26 de fevereiro, de 2022 | 12:00
O psicoterror nas empresas
Maria Inês Vasconcelos *
O estado liberal e as novas formas de organização do trabalho nas empresas vêm afastando a proeminência do princípio da dignidade do trabalhador e o valor social do trabalho, pilar do Estado Democrático de Direito.A instrumentalização do medo nas empresas, como ataque à subjetividade, caminha lado a lado com o massacre à desvalorização do ser humano. Pois o medo é uma poderosa ferramenta para provocar comportamentos, uma maneira de adestrar. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que medo é o nome que damos a nossa incerteza".
Como emoção humana, o estudo do medo é amplo. No Direito do Trabalho, por exemplo, o medo caminha ao lado da alienação e do sistema de aniquilamento da personalidade.
Pois bem, muitas empresas brasileiras na contramão da relação de trabalho sustentável estão exaurindo e esgotando limites psíquicos de seus trabalhadores, através do psicoterror que é um dos vieses da cultura de exploração. Existem empresas que consideram vantagem e lucro impor terror e destruir resistências mentais, para alavancar resultados.
O psicoterror é uma ferramenta de administração empresarial calculada para provocar medo, e com isso maior eficiência e rapidez na realização de tarefas, resultados maiores e uma forma de movimentar o empregado rumo ao sentido desejado. Como método está arrimado na arrogância, no cinismo e em perversões. Dentre elas estão as listas negras, a ameaça constante de facão demissional, políticas de represália que vão desde segregação à punição pública, boicotes, rituais sádicos, avaliações subjetivas e injustas, tudo isso junto ou isoladamente.
Isso tudo, é uma estratégia de poder que visa nocautear a mão de obra, e o ímpeto de sua implantação é sempre o mesmo: manipulação das emoções.
O medo não faz subir
na prateleira, pelo
contrário, pode ser
um tiro no pé”
Como decisão estratégica, pode estar ou não alinhada com os propósitos da empresa e mesmo em descompasso com a legislação, sem qualquer tipo de mediação com a moral e a saúde mental dos empregados, podendo trazer consequências indesejadas.
Wanderley Luxemburgo, técnico de futebol, tem uma máxima que aqui devemos exaltar: "o medo tira a vontade de ganhar". É isso mesmo, o medo não faz subir na prateleira, pelo contrário, pode ser um tiro no pé. Trabalhador insatisfeito, esgotado, humilhado, desmotivado, passa a ter sentimentos opostos. Surge um tipo de reação. Um ódio. E neste ponto é muito comum o jogo virar, ou seja, o trabalhador passa a odiar a empresa e trabalhar contra. É uma forma de enfrentamento consciente ou inconsciente da opressão. Por isso, recomenda-se muito cuidado, para as empresas que partem para esse tipo de massacre.
O nosso estado caminha em cima de uma viga mestra, " valor social do trabalho", que não pode sucumbir pelo aspecto mercadológico e essa visão deturpada da liberdade, em que o trabalhador vira mercadoria para se fazer medo. Aflição, angústia, humilhação, e terror são sentimentos contrários à paz. São contraditórios ao clima organizacional sadio.
Que tais suplícios sejam eliminados e que o mal uso do poder nas instituições, seja realmente alvo do combate do judiciário, que inclusive, dissemina suas ações no ataque ao assédio moral.
O trabalho tem um sentido magnífico, ele é fonte de riquezas desmedidas. Não podemos transformá-lo em base para patologias ocupacionais e tampouco em sofrimento.
* Advogada, pesquisadora, professora universitária e escritora
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Tião Araujo
27 de fevereiro, 2022 | 20:34Concordo em gênero, número e grau. A maioria das empresas usam a estratégia do medo, sem saber que a Pandemia já causa depressão emocional, e ninguém procura um advogado quando é prejudicado.”