05 de julho, de 2022 | 15:25

Os lamentos da mãe d'agua...

Nena de Castro *

Conta uma lenda capixaba, que na época do “descobrimento”, um navio holandês naufragou perto de Meaípe. O naufrágio teria sido causado por um ser fantástico, conhecido como IPUPIARA, que era também chamado de homem-marinho e seria uma espécie de monstro do mar; ele fazia parte da mitologia dos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no século XVI. Segundo a crença popular, ele atacava as pessoas e comia partes de seus corpos. O ser mítico era guarda das embocaduras dos rios e córregos, de Benevente até Guarapari.

Alguns poucos marinheiros lograram escapar agarrados a destroços do navio e foram levados pelo mar até à praia. A região era habitada pelo feroz povo Goitacás que, no entanto, se encantou com os brancos de olhos cor do céu e cabelos cor do sol, entendendo que os tais eram representantes dos deuses do oceano. Deram-lhes tratamento vip sob a sombra das árvores de pau-brasil, alimentando-os com frutas e mel, ofereceram redes, e com o tempo, os brancos foram aceitos como membros da tribo, casando-se com as filhas dos chefes. Ocorre que um deles, antes de se casar, entrou por um caminho desconhecido e foi sair onde havia uma angra belíssima, onde o mar calmo e azul, repousava em doces delírios das ondas plácidas.

A tarde se foi, anoiteceu e o holandês desabrigado, sentiu medo. Os pássaros noturnos cantavam, uma coruja piou, bacurau e noitibó responderam e o homem resolveu não dormir, para se defender de algum ataque de animal. E aí viu, no mar, uma formosa mulher que emergia das ondas, envolta na sedosa cabeleira que refletia o luar. Maravilhado, convidou-a para se assentar a seu lado, mas ela só brincava nas águas, indo e vindo num gracioso balé aquático. Ela começou a cantar uma dulcíssima canção de ninar, e o marinheiro adormeceu...

Quando acordou, ao romper da aurora, lembrou-se de tudo. E fez um abrigo com folhas de coqueiro, alimentou-se com favos de mel e esperou. Com o cair da noite, aparece a linda mulher, volteando no oceano. Seus olhos tinham um brilho de fogo e ele, hipnotizado por tal olhar, entra na água. A mãe d’água, faminta, se enrosca em seu corpo. Mas não consegue devorá-lo, pois o amor que o homem demonstrara por ela, atingiu seu coração. Irada por não poder realizar seu intento, ela o arrasta até o meio da angra e pede a Tupã que o transforme em pedra. E desde essa época, quando é noite e as estrelas cintilam no céu, enquanto os pássaros noturnos lamentam, a Sereia de Meaípe vem cantar a melodia da saudade sobre o monumento do seu Amor. (E nada mais digo, a não ser que essa história faz parte do livro “Lendas Capixabas” de Maria Stella de Novaes) Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias


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Comentários

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Tião Aranha

05 de julho, 2022 | 18:08

“Segundo Gaston Bachelard, o homem deve reencontrar o paraíso. A vantagem de ter trabalhado por longos anos em bibliotecas, a gente acaba lendo tudo e entrando de peito e na alma do mundo fantástico da literatura. Lembrei-me da lenda, sabia que era capixaba. Risos.”

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