24 de novembro, de 2021 | 15:19

Jogadoras denunciam dirigentes do Social por falta de pagamento e condições precárias de trabalho

Divulgação
Algumas atletas denunciam atraso de salários, falta de departamento médico e de alimentação inadequadaAlgumas atletas denunciam atraso de salários, falta de departamento médico e de alimentação inadequada

Iniciar o Mineiro Feminino com um WO e terminar o campeonato na vice-lanterna com apenas um ponto foi apenas o início dos problemas do Social Futebol Clube, de Coronel Fabriciano, em 2021. Isso porque o que foi visto em campo pode ser reflexo do que acontece nos bastidores. Em reportagem divulgada nesta quarta-feira (24) pela rádio Itatiaia Vale do Aço (97,1FM), produzida pelo repórter Fernando Silva, algumas jogadoras acusam o presidente do clube, João Pedro da Silveira Neto, o Pedrinho, e o diretor de futebol, Breno Mendes, de uma série de ilegalidades em relação à legislação trabalhista.

Pedrinho assumiu a presidência do Social em abril deste ano e no mês seguinte anunciou a reativação do futebol feminino. No dia 23 de agosto, as atletas e a treinadora foram apresentadas para início dos treinamentos, visando à estreia no Estadual, marcada para o início de setembro.

Segundo algumas jogadoras, o primeiro salário foi pago com atraso e os demais não foram quitados até hoje. Além disso, elas reclamam das precárias condições de trabalho. “Nos apresentamos em agosto e a alimentação estava ok, mas com o passar do tempo ficou a desejar. Diminuiu a quantidade e qualidade da proteína. Era servido só linguiça frita no almoço e janta, o que não é alimentação de atleta”, denunciou a goleira Camila Menezes à Itatiaia Vale do Aço. “Tinha promessa de irrigar o campo (do Estádio Louís Ensch) e nada. Atletas se machucaram por causa das condições do campo e não tinha fisioterapeuta”, criticou a jogadora, citando a ausência de um setor básico para qualquer time de futebol, o departamento médico. “Tem os salários atrasados. E o primeiro jogo não aconteceu pela negligência deles em entregar os documentos. Isso foi gerando uma revolta”.

Gestor de quatro jogadoras, Daniel Jorge, da DG Esportes, também relatou a situação ao repórter Fernando Silva. “Clube sem estrutura alguma, sem material esportivo, sem campo, sem bola, sem uniforme para treinar. WO inadmissível para atletas que nunca passaram por isso. Na última rodada tiveram que pagar carro de aplicativo do próprio bolso”, disse Daniel, contando que havia sempre a promessa de pagar os salários e resolver demais problemas, mas nada era sanado. “O que foi prometido não foi cumprido. Atleta que deveria ser profissionalizada e não foi, atleta que deveria ter sido inscrita e não foi, atleta lesionada que está machucada até hoje com lesão grave e o clube não deu parecer”.

Yago Cardoso
O presidente do clube, João Pedro da Silveira Neto, o Pedrinho, é acusado de não cumprir com os contratos trabalhistas com as atletasO presidente do clube, João Pedro da Silveira Neto, o Pedrinho, é acusado de não cumprir com os contratos trabalhistas com as atletas
Todo esse caos interno, segundo as denúncias, certamente influenciou no desempenho em campo. Foram quatro derrotas (uma por WO) e um empate no Estadual. Além dos problemas internos gerarem prejuízos esportivos ao Social, a falta de trabalho e infraestrutura reflete diretamente na vida e sonhos das mulheres que tentam ganhar a vida no esporte. “É uma covardia sem tamanho. Estão lidando com sonhos, atletas mulheres que deixaram seu seio familiar para viver o futebol e esbarram em pessoas que não têm respeito pela vida, pelo ser humano e pelo desporto. Eles atraíram atletas, empresas e terceiros na questão de trocas e empréstimos. Não pagaram a cirurgia de duas atletas lesionadas”, criticou Daniel Jorge, que informou à Itatiaia Vale do Aço que está buscando meios legais para compensar os danos causados.

Empréstimos

Além das denúncias das jogadoras, o repórter teve acesso a documentos que apontam ainda empréstimos feitos pelos dirigentes em nome do clube. Conforme a matéria, o presidente Pedrinho e a esposa dele, o diretor de futebol Breno Mendes e outras duas pessoas sem ligação com o Social teriam feito empréstimos junto a pessoas físicas em nome do clube.

Documentos também dão conta de que Pedrinho teria recebido R$ 72 mil de uma imobiliária, como empréstimo, mas esse dinheiro não teria chegado ao caixa do clube. Ainda havia a previsão de que a empresa emprestasse mais R$ 84 mil, o que não chegou a ser concretizado.

O presidente do time socialino ainda firmou empréstimo com outra imobiliária no dia 20 de outubro deste ano. Porém, essa nova negociação não deveria ter ocorrido, já que o mandato dele encerrou cinco dias antes, portanto ele não poderia mais responder legalmente como presidente sem haver convocação de novas eleições em assembleia do clube.

Ainda sem resposta

O Diário do Aço tentou entrar em contato com o presidente do clube, Pedrinho, e o diretor de futebol, Breno Mendes, mas até o momento não teve retorno.


''Até quando vale a pena lutar para crescer no futebol?''


Reprodução Twitter Gabriele Silva
Gabriele Silva defendeu o Social no Estadual deste ano e hoje se questiona se vale a pena seguir na profissãoGabriele Silva defendeu o Social no Estadual deste ano e hoje se questiona se vale a pena seguir na profissão
A falta de estrutura e o atraso salarial não é novidade para muitas jogadoras de futebol. Exemplo disso é a meio-campo Gabriele Silva, de 24 anos, que defendeu o Social no Mineiro deste ano. Natural de Florianópolis, em Santa Catarina, ela iniciou sua carreira profissional em 2017. “Comecei no Grêmio. Me viram jogar na praia e me levara para lá. Fiz minha base no clube, onde fiquei até metade de 2019, depois segui para o Internacional”, contou ela.

Depois desse início, a meia seguiu para o Iranduba, de Manaus, no início de 2020. “O contrato era de um ano, mas por causa da pandemia e problemas com patrocinadores eu fui para casa e pedi acordo”, relembra Gabriele. Nesse acordo, o clube manauara se comprometeu a parcelar a dívida com a atleta em duas parcelas, que até hoje não foram quitadas.

Depois dessa primeira frustração, ela ficou um tempo parada e depois acertou com um time de Brasília, para disputar o estadual. “Mas só fiquei quatro horas no clube. A estrutura era horrorosa, sem condições de viver. Havia sujeira. Num momento de pandemia o banheiro não tinha descarga e água vinha com a cor do parafuso enferrujado”, relatou Gabriele, que precisou voltar novamente para casa, até acertar com o Bahia no início de 2021, para disputar a Série A do Campeonato Brasileiro.

“Num dos jogos com o Bahia, o Breno Mendes me procurou para jogar no Social. Mas passei direto para o gestor da minha carreira (Daniel Jorge), porque é ele quem cuida disso”, lembrou a meia, que saiu do Bahia em julho e foi para o time fabricianense, onde novamente enfrenta os problemas de estrutura e falta de pagamento.

Quando estava no Grêmio, Gabriele vivia sozinha, mas, depois de tantas incertezas no futebol, sempre que volta para a casa é para a residência dos pais. Quando está sem clube, ela joga por um time de futebol 7 em Florianópolis, para manter a forma.

Com o futebol como sua única fonte de renda, a atleta admite que já começou a pensar em abandonar a carreira. “É muito turbulento porque a modalidade é atrasada. Sofremos de diversas maneiras. A profissão exige muito da gente, mas a insegurança desestimula, é triste”, lamentou. “Fico pensando se vale a pena. Aí me vem o alerta de começar a me preparar para outra profissão, estudar... Até quando vale a pena lutar para crescer no futebol?”, questiona Gabriele.
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