
02 de abril, de 2022 | 08:40
A terceira via sobreviverá?
Marcelo Afonso *
Com as já anunciadas desistências de Pacheco, Dória, Moro e outras que ainda estão por vir, como a que está no forno, da pré-candidata do MDB, senadora Simone Tebet, começou a se desenhar, nos últimos dias, um possível novo quadro sucessório brasileiro. Estou falando da tentativa de se construir uma terceira via capaz de derrotar Lula ou Bolsonaro no segundo turno.Cabe lembrar que o eleitor brasileiro, apesar de muitas vezes parecer insano, tem tomado suas decisões sobre quem eleger na última hora. Daí, a pouca crendice da maioria das pessoas nos resultados eleitorais apresentados pelas pesquisas de opinião.
Venho de uma escola política aprimorada dentro de um Instituto de Pesquisas, a extinta GD Perfil, à época instalada na rua da Bahia, em Belo Horizonte. Lá, prestei serviço de atendimento político por quase dois anos, tive a oportunidade de acompanhar de perto, simultaneamente, no ano de 1996, os cenários e as disputas eleitorais em mais de vinte municípios mineiros. A maioria deles localizados na região metropolitana de Belo Horizonte, além de alguns por aqui, no Vale do Aço, especificamente nos municípios de Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo e Belo Oriente.
Tenho para mim que o que mudou de lá pra cá não foi apenas a forma de realização das pesquisas de opinião que, atualmente, contam com inúmeras ferramentas tecnológicas, algumas muito válidas, outras nem tanto.
Percebe-se que a principal mudança está no comportamento do eleitor diante das informações que recebe, na sua desconfiança e percepção dos fatos. Com o avanço descomunal da comunicação virtual, o eleitor passou a receber informações em tempo real, sejam elas verdadeiras ou falsas. Esse é o grande problema. As informações têm chegado à velocidade da luz e mudam em segundos a opinião do eleitor, sobre esse ou aquele tema.
Chego a acreditar que pesquisas quantitativas, no ambiente eleitoral, estão perdendo espaço e credibilidade. Responder questionário é uma coisa, votar é outra. Diferentemente das pesquisas qualitativas, que continuam vivas e estão contribuindo decisivamente para a desistência coletiva de diversos candidatos à presidência da República no Brasil.
O que já está ocorrendo, e crescerá vertiginosamente nas eleições deste ano, é o uso de ferramentas como as de inteligência artificial, com o monitoramento permanente das impressões, desejos e análise comportamental dos eleitores em tempo real, assegurando um marketing político e eleitoral mais assertivo e promissor.
O que já está ocorrendo, e crescerá
vertiginosamente nas eleições deste ano,
é o uso de ferramentas como as de inteligência
artificial, com o monitoramento permanente das impressões”
Numa sociedade onde, genericamente, o ter significa cada vez mais do que o ser ou saber, passou a ser incontrolável o pensamento humano. Com raríssimas exceções, todos nós passamos a ser escravos das informações disponíveis na internet. Posso citar aqui o caso da cantora Marília Mendonça, de quem eu era fã, vítima de um trágico acidente aéreo ocorrido recentemente, aqui próximo da nossa região. No momento que fiquei sabendo da notícia do acidente, fui à procura de informações. Assim que localizei na internet a primeira informação fiquei muito feliz com o anúncio feito pela assessoria de imprensa da cantora, anunciando que ela havia sobrevivido. Poucos minutos depois, a nota oficial foi desmentida por autoridades de segurança que estavam no local do acidente. Concluí, nesse dia, que pior do que a desinformação é a informação mentirosa, as conhecidas fake news”.
Voltando ao cenário eleitoral, algumas fontes da política nacional andam comentado em off” que o ex-presidente Lula está apreensivo com a possibilidade do aparecimento de uma pré-candidatura de terceira via mais viável, que ofereça ao eleitor brasileiro a esperança de dias melhores, sem ter que retornar ao passado ou ser obrigado a conviver com a realidade do presente.
Todos sabem que o presidente Bolsonaro já tem sua estratégia de reeleição definida e não parece preocupado com o surgimento da terceira via. Me parece que vai continuar conversando com o seu público alvo e, ao que tudo indica, não aguarda por grandes mudanças no quadro eleitoral até o prazo legal de início da corrida eleitoral propriamente dita.
Ciro Gomes, mesmo parecendo ser, ao menos no discurso, o candidato mais bem preparado, sofre com a sua personalidade quadripolar, o que lhe garante apenas os mesmos eleitores fidelizados em eleições presidenciais anteriores. O que o caracteriza, desde já, como sendo novamente uma carta fora do baralho.
Moro, Dória, Tebet e Eduardo Leite, esse último podendo ser a novidade da eleição, podem estar juntos construindo uma estratégia alternativa. Vai dar certo? Nenhum de nós pode afirmar. E por último, quem parecia ser um forte articulador político nacional (e eu continuo acreditando que o é), me parece engalfinhado entre apoiar o ex-presidente Lula já no primeiro turno ou lançar uma candidatura nitidamente aventureira apenas para marcar posição. Estou falando do todo poderoso presidente nacional do PSD, ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Outro ator importante do cenário político nacional é senador Ciro Nogueira que coordena as ações políticas do governo Bolsonaro em Brasília, ao lado dos antigos capas” Roberto Jeferson e Waldemar Costa Neto.
O que nos parece claro é que, mesmo faltando apenas um dia para o prazo final das trocas de partido ou novas filiações, a terceira via no Brasil sobreviverá ao primeiro round eleitoral que é o dia 2 de abril, mantendo a esperança de alguns políticos de se manterem no poder e o desespero de outros que estarão prestes a sair.
* Administrador, consultor em planejamento estratégico governamental, parlamentar e eleitoral
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Filipi Toré
04 de abril, 2022 | 23:05Por todo lado as pessoas tem um pensamento... Mas sempre diz, teremos duas vias Bolsonaro x lula.
Agora nós bastidores de todos os lugares o Bolsonaro sai na frente.”
Tião Aranha
02 de abril, 2022 | 19:29Se os três poderes estão em crise, é normal que a sociedade tb esteja em crise. E a culpa não é dos eleitores que votam, mas dos políticos descompromissados que são eleitos. Essa é a marca deixada pela aprendizagem dos mestres da malandragem. Política neste país virou sinônimo de nojo. Risos.”
Gildázio Garcia Vítor
02 de abril, 2022 | 12:38Apesar de ainda estarmos distantes 6 meses do primeiro turno, não consigo visualizar uma terceira ou quarta vias com chances reais de superarem o meu candidato, o "Luladrão", e o deles, o "Genocida". Já é um plebiscito.”