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08 de junho, de 2022 | 13:54

Na guerra, não vale massacrar os aliados

Tadeu Saint’ Clair *

Num cenário econômico esfacelado como o que o país vivencia há dois anos por causa da pandemia, é de se estranhar uma política econômica que se volte contra quem tem o poder de injetar recursos e ajudar na salvação de empresas e de famílias à beira do colapso. Pois é esta a estratégia adotada pelo governo federal, que entrou na mesma onda do Banco Central para onerar os custos da moeda brasileira.

O BC vem elevando fortemente a Selic, a taxa básica de juros, desde março do ano passado, quando iniciou um deslocamento do índice de 2% até chegar aos 12,75% atuais. A narrativa é que o aumento da taxa é o remédio amargo, mas eficaz, contra a inflação. O problema é que, até o momento, pouco se viu em termos de efeitos práticos sobre os preços.

O governo federal fez-se entender que essa ineficiência é culpa dos bancos, e aumentou a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que já era de 20%, em mais 1%. Já a alíquota das demais instituições financeiras também subiu no mesmo percentual, de 15% para 16%. Na prática, isto significa uma tensão maior na corda que já aperta o pescoço das empresas e das famílias, que terão de pagar mais caro para ter acesso a um crédito que, no momento, representaria um alívio na falta de recursos.

A ideia de aumentar os juros e os impostos para conter a inflação até tem lógica. O aumento faz crescer também o ‘preço’ do acesso ao crédito, o que inibe pessoas físicas e jurídicas a recorrerem a esse tipo de solução, optando então por cortar radicalmente os gastos. O corte no consumo obriga as empresas a abrir a concorrência de preços, ofertando produtos mais baratos.

"O momento exige mais entendimento sobre
a política externa e autocontrole para não
atacar instituições e famílias vítimas da inflação"


O que o governo federal não leva em conta é que a ineficácia da Selic na redução da inflação ocorre porque a pressão sobre os preços é decorrente da economia global, ainda por conta da crise sanitária e também da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Não há produto em grande quantidade disponível no mundo. E quanto mais escassos os produtos vão ficando, mais valiosos se tornam para os seus consumidores. Quanto mais valiosos, maior o preço.

No mercado internacional, vale lembrar, o agronegócio brasileiro é altamente dependente de fertilizantes russos, que estão concentrados no conflito. O comprometimento, ainda que parcial, da logística de remessa dos fertilizantes para o Brasil impacta diretamente nos preços da produção agrícola nacional, que por sinal é um dos carros-chefe da nossa economia.

Alie-se a isso a inflação sobre os preços dos combustíveis e a insensibilidade dos governos estaduais, que insistem em pesar a mão nos tributos sobre o abastecimento, e passamos a entender os motivos reais da nossa inflação. Daí a completa falta de senso em onerar os bancos para conter os preços.

O que o governo faz é tentar ganhar a guerra destruindo aliados importantes para a retomada do mercado. O momento exige mais entendimento sobre a política externa e autocontrole para não atacar instituições e famílias vítimas da inflação. Crescer pra cima dos bancos é acreditar que uma chinelada é capaz de matar um leão.

* Advogado tributarista - [email protected]

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Comentários

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Tião Aranha

08 de junho, 2022 | 21:31

“A partir do momento que não houve a votação das reformas prementes, a política econômica adotada pelo atual ministro da fazenda ficou desnorteada. A inflação corrói todo o poder de compra, do rico e do pobre. O país hoje está com 33 milhões de famintos. Pelo menos nisso o Lula acertou. Risos.”

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