18 de janeiro, de 2022 | 14:27

Nem a tapa...

Nena de Castro *

Existe em Ipatinga, a Associação Cuidado Humano, cujo objetivo é prestar assistência aos pacientes cancerosos. Localizada no bairro Bethânia, sua sede também abriga uma Biblioteca Comunitária e além disso é feito um trabalho primoroso com idosos, resgatando-lhes a dignidade e alegria de viver.


Cheguei lá por meio da assistente social Valdete Costa e me apaixonei. E, entre tantas boas ações, surgiu a ideia de pedir aos participantes do grupo que escrevessem suas histórias que foram publicadas num e-book. São narrativas lindas, tristes ou engraçadas, fantásticas por trazerem à luz relatos surpreendentes da vida de cada pessoa, que agora estão eternizados. Bem, conto hoje uma das Histórias!

Ali pelos lados de Tarumirim, em uma fazenda, vivia uma família numerosa. A nossa heroína, era uma menina como todas as outras, caminhava longa distância com os irmãos para ir à escola e ajudava a mãe na cozinha desde os 5 anos. Tinham que preparar a comida para cerca de 17 trabalhadores todos os dias.

Havia fartura na fazenda e o pai resolveu fabricar cachaça; deu certo, os pedidos eram tantos que começou a comprar cana de toda a região. Vinham caminhões de fora para comprar os tonéis de aguardente...Então o pai decidiu permitir que os filhos vendessem litros da pinga para comerciantes locais, podendo ficar com o dinheiro.

A mocinha, muito esperta, aprendeu logo a chupar a mangueira do tonel para fazer jorrar o líquido e vendia muito. Da janela da cozinha, ela via quando se aproximava alguém com garrafas ou pequenos tonéis e corria pra atender. Mesmo que ao final do dia a boca ficasse amarga, ela não se importava, juntava a grana que não era pouca e comprava perfumes, roupas, calçados e aos domingos fazia uma farra no campo de futebol, comprando doces e salgados, eita festança!

No entanto, os irmãos, já grandes, começaram a querer vender também, ora. E passaram a vigiar a estrada. A moça avistou da janela o comprador que vinha ao longe, pegou a chave do alambique e escondeu no bolso, continuando a trabalhar no almoço. Seus irmãos também viram o comprador e entraram na cozinha em busca da chave. Ela fez boca de siri, continuou trabalhando, os rapazes questionaram, mas nada respondeu. Então o freguês venceu a distância da estrada até a fazenda e a moça foi atender. Os irmãos, escondidos por perto, apareceram e tentaram tomar a chave dela. Briga das boas, rolaram pelo terreiro, pelo pasto, sobre o esterco...

Ela ficou descabelada, suja de poeira, cheirando a bosta de boi, mas espantou os irmãos, que desistiram, lavou as mãos e foi atender o espantado freguês. Fez sua venda e guardou o dinheirinho no esconderijo. Dela, ninguém tomava nada. Nem a pau!

(Um abraço para dona Elcy Fernandes 69 anos, moradora do Bethania, heroína dessa história). Acesse o site cuidadohumano.org.br./mídia/e-book ou no Instagram :cuidado humano. Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

18 de janeiro, 2022 | 20:12

“Exemplo de sensibilidade, de alguma forma, dando a oportunidade de relatar um momento vivido facilita viver o momento atual, além de valorizar a literatura. Muitos gostariam de manifestar o que passa no amago da alma, mas faltam-lhes a oportunidade.”

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