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15 de junho, de 2022 | 14:05

É fácil ser reeleito?

Francis Ricken *

A colocação do presidente Bolsonaro nas pesquisas eleitorais e o índice de rejeição foram construídos a duras penas durante os seus anos de mandatos, com crises políticas, conflitos desnecessários e com escolha de agendas que agradam seu eleitorado cativo. O presidente criou antipatias e situações que fragilizam sua campanha à reeleição, algo incomum entre candidatos que têm a máquina pública na mão e a base de apoio que o presidente conquistou no Congresso Nacional.

Desde que a regra de reeleição foi estabelecida em 1997, todos os candidatos à presidência que concorreram pela segunda vez consecutiva foram reconduzidos ao cargo com disputas mais ou menos acirradas, mas a vitória foi conquistada. Tomando as pesquisas de intenção de votos para os governos estaduais, observamos que os candidatos à reeleição têm sido protagonistas nas disputas, o que demonstra a vantagem de estar em condição de disputar a reeleição. Se Bolsonaro não conseguir êxito no processo eleitoral de 2022, será o primeiro caso de um presidente que concorre à reeleição e não consegue seu objetivo. A vantagem dos candidatos a reeleição é enorme para qualquer cargo, afinal, ter conquistas políticas, recursos e capacidade de fazer uma campanha eleitoral de forma mais tranquila, facilita a recondução dos candidatos. Além disso, estar em um cargo como o de Presidente ou Governador, lhe dá a condição de fazer uso do próprio governo de maneira indireta no processo eleitoral, já que é muito improvável a separação entre a figura do candidato e a do político em exercício da função. Essa situação daria ao candidato Bolsonaro uma vantagem enorme e, em tese, o colocaria de forma destacada nas pesquisas de intenção de votos frente aos seus adversários, o que até o momento não tem se demonstrado, afinal, permanece em segundo lugar, e com Lula criando vantagem. Tal situação diz muito mais sobre a forma com a qual o presidente Bolsonaro conduziu seu governo do que propriamente sobre a campanha exitosa de seus adversários.

“Se o candidato quiser conquistar o
eleitorado e derrotar seu principal
adversário terá que mudar, e muito, a
condução de sua campanha eleitoral”


Bolsonaro sempre foi adepto do conflito, isso desde sua longa vida política na Câmara dos Deputados até sua condição de presidente. Teve conflitos com aliados próximos, com o partido que o elegeu, com parcelas das forças militares que lhe davam sustentação, com setores tradicionais do Congresso Nacional, com setores da sociedade civil que o apoiaram, com líderes mundiais e com uma parcela gigante do eleitorado, e isso pavimentou a rejeição à sua figura. Mesmo tendo a máquina do Poder Executivo em mãos e conseguindo a articulação do centrão no apoio à sua candidatura, pouco fez para estabelecer pontes políticas que lhe dessem tranquilidade na eleição de 2022. Se o candidato quiser conquistar o eleitorado e derrotar seu principal adversário terá que mudar, e muito, a condução de sua campanha eleitoral, afinal, Lula jogando parado teve mais resultados que Bolsonaro com todo o aparato estatal nas pesquisas de intenção de votos.

A campanha eleitoral é ingrata e geralmente cobra o preço quando os resultados não chegam rápido, principalmente quando falamos de candidaturas favoritas nos processos eleitorais. Os aliados políticos de primeira ordem percebem nos primeiros momentos do processo eleitoral se terão vantagem ou desvantagem em se aliar a figuras políticas que não desempenham o suficiente eleitoralmente, coisa que ficou muito clara na campanha presidencial de Geraldo Alckmin, em 2018, quando os partidos políticos que o apoiavam migraram para a candidatura de Bolsonaro nas últimas semanas de campanha.

As estratégias eleitorais escolhidas pelos dois principais candidatos nas primeiras semanas de campanha de rua serão determinantes para a eleição do próximo presidente. Ambos são fortes, mas Bolsonaro tem a desvantagem de lutar contra dois adversários, Lula e contra si mesmo.

*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).

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Comentários

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Tião Aranha

16 de junho, 2022 | 18:50

“E o PT tem condição de fazer oposição porque passou grande tempo no poder. E o debate político ainda não está na Escola por falta de união e conscientização da maioria do professorado brasileiro. Os eleitores não têm noção do seu voto, nem da consequência quando se vota num candidato sem senso de espírito coletivo. É preciso mudar os paradigmas ou métodos de se fazer política neste país. Infelizmente, nós que escrevemos na internet estamos correndo sério risco de sermos raqueados pelos hackers dos partidos políticos; que, através de nossos e-mails, alteram nossos escritos depois vindo os processos.”

Gildázio Garcia Vitor

16 de junho, 2022 | 09:05

“Senhor Tião Aranha, excelentes colocações. Parabéns! Só falta dizer que é um retorno às politicas do Ademar de Barros (1901-1969): "Rouba, mas faz". Por isso que ainda voto no Lula e no Dr. Alexandre Silveira. Agora, quem quiser continuar votando em quem só rouba, pode continuar, pois, além do Presidente, temos o Aécio e muitos outros.”

Tião Aranha

15 de junho, 2022 | 20:42

“Herdamos a formação política atrasada da atualidade de nossos antepassados. Quer queira quer não. Nenhum regime político se muda passivamente sem correr sangue, porque quem está no poder não quer perder a sua situação de conforto a base do dinheiro fácil dos cofres públicos. A maior luta do povo atualmente é botar comida na mesa: venha de onde vier, nem que seja das mãos de um corrupto. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

15 de junho, 2022 | 15:06

“"A colocação e a rejeição do Presidente foram construídas a duras penas". Excelente! Parabéns! Esse Presidente, toda vez que dá um tiro no pé, e já foram tantos, acerta o próprio peito. Ganha do Jânio Quadros, do Collor e da Dilma disparado.”

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