12 de junho, de 2022 | 10:00
''Endividamento é um problema cíclico no Brasil'', avalia economista
(Bruna Lage - Repórter do Diário do Aço)Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgados nessa semana pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam a realidade financeira do brasileiro. A parcela de inadimplentes, aqueles que têm contas ou dívidas em atraso, chegou a 28,7% das famílias em maio. É a oitava alta consecutiva do indicador, que vem crescendo desde outubro de 2021.
Em abril, a inadimplência havia ficado em 28,6%. Em maio de 2021, o percentual era de 24,3%. A parcela registrada em maio deste ano (28,7%) é a segunda maior taxa da pesquisa, iniciada em 2010, ficando atrás apenas da observada em janeiro daquele ano (29,1%).
Já o percentual de famílias endividadas, ou seja, aquelas que têm dívidas (em atraso ou não), ficou em 77,4% em maio, abaixo dos 77,7% de abril, interrompendo três meses de altas. Mesmo com a queda, a taxa ainda é superior a de maio de 2021 (68%).
Comprometimento
Segundo a CNC, em maio, o comprometimento médio da renda familiar com dívidas chegou a 30,4%, o maior percentual desde agosto do ano passado (também 30,4%). Do total de endividados, 22,2% precisaram de mais de 50% da renda para pagar dívidas com bancos e financeiras, proporção mais elevada desde dezembro de 2017. O tipo de dívida mais comum é a do cartão de crédito, responsável pelo endividamento para 88,5% das famílias endividadas. Uma moradora do bairro Novo Cruzeiro, em Ipatinga, que prefere não se identificar, relata ter passado por problemas com a fatura do cartão. Ela trabalhava numa empresa como gerente, com bom salário e limite alto no cartão.
Como meu marido não tinha cartão, utilizávamos o mesmo cartão. À época, fui demitida e não consegui pagar as parcelas, porque a dívida contraída por meu cônjuge era grande. Liguei para a operadora e pedi para negociar, expliquei a situação, mas não cederam. Não paguei a fatura porque tinha outras contas. Passado um tempo me cobraram algo em torno de R$ 14 mil, nada a ver com o que eu devia. Meu nome foi para o Serasa, mas como eu tinha que pagar faculdade, optei por deixar o cartão pendente. Depois de dois anos me ligaram para renegociar e me cobraram o valor real”, recorda.
Causas
O economista e pesquisador associado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Rodrigo Portugal, aponta que a alta da inflação é fator relevante para a diminuição do poder de compra do brasileiro. Os preços aumentam e sobra menos para compras rotineiras, como farmácia e supermercado. Como são produtos essenciais, as pessoas estão usando cada vez mais o cartão de crédito. Isso se transforma em uma bola de neve, uma vez que no próximo mês haverá a necessidade da mesma compra, mas o cartão está comprometido com compras do mês passado. É bom lembrar que o cartão de crédito deve ser usado para compras esporádicas”, alerta.
Outro fator é a alta da taxa de juros, a Selic, que deixa o crédito mais caro e escasso. Como a taxa está elevada, torna-se mais rentável para os bancos aplicar seus recursos em investimentos financeiros e não no crédito. Com isso, elevam-se as taxas de juros de empréstimos para os cidadãos, aumentando a parcela de juros que a pessoa deve pagar. Pegar dinheiro fica mais caro e um dos efeitos é a elevação da taxa de inadimplência e o maior endividamento das famílias”, acrescenta.
Orientação
Para quem está endividado, Rodrigo orienta que a saída número 1 é a renegociação. Empresas de energia ou mesmo o Serasa, oferecem oportunidades de descontos para a liquidação das dívidas. Outra dica é evitar pegar novos empréstimos para honrar dívidas passadas. Se não houver saída, verifique se a taxa de juros desse novo empréstimo é inferior à anterior ou a que foi proposta na renegociação. E nunca parcele ou deixe de pagar o cartão de crédito. Os juros são exorbitantes”, alerta.
Cenário
Rodrigo aponta que os indicadores de endividamento usualmente se elevam após ciclos de expansão da renda, como foi no fim da década de 2000 com o aumento real do salário mínimo e ascensão do Programa Bolsa Família, e agora com o auxílio emergencial. Contudo, a desaceleração econômica, os gargalos na cadeia produtiva brasileira ou mesmo a inflação, fazem com que a renda obtida do trabalho ou de transferências se reduza no curto prazo e, com isso, as famílias ficam endividadas. Ou seja, o endividamento é um problema cíclico no Brasil”, conclui.
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Vitor
12 de junho, 2022 | 20:17Passando pano pro Guedes....
A fome não é cíclica!
Ela é permanente e mais que dobrou nesse (des)governo...”
Tião Aranha
12 de junho, 2022 | 17:39Ninguém pensa em economizar, só pensa em gastar.”
Paulo Silva
12 de junho, 2022 | 10:05? o resultado da facilidade que foi colocado na cabeça das pessoas de comprar. Só que não pensam que além de pagar, muitas coisas que compramos não é só pagar, temos que manter também.”