01 de dezembro, de 2021 | 15:48

Custo do retrabalho e das restrições

Luiz Antônio Fagundes *

Em tempos de margens acirradas e custos crescentes, o retrabalho tornou-se um grande vilão nas organizações e acreditem, ocorre com frequência cotidiana em todas as empresas, independentemente do tamanho e da atividade, onerando a produção, a comercialização e a prestação de serviços, representando um volumoso vazamento de receitas. O retrabalho é o mais nocivo e corrosivo deformador do ganho e da imagem corporativa. Às vezes se torna invisível e não é mensurado e computado na apuração dos resultados, falseando a análise final.

O retrabalho é uma prática remediável da incompetência técnica e gerencial, tornou-se hábito e vício formal, recorrente e tolerável, sendo até considerado, equivocadamente, um indicador de qualidade no relacionamento com o cliente, mas na realidade é um enorme indicador de despreparo na gestão dos recursos. Isso fica claro quando o fornecedor faz constar nos manuais trocas e reparos como um diferencial, entretanto, está sendo normalizada a possibilidade da falta de qualidade e, consequentemente, um retrabalho. Sempre que isso ocorre, o fornecedor já está prevendo que alguma coisa pode dar errado. Reparos e trocas são direitos assegurados no código de defesa do consumidor, Lei 8078/90, não há que mencionar isso nos manuais internos.

“O retrabalho é o mais
nocivo e corrosivo deformador
do ganho e da imagem corporativa”


O retrabalho pode ser definido como a repetição total ou parcial de um serviço ou fornecimento em razão da prestação inicial inadequada, ocorrendo em 11% das operações de produção, em 13% das transações de vendas e em 27% das prestações de serviços, subtraindo, em média, 9% da margem líquida e arranhando a credibilidade do fornecedor.

Planejamento inconsistente, falha na comunicação, colaborador sem o necessário preparo técnico, insumos com qualidade inferior, equipamentos, tecnologia e métodos ultrapassados e a ausência de monitoramento de atividade, são as principais restrições responsáveis pela ocorrência do retrabalho. Essas restrições quase sempre estão localizadas nos gargalos e nos eventos dependentes.

Gargalo é todo recurso cuja capacidade ou a qualidade é inferior à demanda esperada. O gargalo pode estar localizado na mão de obra, nas máquinas, no método de execução e na matéria-prima, podendo afetar todas as etapas de um sistema ou processo. Cabe ao gestor identificar os pontos nevrálgicos, mapear as situações suscetíveis de desvios indesejáveis no fluxo da atividade e eliminar os gargalos geradores de retrabalho. Isso deve ser feito por um gestor com notória expertise na área auditada.

Evento dependente é a etapa de um processo que tem de acontecer antes que outra possa começar. É quando a etapa subsequente depende da execução da fase anterior. Portanto, é de suma importância o posicionamento correto das operações sequenciais no fluxo do processo, respeitando tempo de execução, movimentação física de insumos, equipamentos apropriados e colaborador com a qualificação técnica necessária em cada etapa. Cabe ao gestor analisar a capacidade de cada equipamento, o desempenho do colaborador e o grau de dependência entre operações, buscando nivelar os recursos para evitar ociosidade, acúmulo de peças em processamento e atividades incompletas.

“Precisamos adotar o hábito
de fazer bem feito, executando
tudo de forma derradeira e
com senso de perfeição”


Todas as vezes que uma mercadoria, um equipamento e o cliente voltam ao fornecedor para reparar alguma falha indesejável, é sinal de retrabalho e ocasiona custos adicionais e desgaste para as partes envolvidas. E, lamentavelmente, a perda de tempo e a insatisfação do cliente não são mensuradas e reparadas financeiramente pelo fornecedor.

O retrabalho está impregnado nas pessoas e nas empresas, passando pelo banco da escola quando um estudante repete um ano letivo, chegando às empresas quando um executivo toma uma decisão equivocada, estendendo ao nível operacional quando uma atividade é refeita porque ocorreu um erro na execução inicial.

Precisamos adotar o hábito de fazer bem feito, executando tudo de forma derradeira e com senso de perfeição. Isso é cultural, passa pela qualidade da educação formal, treinamento, reconhecimento e valorização do desempenho profissional qualitativo em todos os níveis e profissões. Trabalho feito com qualidade definitiva e irretocável é uma exigência e dever de todas as empresas, em todas as atividades e para todos os profissionais, sem exceção.

* Escritor, consultor empresarial e professor licenciado no Unileste

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Tião Aranha

02 de dezembro, 2021 | 08:45

“A busca dum padrão de qualidade é o objetivo premente de qualquer empresa, pó isso é bom sempre estar atualizando um mesmo projeto de trabalho.”

Envie seu Comentário