10 de janeiro, de 2022 | 17:00

Exposição de fotos abre projeto de ocupação de espaços culturais

Rodrigo Zeferino/Divulgação
Uma das fotografias que compõem a mostra Arredores do Aço, de Rodrigo Zeferino: desmistificando as visõesUma das fotografias que compõem a mostra Arredores do Aço, de Rodrigo Zeferino: desmistificando as visões

Nessa segunda-feira (10) foi aberta a série de mostras artísticas regionais apresentadas no projeto “Exposição Tradição e Contemporaneidade”, lançado pelo Clube Dançante Nossa Senhora do Rosário - Congado do Ipaneminha e apoiado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG). Os eventos estão programados para acontecer na Estação Memória Zeza Souto, no Centro de Ipatinga, e no Museu do Ipaneminha.

A exposição inaugural, “Arredores do Aço”, do premiado fotógrafo Rodrigo Zeferino, pode ser conferida pelo público na Estação Memória até o próximo dia 20. Segundo o autor, a mostra “documenta pela fotografia, de forma poética e com intenção artística, o status quo da vida local deslocando o olhar do eixo siderúrgico”. “As obras são um convite ao público a visitar a roça, ver o que acontece na Ilha do Rio Doce que não é ilha do ponto de vista topográfico, mas que se tornou uma ilha sociológica entre Ipatinga e Caratinga. Vamos procurar origens no Pedra Branca, redescobrir o Ipaneminha”, descreve.

Rodrigo Zeferino conta que a ideia é interpretar imageticamente, com olhos livres, o que se faz e como se vive nesses lugares desconhecidos por boa parte da população local.“Revelados esses modos de vida, eles podem desmitificar a visão que o mundo tem sobre o pólo industrial do Leste de Minas. Em foco, antes da pobreza, o simplório. Em tempo, fazemos isso enquanto a industrialização crescente e seus novos galpões de zinco empurram, sufocam e marginalizam. Mal necessário? É o que dizem", reflete o artista, acrescentando em seguida que, “antes do aço, era o vale do índio, era - e ainda é - o vale da mata atlântica, das lagoas, do rio Doce e do rio Piracicaba. É também, ainda, o vale das pessoas que vivem da terra”, destaca.

Fardo pesado

Segundo observa o fotógrafo, visto de fora, o Vale do Aço carrega o fardo pesado do seu próprio nome. “A região é a terra das indústrias, destino do minério, aglomerado de empresas, lugar do calor, da poluição, do trabalho. Tudo gira em torno da produtividade, e a importância brutal do produto costuma figurar acima da existência do homem”, argumenta. Para Rodrigo Zeferino, essa visão “ofusca a paisagem natural, a riqueza histórica e os hábitos originais, valioso patrimônio imaterial dessa região que corre o risco de desaparecer em pouco tempo”.

Doze fotografias impressas em pigmento mineral sobre papel de algodão compõem a mostra Arredores do Aço, “que traz uma sequência de dípticos em tons de cinza, evidenciando a dicotomia ainda resistente na região do Vale do Aço, onde áreas com forte presença da indústria coexistem em relativa proximidade com zonas rurais, nas quais hábitos ancestrais e a vida em contato com a terra ainda são predominantes. Cada par de fotografias exibe, do lado esquerdo, uma cena bucólica e, do lado direito, traços da existência incômoda da indústria nas proximidades daquela mesma comunidade rural”, explica Rodrigo Zeferino.

Aqui de perto

A série “Aqui de perto você me vê melhor”, também, integra a mostra do fotógrafo. São quatro fotografias que compõem o ensaio, conforme define Rodrigo Zeferino, e são narrativas contadas nas cicatrizes que só o menino do mato em sua peraltice desbravadora, em seu contato íntimo com a natureza, sabe colecionar; na pele do lavrador manchada pelo sol; nos adereços corporais típicos e cotidianos.

"Para que a atenção se concentre nos detalhes, descartam-se os olhos - essas janelas que evidenciam sentimentos e ganham a atenção de quem vê. Assim, a atenção volta-se para as minúcias fragmentadas no corpo dos fotografados. Aqui o objeto se posta também como sujeito, ao convocar o espectador para dentro de seu mundo, para a sua história”, descreve o fotógrafo ipatinguense.

Outras atrações

Entre os dias 17 a 27 deste mês, o projeto traz em sua programação, no Museu do Ipaneminha, a mostra do artista Marcílio Amâncio da Mercês Caldeira, que exibirá mostra de pinturas denominada “Proteção à Biodiversidade”. A artista timoteense Ângela Maria Ferreira Ataíde apresentará, na Estação Memória, a exposição de pintura e escultura “Impressões”, de 24 de janeiro a 3 de fevereiro.

De 7 a 17 de fevereiro, na Estação Memória, Wenderson Godoi colocará em cena o “Re-memorar - Coleção Acervo Cultural”. Fernanda La Noce encerrará a série de mostras com o ensaio fotográfico “Aves Invisíveis”, na Estação Memória.

No Museu do Ipaneminha, a mostra “Desato em nós”, da fotógrafa Tatiane Bispo, ficará em exibição de 31 de janeiro a 10 de fevereiro. Em seguida, estará em cartaz a exposição “Vênus”, trazendo pinturas da fabricianense Mônica Silva Jacinto Gomes Valoide. De 28 de fevereiro a 11 de março, Dani Dornelas, exibirá a série fotográfica “Memória em Chita - Parede Criativa”.

“A Exposição Tradição e Contemporaneidade tem como propósito ocupar os espaços da região com manifestações artísticas e culturais que despertem na comunidade o sentimento de pertencimento, valorização e salvaguarda da memória do patrimônio cultural material e imaterial”, conforme explica a artista e curadora da exposição, Rosane Dias.
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