04 de abril, de 2022 | 20:00

Cantora mergulha no universo feminino sagrado das rezadeiras

Em “Senhora das Folhas” (Natura Musical), disco que chegou às plataformas digitais no emblemático 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, a cantora Áurea Martins, aos 82 anos, encarna o feminino curador em canções que homenageiam rezadeiras, curandeiras e benzedeiras do Brasil, mulheres-matriz fundamentais no esgarçado tecido social deste país profundo.

No repertório, incelenças do sertão de Minas Gerais e bendito medieval ganham roupagem luxuosa e camerística que reúne viola caipira, violoncelo e viola da gamba, que se unem a canções ultrajovens, como “A Rezadeira”, do rapper Projota, e “Ponto das Caboclas de Camila Costa”. Há, também, um canto do povo Parakanã e um poema da etnia Macuxi, sambas de recôncavo e do Rio de Janeiro, compondo um disco surpreendente e contemporâneo, reverente e iconoclasta, que tece como num bordado o diálogo entre os imaginários urbano e rural do país.

Ao unir os vários Brasis e as duas pontas da vida, Áurea visita sua ancestralidade e ganha o terreiro do qual é rainha por herança e direito: o solo fértil das miscigenações afro-indígenas, caboclo encantadas, orixás-pajé, recebendo de braços abertos o novo. O disco faz contato com a nossa essência formativa e ilumina o lugar da mulher como protagonista e guardiã dos saberes deste país diverso. Estabelecendo a possibilidade real de elevar a potência do seu alcance na cena nacional, para ser universal, Áurea fala da sua aldeia.

Como disse certa vez o saudoso poeta e compositor Aldir Blanc: “E nossa própria alma nunca se redimirá sem a voz sagrada de Áurea Martins”. O algum “Senhora das Folhas” foi gravado e produzido na Biscoito Fino e com patrocínio da plataforma Natura Musical. Mais informações: Miriam Roia | (21) 99142-0018; Vivi Drumond | (21) 98756-7742.