11 de janeiro, de 2022 | 14:00
Ara pois!
Nena de Castro *
Zoca Ribeiro era calmo. Uma calma que chegava à pasmaceira. Desde criança sempre procurava um jeito de apaziguar os ânimos. Achava que nada valia a pena se fosse altercação, confusão, brigas. E sobretudo, não falava palavrões de jeito nenhum! Achava chulo, feio, um disparate usar o aparelho fonador para amaldiçoar, xingar, imprecar! Torcia pro seu time, o Unidos Futebol Clube, mas jamais entrava em bate-bocas pelos pífios resultados alcançados.
Política, jamais discutia, votava no candidato que achava menos pior, sem esperar muito. Vivia de modo simples, tinha uma casinha construída em terreno pequeno onde plantava, colhia, vendia. As duas vaquinhas davam leite pras crianças e uns porquinhos e galinhas forneciam carne, gordura e ovos. Ele se sentia grato por poder sustentar sua família, mulher e dois filhos, todos eram saudáveis e a vida desabrochava em manhãs de sol e tardes calmas, em zum-zum de abelhas e cantos de pássaros.
Então, ao amanhecer daquele dia, acordado pelo canto do galo, levantou-se, fez suas abluções, agradeceu a Deus pela vida e foi cuidar de suas obrigações. Trouxe do paiol o milho das galinhas e porcos, nisso o fundo do balaio se rompeu e foi tudo pro chão. A galinhada caiu matando, em alvoroço total e com muito custo conseguiu salvar um pouco do milho, misturado com terra e grama. Levou o que sobrou em outro cesto, para os porcos; ao abrir a cancela do chiqueiro, encostou-se nela, a taramela quebrou e foi tudo pra dentro da lama: ele, o milho, o cesto!
Dois porquinhos mais afoitos saíram em desabalada pela cancela aberta, os outros grunhiram desesperados e Zoca teve que rastejar pela lama para conter a fuga. Improvisou com tábuas o fechamento do chiqueiro, chamou o cachorro e foi atrás dos dois porquinhos que corriam para o mato. Após muitas peripécias e graças ao medo que os porcos tinham do cachorro, conseguiu prender os fujões. Entrou debaixo da bica formada por um bambu que trazia a água do morro e deixou que ela lavasse a lama fétida do chiqueiro. Tirou a roupa e caminhou em direção à casa afim de se trocar quando ouviu a voz da Cumadi Maricotinha, a maior fofoqueira das redondezas, que chegara para uma visita.
Peladim da silva, sem ninguém pra ajudar, pois a mulher e os filhos estavam na casa da sogra, atirou-se atrás da moita de bananeiras onde os pernilongos o acharam, até a visita desistir e ir embora.
Vestiu outra roupa de serviço e foi tirar o leite. Ao voltar pra casa com o balde cheio, foi atacado por abelhas. Conseguiu salvar um pouco do leitim e entrou em casa procurando o álcool com fumo de rolo para esfregar no rosto e no braço.
Calma Zoca”, disse a si mesmo. É só um dia ruim, nada de perder a carma!” E resolveu que era melhor descansar. No quarto, tirou as botas e já ia se deitando quando resolveu pegar o rádio, para ouvir sua emissora favorita! Ao se aproximar de onde o aparelho estava, não prestou atenção e bateu o dedim mindim no cantim do guarda-roupa! Aí, foi demais, até pra ele: esmurrou o móvel e xingou uma centena de impropérios! Ara sô! (E nada mais digo)
* Escritora e encantadora de histórias
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Javé - do Outro Lado do Mundo
11 de janeiro, 2022 | 16:43Este personagem azarado aí, nasceu no dia de São cadeado. Risos.”