05 de outubro, de 2021 | 13:43

Porque os preços vão subir ainda mais no ano que vem?

William Passos *

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu no dia 22 de setembro os juros básicos da economia (Selic) para 6,25% ao ano. Com o reajuste, descontando a inflação (juros reais), o Brasil passa a ter a segunda maior taxa de juros do planeta.

O detalhe fundamental é que o BC afirmou que os juros vão “avançar sobre território contracionista”, ou seja, mesmo que haja diminuição do crescimento, os juros continuarão subindo na tentativa de que a inflação anual não alcance 10%. Com isso, poderemos ter juros básicos (os juros mínimos da economia) na casa dos 8,5% em dezembro, fazendo com que o governo Bolsonaro entre em ano eleitoral com juros maiores do que os 6,5% que recebeu do governo Temer.

Se até então a inflação estava muito concentrada nos alimentos, o diagnóstico do BC é que agora ela contaminou também o preço dos bens industriais e da energia elétrica, ajudando a frear o crescimento do ano que vem, que poderá não ultrapassar 1%, e com possibilidade até de chegar a 0%, ou mesmo ficar negativo, caso haja racionamento de energia elétrica.

Como consequência, continuaremos tendo alto desemprego (desocupação) em 2022, dólar na maior parte do ano entre R$ 5 e R$ 5,50 e empobrecimento relativo da população, seja pelo aumento da pobreza e queda da renda, seja pela perda do poder de compra da moeda (dinheiro).

Com o aumento dos juros básicos e da inflação, os preços vão subir ainda mais no ano que vem porque os custos da produção e dos empresários vão subir, obrigando os repasses dos valores aos consumidores. Ao mesmo tempo, o crédito ficará mais caro, elevando o valor dos empréstimos e financiamentos, o que inclui as faturas atrasadas dos cartões de crédito e o cheque especial. Como a margem de redução das despesas está cada vez mais curta, por causa dos sacrifícios impostos pela pandemia, as famílias (domicílios) serão cada vez mais empurradas para a inadimplência (dívidas maiores de 90 dias) e o endividamento, retroalimentando o aumento dos preços, da inflação, dos juros, do desemprego, da inadimplência e do endividamento. Sem falar no aumento da pobreza, da miséria e da fome.

Tendo atravessado diferentes governos e se consolidado como política de Estado, o objetivo mais básico do Bolsa Família, quando criado, foi o de garantir, pelo menos, três refeições por dia a todos os brasileiros. Fundamentalmente em períodos de crise, como este que vivemos, o Bolsa Família deveria servir de retaguarda para impedir que brasileiros passassem necessidades. Mas o abandono das políticas sociais no atual governo, com a falta de ampliação ou, ao menos, atualização da cobertura, e de reajuste dos valores acima da inflação, faz com que a crise atinja, de maneira ainda mais dramática, os mais vulneráveis, que correspondem a parcela da população que mais sente a crise e o aumento dos preços.

A Tom Jobim é atribuída a frase “o Brasil não é para principiantes”, que, com o passar do tempo, ganhou a variação “o Brasil não é para amadores”. Quando o assunto é aumento de preços, nunca é demais recordar que a inexperiência anterior a este governo, tanto do ministro da Economia quanto do presidente da República, tem custado muito caro ao Brasil, e os brasileiros vêm sentindo isso no bolso, a parte mais sensível do corpo humano. Na política, o problema não são as preferências ideológicas, de partido ou de pessoas. O problema são os mitos.

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]

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