25 de maio, de 2022 | 14:40

Até o calendário denuncia a inflação

Sanzio Cunha *

Se você não teve o “privilégio” de conviver com os índices de inflação galopante que perdurou especialmente entre os anos 80 e 90, pergunte aos mais experientes sobre a sensação de ver um produto sofrer um reajuste de preço duas ou três vezes no mesmo no mesmo dia. A história é boa por suas curiosidades, mas igualmente amarga. Era um período de hiperinflação, quando os índices superavam 80% ao mês.

O Real veio para zerar as estratégias famigeradas que o antecederam. E, a despeito de vivermos um período indigesto de instabilidade econômica, ainda estamos longe dos números absurdos de 30 anos atrás. De toda forma, precisamos ligar o sinal de alerta para o cenário de hoje. O IPCA, principal medidor da inflação brasileira, aponta para uma tensão que alcança os 12,13% no acumulado de 12 meses até abril deste ano.

Dá pra constatar o resultado desse efeito pelo próprio calendário. O Impostômetro, contador eletrônico da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), registrou o pagamento de R$ 1 trilhão em impostos pelos brasileiros na madrugada do dia 3 de maio. No ano passado, essa quantia foi alcançada apenas no dia 19, mais de duas semanas depois.

"Há um agravante peculiar com o
óleo diesel, que em maio deve
superar os 60% na inflação acumulada"


Mas nem é preciso recorrer ao Impostômetro para diagnosticar que essa arrecadação mais rápida se deve à inflação. Quem vai ao supermercado, por exemplo, consegue enxergar o inimigo frente a frente. Somente no último mês de abril, a inflação teve uma alta de 1,06%, pelo índice do IPCA. Os maiores vilões foram a batata, que sofreu uma elevação de 18,28%, o leite longa vida e o tomate, que também tiveram aumento acima dos 10%.

Mas o que mais chama a atenção ainda são os combustíveis. No mês de abril eles tiveram comportamentos mais discretos do que esses produtos, o que não deixa de assustar: o etanol teve elevação 8,44%; o óleo diesel cresceu 4,74%; e a gasolina subiu 2,48%. Mas quando se vê no acumulado dos últimos 12 meses, percebe-se o tamanho do desastre: o etanol aumentou mais de 42%; o óleo diesel foi a terríveis 53,58% e a gasolina aumentou 31,22%.

Há um agravante peculiar com o óleo diesel, que em maio deve superar os 60% na inflação acumulada. O combustível é responsável pelo abastecimento de diversos setores da economia, particularmente a indústria alimentícia e o agronegócio. Por isso, a variação deste produto afeta diretamente os preços de outras mercadorias, indicando que pode haver novas altas adiante.

É um cenário que preocupa, mas que sugere já uma desaceleração inflacionária. As tentativas do governo federal de reduzir os impostos sobre os combustíveis e do Banco Central em aumentar a Taxa Selic ainda não foram absorvidas pelo mercado, mas tendem a gerar uma retração dos preços a partir de junho ou julho. Até lá, será preciso uma dose extra de paciência do consumidor e dos próprios produtores, que também sentem impactos negativos dessa pressão sobre os preços.


* Trader, CEO e sócio fundador da Lotus Capital – [email protected]

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Comentários

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Tião Aranha

27 de maio, 2022 | 08:13

“Só os pobres pagam imposto de renda, os ricos todos sonegam. Mas qual é a fórmula para taxar as grandes fortunas? Não existe! O próprio ministro da fazenda esconde seu patrimônio em dólares nos paraísos fiscais. E a miséria que o pobre ganha não dá nada para economizar. Risos.”

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