20 de setembro, de 2021 | 09:15
Atividades durante a semana lembram o centenário do nascimento do educador Paulo Freire
Reprodução
Nascido em Recife, em 1921, Paulo Freire foi o filho caçula de um capitão da Polícia Militar e uma dona de casa e entrou para a história mundial como pensador da Educação
Nascido em Recife, em 1921, Paulo Freire foi o filho caçula de um capitão da Polícia Militar e uma dona de casa e entrou para a história mundial como pensador da Educação
O educador e pedagogo Paulo Freire, patrono da educação brasileira, completou um século de seu nascimento no domingo (19). Ele recebeu o título em reconhecimento ao seu método pedagógico que revolucionou a prática educacional ao propor uma educação horizontalizada, antiautoritária, com desenvolvimento do senso crítico e a serviço da transformação social. Atividades vêm sendo desenvolvidas desde a semana passada como o Seminário Internacional Ano 100 com Paulo Freire.
Dentre várias menções internacionais, a Embaixada de Portugal em Brasília publicou neste domingo, em sua página a mensagem: "Paulo Freire, que hoje faria 100 anos, é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. Foi homenageado com pelo menos 40 títulos de Doutor Honoris Causa, incluindo da Universidade de Coimbra".
Nascido em Recife, em 1921, Paulo Freire foi o filho caçula de um capitão da Polícia Militar e uma dona de casa. Formado na Faculdade de Direito do Recife, sua vida seria, porém, dedicada à alfabetização e à educação popular.
Em 1963, Freire executou um notório projeto de alfabetização de mais de 300 adultos em 40 horas, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. A experiência foi um sucesso tão grande que, em princípios de 1964, pouco antes do golpe que daria início à Ditadura Militar, o então presidente João Goulart havia oficializado o método de Freire no Plano Nacional de Alfabetização. O que, no entanto, não pôde ser posto em prática por conta da deposição do presidente, das novas políticas autoritárias do governo ditatorial, e a prisão e exílio de Freire.
A partir de então, o educador percorreria mais de 50 países, lecionando em diversos centros universitários e aplicando o seu método de alfabetização pelo mundo, sendo amplamente reconhecido e respeitado.
Defendendo que uma pedagogia da libertação deveria substituir a pedagogia da dominação, Freire publicou dezenas de livros, é doutor honoris causa em pelo menos 35 universidades pelo mundo, e é referência para formação de professores e educadores em diversos países. Seu livro mais famoso, Pedagogia do Oprimido, foi traduzido para mais de 30 idiomas, sendo a terceira obra mais citada no mundo na área de humanas, segundo estudo da London School of Economics de 2016. Freire é hoje um dos mais conhecidos intelectuais brasileiros, embora seja frequentemente alvo de notícias falsas disseminadas com objetivos escusos.
Dentre os prêmios de seu histórico está o Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco).
Referência mundial
O nome de Paulo Freire passou a ser envolvido em questionamentos a partir da metade da primeira década do século XXI, com a ascensão da extrema direita ao poder. O modelo de educação horizontalizada não combina com os conceitos de governo autoritário defendido pela direita. Visão crítica do mundo é uma ameaça ao modelo de sociedade com métodos verticalizados do poder dominante, ou seja, as ordens precisam chegar prontas, pensadas de cima para baixo e devem ser cumpridas sem questionamentos.
Entretanto, não há discurso que sustente a derrubada do reconhecimento de Paulo Freire como um pensador da educação para a humanidade. A professora de História da Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Maurilane de Souza Biccas, lembra que a obra de Paulo Freire é estudada em todo o mundo como base de pesquisas em educação.
"Os livros de Paulo Freire foram publicados em quase todo mundo. A Pedagogia do Oprimido, é a obra mais importante, a terceira mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo, foi traduzida e publicada em mais de 20 idiomas. A produção teórica e a reflexão sobre sua prática como educador e consultor, inspirou e ainda tem inspirado, inúmeras pesquisas acadêmicas e práticas pedagógicas que são realizadas no Brasil e em vários países do mundo", diz.
Pioneiro
O pesquisador no curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor e pós-doutor em educação, Ítalo Francisco Curcio, enfatiza a importância de Paulo Freire no fato de que ele foi o primeiro a pensar em um método educacional voltado para a realidade brasileira. Em 1963, o educador aplicou seu método em Angicos, cidade do interior do Rio Grande do Norte. O projeto conseguiu alfabetizar 300 adultos em apenas 45 dias. "Paulo Freire apresenta um trabalho revolucionário. Ele mostrou que não tínhamos modelos adequados para a nossa realidade", explica Ítalo.
Apesar do reconhecimento mundial, o método do educador Paulo Freire nunca foi usado em larga escala em seu próprio país. O método nunca foi aplicado em nível nacional. Ele nunca foi aceito integralmente”, destaca Ítalo. Apesar disso, o professor lembra que a influência de Paulo Freire pode ser sentida em várias escolas pelo país. Os métodos hoje são híbridos, não é adotado um método único e todos têm defeitos. E essa é a beleza de Paulo Freire, ele dizia que era preciso respeitar as características de cada um e aproveitar o conhecimento. Hoje tem muitas escolas que trabalham assim, mas ninguém fala que é Paulo Freire. Ele também dizia que o conhecimento precisa ser contextualizado, o que as escolas também fazem”, afirma o pesquisador.
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