02 de outubro, de 2021 | 10:41
Coleção De Versos lança poema que fala sobre a tragédia no rio Doce
Você já imaginou como seria descrever, na forma de um longo poema, que ocupa todo um livro, o que foi a tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em novembro de 2015? Pois é o que fez o escritor, poeta e dramaturgo José Carlos Aragão no livro Rio Doce Rio”, lançado neste sábado (2), em Belo Horizonte. A obra faz parte da coleção De Versos, produzida pela Comunicação de Fato Editora e dedicada apenas aos livros de poesia. O segundo lançamento da série será em novembro.
Aragão define Rio Doce Rio” como um longo poema sobre a morte de um dos mais importantes rios do Brasil. O poema é sobre vidas alteradas ou destruídas ao longo do rio e sua bacia; sobre o custo socioambiental do desastre; sobre responsabilidades nunca assumidas; sobre a impunidade que se arrasta pelo tempo e sobre a importância da preservação da memória dos fatos, para que não se repitam”, afirma o escritor.
No poema, ele descreve o avanço da lama sobre os cursos dágua (krenak pressente a morte/o horror que passa ao largo/e faz cascudo e mandi/procurarem em terra firme/outros ares, outra sorte/sina talvez mais feliz). O autor também critica a não-punição dos culpados (Mas aqui a morte é outra/urdida nos gabinetes/na vileza da omissão/e na ambição desmedida/das grandes corporações). Aragão faz referência aos que morreram e aos que perderam tudo no rompimento da barragem (cada um que ainda vive/com casa, comida e pensão/ainda vê no Fundão vazante/sepulto/um parente, um móvel/um cão).
A barragem de Fundão era de propriedade da Samarco, uma associação entre a Vale e a mineradora inglesa BHP Billinton. Na forma de cobrança, Aragão cita a mineradora brasileira para indagar sobre a reparação dos danos causados. (Quanto vale/esse vale/recoberto/de rejeitos/e quem vai/pagar a conta/dos malfeitos?).
Reconhecimento
Rio Doce Rio” tem prefácio do escritor Leo Cunha e posfácio do escritor e dramaturgo Wilson Coêlho, que considera o livro um poema testamento que, apesar de ser uma poesia da morte anunciada, em seus versos tecidos de dor e lamento, é uma declaração de amor à vida”. Leo Cunha define Rio Doce Rio” como uma ode e um tributo. Um canto para um rio que era melodia e hoje é silêncio”, descreve.
O autor, José Carlos Aragão, nasceu às margens do rio Doce, em Governador Valadares. É jornalista, escritor e dramaturgo, com formação em artes visuais pela UFMG, e atuou na assessoria de comunicação da Prefeitura de Ipatinga, nos anos 90. Possui mais de 30 livros publicados, de literatura infantil e juvenil, poesia, teatro e ficção. Foi finalista do Prêmio Jabuti de 2015 e recebeu cinco prêmios da União Brasileira de Escritores por obras de literatura infantil e juvenil.
Coleção De Versos
Rio Doce Rio” faz parte da coleção de livros de poesia De Versos, que está sendo lançada pela Comunicação de Fato Editora, de Belo Horizonte, que até agora produzia livros de não-ficção. Rio Doce Rio” é a primeira incursão da editora na área de literatura. Este ano, serão dois lançamentos pela coleção De Versos, incluindo o próximo, De Tudo o Que Foi Dito”, do também mineiro Luiz Roberto Pereira, que escreve poemas desde a adolescência, mas somente agora terá seu primeiro livro publicado, com lançamento em novembro.
De acordo com o jornalista Marcelo Freitas, diretor da Comunicação de Fato Editora, a opção pelo formato de coleção traz um benefício estratégico para os autores, pois faz com que a venda de um livro leve o leitor a querer conhecer os outros livros que integrarem a coleção. Mais informações e entrevistas com o autor: (31) 98764-8896.

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Joao Batista Trevenzoli
02 de outubro, 2021 | 11:17Embora lamente a ausência do poema-título na reportagem, regozijo ao saber que José Carlos Aragão continua sua vida de poeta. O conheci em Ipatinga, durante o governo petista. Taciturno, pouco afável, mas poeta e dos melhores.”