07 de agosto, de 2022 | 07:30

Lei Maria da Penha completa 16 anos

Criada após a luta de uma brasileira por justiça, a lei se tornou referência em todo o mundo no combate à violência contra a mulher

Bruna Lage
São várias as formas de agressões contra a mulher, a violência física é a mais conhecida São várias as formas de agressões contra a mulher, a violência física é a mais conhecida
(Bruna Lage - Repórter do Diário do Aço)
Neste domingo, 7 de agosto, completa-se 16 anos da criação da Lei Maria da Penha (11.340, de 2006). A legislação recebeu esse nome em homenagem à farmacêutica bioquímica que ficou paraplégica devido às agressões sofridas em 1983 do então marido. Somente em outubro de 2002, a seis meses do prazo de prescrição do crime (Maria foi vítima de dupla tentativa de feminicídio), o homem foi condenado e preso, mas cumpriu apenas dois anos (um terço) da pena e acabou solto em 2004. A delegada de Mulheres de Ipatinga, Ana Paula Passagli Cruz, faz um alerta para que as denúncias sejam realizadas.

Para Ana Paula, a lei Maria da Penha representou um importante marco jurídico na defesa dos direitos da mulher, criando instrumentos de proteção e de acolhimento emergencial, oferecendo mecanismos para acolhimento psicológico e social. “A cada ano que passa a lei é aperfeiçoada, surgiram novas figuras típicas, mais facilidades para a mulher denunciar, bem como qualquer pessoa que tenha conhecimento do crime”, aponta.

A delegada pontua que são várias as formas de agressões contra a mulher, sendo a violência física a mais conhecida. “Porém, a violência psicológica é a que vem sendo mais divulgada. Temos também a violência patrimonial e a violência moral. As causas são complexas e envolvem problemas pessoais, conjugais, familiares, sociais, sendo que devem ser considerados diversos fatores no enfrentamento da violência doméstica. Esta é uma questão tanto familiar, quanto social, e muitas vezes depende da intervenção de terceiros, seja de vizinhos, amigos, parentes ou do poder Público”, destaca.

Medidas
A Lei Maria da Penha é considerada legislação de referência em todo o mundo no combate à violência contra a mulher. Entre outros aspectos, tipificou a violência doméstica como uma das formas de violação aos direitos humanos e determinou que os crimes relacionados passassem a ser julgados em varas especializadas, com competências criminal e cível.

Anteriormente a violência doméstica estava sendo julgada nos juizados especiais criminais (que decidem sobre crimes de menor potencial ofensivo), também conhecidos como varas especiais de pequenas causas, mas o rito acelerado acabava levando à impunidade. Os agressores eram, na maioria das vezes, condenados a pagar por seus crimes com penas alternativas, entre as quais a distribuição de cestas básicas a entidades voltadas a pessoas carentes.

Proteção também ao homem
“As medidas protetivas de urgência são um mecanismo de proteção à mulher vítima de violência doméstica, porém, existem alguns casos em que são deferidas também para o homem, dependendo do caso e a critério da Justiça. Para todas as mulheres vítimas de violência doméstica e a qualquer pessoa que presencie algum fato dessa natureza, o recado que deixo é: ‘o silêncio também mata. Não se cale. Denuncie’”, alerta a delegada.

Numa decisão ocorrida em Cuiabá e considerada inovada à época (2008), a sentença foi aplicada por analogia para proteger o homem. O entendimento foi do juiz Mário Roberto Kono de Oliveira, do Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabá. Ele acatou os pedidos do autor da ação, que disse estar sofrendo agressões físicas, psicológicas e financeiras por parte da sua ex-mulher.

Manual
Em março desse ano a Polícia Civil de Minas Gerais lançou um Manual Básico de Enfrentamento da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, material que pode ser consultado no site da PC. O documento esclarece como identificar um relacionamento abusivo e os tipos de violência, como identificar as três principais fases do ciclo de violência, como registrar a ocorrência policial, além do atendimento da mulher vítima de violência doméstica e familiar.

Denúncias
As denúncias nesse sentido podem ser feitas por meio dos canais 181, 180 e também pelo Disque 100. Outros dois mecanismos são a Delegacia Virtual e o atendimento presencial na Delegacia de Mulheres de Ipatinga, situada na rua Pedras Preciosas, 755, bairro Iguaçu.

Vítimas de feminicídio no Brasil



O número de vítimas de feminicídio, que é o assassinato de mulheres cometido em razão do gênero, caiu 1,7% no país em 2021, se comparado a 2020. Este dado é do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O estudo se baseia em informações das secretarias estaduais de segurança pública.

No ano passado, cerca de 1.340 mulheres morreram por serem mulheres, enquanto em 2020 o número de vítimas foi pouco mais de 1.350. O anuário mostra que, no Brasil, uma mulher é vítima de feminicídio a cada sete horas. Isto significa dizer que ao menos três mulheres morrem por dia simplesmente por serem mulheres.

Mesmo com a queda, os números ainda são altos e vêm acompanhados pelo crescimento de outros tipos de violência contra mulheres, como lesão corporal dolosa, ameaças, estupros e emissão de medidas protetivas.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Terezao

07 de agosto, 2022 | 22:50

“Essa lei funciona bem no papel.mas na prática desastre até posso dizer que depois de criar a lei tem muito mais violência agora não só espancam como batem mas agora adotaram mesmo foi o homicídio contra mulheres tem morrido pessoas da classe feminina todos os dia por violência doméstica então está lei é apenas mas uma que só tem efeito no papel porque na prática nunca funcionou é o fim uma lástima na verdade Brasil se tornou a muito tempo país sem lei e a verdade.”

Celio Cunha

07 de agosto, 2022 | 10:54

“Bom dia a todas e todos, afinal a violência doméstica e familiar não se trata apenas de questão jurídica mas muito mais social, e pensando assim, sabemos da responsabilidade de todos denunciar esse terrível mal social. A Lei 13. 340 'Maria da Penha '' é considerada uma das mais avançadas do mundo com relação à proteção da mulher, como afirmado pelo fundo de desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher- Unifem. Contudo, a totalidade da lei ainda não foi exaurida pelo sistema de proteção - a falta de instalação de Varas especializadas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nas diversas comarcas brasil a fora, causa e muito prejuízo às vítimas que se veem obrigadas em conviver com o medo e o risco de morte por parte dos seus agressores - Uma vez que a instalações desses órgãos específicos trariam mais agilidades nas medidas de proteções às vítimas . Sobre a analogia sem comentário vez que a Lei é um marco em defesa das mulheres vítimas de uma sociedade machistas e patriarcais .”

Gildázio Garcia Vitor

07 de agosto, 2022 | 10:27

“O que adianta ter Lei, da Penha ou outra qualquer, se não tem punição "verdadeira"?

"Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento de Justiça", já disse Ruy Barbosa.”

Envie seu Comentário