13 de julho, de 2022 | 06:00

Tragédias da mineração no Brasil expostas em obras de arte na Alemanha

Existe uma triste conexão entre Brumadinho e Munique, cidades separadas por 9.390 quilômetros de distância. É na cidade alemã que está a sede da Tüv Süd, empresa que certificou a segurança da barragem B1 meses antes do seu rompimento, no município de Minas Gerais.

Fotos: Divulgação
''Paisagens Mineradas'', de Isadora Canela, é uma das obras exibidas ''Paisagens Mineradas'', de Isadora Canela, é uma das obras exibidas

Para, justamente, pensar sobre as tragédias da mineração, Isadora Canela, Lis Haddad e Thais Paiva Machado realizaram, em 25 de julho, em Munique, a exposição Over (The) Mine. Os trabalhos convidam o público a refletir sobre as profundezas obscuras da mineração e a partir daí redesenhar os mapas de destruição para abrir espaços para outras realidades.

Desenvolvidas especificamente para Munique, as obras chegam ao público na cidade onde acontece o julgamento de um dos crimes humanos e ambientais mais graves da história recente. Tramita, na justiça da cidade, duas ações de familiares de vítimas do rompimento da barragem. Os familiares buscam na justiça alemã punição da empresa e responsabilização de seus executivos. No judiciário da Alemanha há, também, outras ações de familiares, aguardando audiências e decisão final.

Artista Lis Haddad bordou numa cortina-rio os nomes das 272 vítimas fataisArtista Lis Haddad bordou numa cortina-rio os nomes das 272 vítimas fatais
A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) marcou presença na exposição por meio da leitura de uma carta dirigida às artistas e ao público, reforçando a importância das manifestações artísticas que expõem crimes e despertam a indignação.

“Ficamos gratos e sensibilizados com o tema escolhido para esta exposição que toca nossos corações, celebra a memória e nos desafia, juntos, a desmontar as estruturas do poder econômico e a engrenagem predatória das empresas mineradoras”, diz o texto, assinado pela diretoria da entidade.

A associação afirmou, também, que a exposição estimula a realização do Projeto Legado de Brumadinho (*). “É um movimento que busca tocar toda a sociedade, todos os que nos ouvem pelo Brasil afora e pelo mundo. O convite que fazemos é: escutem a nossa voz e gritem conosco. Aqui em Munique, nesta exposição, sentimos que nossas vozes estão presentes”, destacou. A exposição é uma iniciativa da Ebenböckhaus, residência de artistas em Munique mantida com recursos públicos da cidade.

272 vidas representadas na instalação ''Be an?'', com pés de feijão272 vidas representadas na instalação ''Be an?'', com pés de feijão
Valor da vida
A multinacional alemã é citada mais de mil vezes no relatório final da CPI da Câmara dos Deputados que apura as responsabilidades sobre a tragédia de Brumadinho. Na página 561, uma passagem chama a atenção: “Vê-se, portanto, que a Tüv Süd não demonstrou nenhum intuito de colaborar com as investigações dos fatos; ao contrário, age deliberadamente no sentido de dificultar qualquer tentativa de elucidação dos fatos que levaram à morte centenas de pessoas em Brumadinho”.

“É preciso reafirmar e reforçar a cultura do valor à vida humana e da preservação do meio ambiente. Essa é uma das maneiras de honrar a memória das 272 pessoas que morreram no rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão. O valor da vida, sempre em primeiro lugar”, reforçou a produção.

(*)Projeto realizado com recursos destinados pelo Comitê Gestor do Dano Moral Coletivo, pago a título de indenização social pelo rompimento da Barragem em Brumadinho, em 25/1/2019, que ceifou 272 vidas.
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