11 de maio, de 2022 | 13:40
BDRs: os papéis que colocam grandes empresas na porta da nossa casa
Sanzio Cunha *
Imagine você entrar no supermercado onde costuma fazer compras e poder colocar no carrinho não só os produtos expostos ali, mas também qualquer um disponível nas grandes redes dos Estados Unidos ou da Alemanha, por exemplo. A limitação física deixaria de ser uma barreira e você passaria a ter acesso a opções e marcas que sequer são comercializadas no Brasil.No mercado varejista, esse tipo de serviço ainda não existe. Mas para os investidores brasileiros, a Bovespa tornou-se um grande supermercado de ativos que oferece mais do que os produtos que estão nas prateleiras. É possível, por exemplo, comprar ações da Disney, da Tesla, do Facebook, da Amazon ou da Apple com a mesma facilidade com que compra ações da Vale, da Gerdau, da Petrobras ou das Americanas.
O detalhe é que esses e outros tantos ativos estrangeiros não estão alocados na Bovespa, ou seja, essas gigantes não comercializam suas ações por aqui. Por isso, o caminho é recorrer às BDRs (sigla em inglês de Brazilian Depositary Receipts, ou, na tradução, Recibos Depositários Brasileiros). Uma BDR é um título representativo, lastreado no respectivo papel estrangeiro.
Assim, um investidor que decide comprar ações do Twitter, por exemplo, não precisa enfrentar toda uma burocracia para operar diretamente na Nasdaq, o mercado financeiro com foco nas gigantes da tecnologia, sediado nos EUA. Ele compra um ativo no Brasil que acompanha rigorosamente o preço da empresa nos EUA.
"É possível, por exemplo, comprar ações
da Disney, da Tesla, do Facebook, da
Amazon ou da Apple com a mesma facilidade
com que compra ações da Vale, da Gerdau,
da Petrobras ou das Americanas"
Para isso, é necessário que haja uma espécie de importadora, que na Bovespa é chamada de instituição depositária. Seu papel consiste em comprar os ativos no exterior e comercializá-los na B3, após a devida certificação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A instituição tem, é claro, a restrição de vender no máximo a quantidade de ações que ela tem sob o seu domínio.
Ao comprar ativos de uma BDR, a aquisição pelo investidor é feita em reais, o que também facilita a negociação, que dispensa cobranças de taxas ou outros valores extras. As condições de compra e a própria chance de diversificar ainda mais seus investimentos é evidentemente um atrativo importante das BDRs. Por outro lado, estamos falando de papéis que sofrem as mesmas volatilidades do que vemos no mercado nacional.
Além disso, nem sempre o investidor acompanha com cautela as oscilações do mercado externo. Pode ser bonito ter ações da Netflix na carteira, mas é preciso estudar bastante o cenário para compreender que esse ativo só vale a pena se tiver boa performance financeira, tal como se espera de qualquer outra ação adquirida na bolsa.
No caso do serviço de streaming, seu valor de mercado sofreu uma desvalorização de 63,35% desde o início do ano, o que significa um recuo de US$ 168 bilhões. O derretimento é consequência do resultado do balanço trimestral de 2022, que identificou uma perda de 200 mil assinaturas em relação ao último trimestre de 2021. Existe ainda uma projeção de corte de mais 2 milhões de assinantes. Quem se disporia a comprar ações da companhia? Como diz o ditado, nem tudo que reluz é ouro. No caso das BDRs, essa máxima também prevalece.
* Trader, CEO e sócio fundador da Lotus Capital [email protected]
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