SÓ PODE SER UM MAGO, UM POETA MAIOR!
Luz do sol
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça, em vida, em força, e luz!

E:
tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior (oh, oh, oh, oh)
Com todo o mundo podendo brilhar num cântico (oh, oh, brilhar num cântico)
Canto somente o que não pode mais se calar (oh, oh, oh, oh)
Noutras palavras sou muito romântico.
E nada mais digo a não ser obrigada pelas lindas canções, por ter nos ensinado a resistir, por toda Poesia que nos legou Caê!

*Escritora e encantadora de historias

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

09 de agosto, 2022 | 21:13

“Sr. Tião Aranha, há exatos 25 anos, morreu Betinho, em 9/8/1997. O irmão do Henfil, cantado por Aldir Blanc e João Bosco, na belíssima canção "O bêbado e a equilibrista". Com a Elis, é maravilhosa!”

Tião Aranha

09 de agosto, 2022 | 14:10

“Excelente revisão histórica, hoje o homem não vale mais por aquilo que ele faz. O mundo está muito carente de Paz. Rejeição se faz com a ação urgente de rejeição a todos os absurdos que a gente vê. Há 25 anos o sociólogo Betinho criava uma ONG de ação comunitária de cidadania que alertava sobre as consequências da Fome. Parece que foi em vão. Pelo visto, a pior recondução é a do Cristo pregado na cruz. Risos.”

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