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26 de setembro, de 2021 | 13:00

Estamos esperando o quê?

Marco Antônio Marques Felix *

Uma pesquisa rápida no Google Trends aponta o que qualquer cidadão do mundo já sabe: o termo mais mencionado e pesquisado no ano passado foi “Coronavírus”. Mas bem poderiam ser outros: “parada cardíaca”, “coração”, “AVC”, “infarto”, entre outros próximos.

Isso porque os índices relacionados a esses problemas dispararam concomitantemente à proliferação da covid-19. Não é coincidência. Estudos desenvolvidos na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, ainda em 2020, já haviam apontado que pacientes infectados pelo novo coronavírus têm quatro vezes mais risco de ir a óbito por parada cardíaca. A mesma pesquisa aponta que o perigo é ainda maior entre as mulheres, em cujo grupo o potencial de infarto fatal se eleva em nove vezes em comparação com os homens.

Mas nem precisaria ir tão longe para identificar o agravamento dos quadros de parada cardíaca. Um estudo desenvolvido pelas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Minas Gerais (UFMG), juntamente com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e com o Hospital Alberto Urquiza Wanderley, na Paraíba, também em 2020, mostram que as mortes por infarto, AVC e por problemas cardiovasculares no Brasil desde o início da pandemia ultrapassam os parâmetros observados em Gotemburgo.

Tratando de terras brasileiras, os dados mostram que essas mortalidades cresceram 132% em Manaus em comparação com os números de 2019, antes do período da pandemia; em Belém, houve um aumento de 126%; em Fortaleza, 87,7%, seguido de Recife (71,7%), Rio de Janeiro (38,7%) e São Paulo (31,1%).

“As pessoas não podem
deixar de fazer suas consultas
de rotina, seus checkups anuais
por conta da pandemia, afinal
muitas doenças são silenciosas”


Paradoxalmente, a equipe que realizou o estudo observou que a procura por atendimento hospitalar por AVC e ataques cardíacos havia sofrido redução a partir do início da pandemia. Eles concluíram que as pessoas com problemas cardiovasculares estavam morrendo em casa, por medo de ir ao hospital em plena pandemia.

Mesmo em 2021, num cenário mais propício à distribuição das vacinas, há projeções negativas para os índices de mortalidades provocadas por doenças cardiovasculares. O Cardiômetro, medidor da SBC que faz o registro de mortes por problemas cardíacos em tempo real no Brasil, mostrou que foram 380 mil óbitos em 2020. Neste ano, até os primeiros dias de setembro, mais de 275 mil pessoas já haviam morrido, e há chances reais de o número de mortes romper a barreira dos 400 mil até dezembro.

Apenas duas palavras sintetizam aquelas que são as medidas mais eficazes para derrubar drasticamente essas estatísticas brutais: conscientização e prevenção. A conscientização consiste no reconhecimento de que a covid-19 pode propagar doenças mais sérias, para as quais é necessário um cuidado igualmente rigoroso, como tem sido o de muitas pessoas quase que exclusivamente com o novo coronavírus.

A prevenção advém da conscientização para a prevenção e também para medidas de atuação nas situações de emergência. Para a prevenção, as pessoas não podem deixar de fazer suas consultas de rotina, seus checkups anuais por conta da pandemia, afinal muitas doenças são silenciosas, é preciso manter os cuidados com a saúde mesmo na pandemia.

Por outro lado, no caso da prevenção a morte por parada cardíaca e outras emergências cardíacas, as pessoas devem se conscientizar que é possível ter ferramentas para o socorro rápido nos locais que as pessoas frequentam e nas próprias residências. Além de saber que todos podemos, e devemos, saber e fazer as compressões torácicas (popularmente conhecido por massagem cardíaca) para ajudar a manter os batimentos cardíacos; existe um equipamento que pode reverter a parada cardíaca: o DEA - Desfibrilador Externo Automático.

Um panorama que só reforça o quanto essa pauta carece de maior atenção. Foi necessário que surgissem as primeiras milhares de mortes mundo afora para que a covid-19 ganhasse a repercussão que ganhou. Mas eis, diante dos nossos olhos, uma doença que, sempre foi a maior causa de morte no Brasil, e desde o início da pandemia, fez, apenas no Brasil, mais de 660 mil mortos. Afinal, estamos esperando mais o quê?

* Geriatra, anestesiologista e especialista da Cmos Drake - [email protected]

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