08 de setembro, de 2021 | 12:49

Parque Estadual do Rio Doce: concessão ao setor privado à vista

Antônio Nahas Júnior *


Nosso Parque, que enfeita as margens do Piracicaba e cujas matas são visíveis em bairros como Cariru e das Águas deverá, brevemente, ser concedido à iniciativa privada. Sua concessão e a de outros onze parques estaduais está prevista no Programa de Concessão dos Parques Estaduais – PARC -, que deverá ser concluído até o fim do ano que vem.

O programa já está em andamento e no mês de agosto foi assinada a concessão de três unidades de conservação – Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato; Monumento Natural Estadual Peter Lund e o magnífico Parque Estadual do Sumidouro -.

Aqui no Parque Estadual já está em licitação a contratação de Organização Não Governamental pelo Governo do Estado, que irá gerenciar o investimento de mais de vinte milhões, a ser feito com recursos da Fundação Renova, que visam sua reforma.

Polêmica - A exploração e manutenção de áreas de preservação ambiental pela iniciativa privada não deixa de ser polêmica. Muitos consideram praticamente impossível conciliar preservação ambiental com o uso comercial e turístico de uma unidade de conservação.

Esta polêmica marcou gerações e continua a nos assombrar. O Parque possui uma de área de 36.970 hectares e abriga a maior área de floresta verde em Minas Gerais. Possui mais de 40 lagoas, entre as quais a Lagoa Dom Helvécio, o bispo de Mariana que iniciou o movimento pela sua preservação, ainda na década de 30, no século passado.

Lá coexistem arvores centenárias; animais silvestres e uma riquíssima fauna, além de paisagens deslumbrantes.
Se o Parque não tivesse sido tombado ainda na metade do XX – 1944 -, muito provavelmente a sua área já teria sofrido inúmeras ocupações ilegais; loteamentos clandestinos; desmatamento e tudo mais.

Após seu tombamento, o Vale do Aço expandiu-se, com o surgimento da Usiminas, Cenibra. A população da região cresceu enormemente. Mesmo havendo acelerada urbanização, o Parque permaneceu intacto. Contribuiu muito para a sua preservação a dificuldade de acesso, pelo fato de ser isolado por duas fronteiras naturais: os rios Doce e Piracicaba.

Portanto, sua trajetória de preservação foi assegurada pela sua não convivência com atividades antrópicas que visassem sua exploração econômica.

Porém, hoje em dia, quando a consciência ambiental é mais presente e onde o Estado e as empresas assumem o meio ambiente como uma premissa básica para a sobrevivência da humanidade, é possível combinar a preservação ambiental com sua concessão e exploração econômica pelo setor privado.

A ideia é desafiadora. É bom ter em vista que o produto turístico a ser vendido e promovido pelos concessionários será o próprio Parque. Os turistas querem contemplar a natureza; conhecer suas lagoas; conhecer as espécies nativas; ir ao mirante; observar a avifauna; ter a oportunidade de nadar ou mergulhar em águas límpidas e não poluídas.

Desta forma, há confluência entre os interesses dos concessionários e do poder concedente. Com manejo adequado, transparência e acompanhamento da sociedade, o Parque pode trazer renda e emprego para a região.

Talvez o município que mais possa ganhar com uma concessão bem planejada do Parque seja Ipatinga, banhada pelo Piracicaba, onde suas águas encontram o Doce. O município possui aeroporto; boa rede hoteleira; shopping e, caso seja possível viabilizar acesso ao Parque por Ipatinga, mesmo que seja por meios fluviais, poderia haver um importante fluxo de turistas, já atraídos pelas atividades da siderurgia.

Seria oportuno que os prefeitos da região procurassem abrir diálogo com o Governo Estadual sobre o futuro do Parque Estadual do Rio Doce para participar da formatação do Edital, na busca da proposta mais vantajosa para nossa região.

Há ainda muitos investimentos a serem feitos com recursos da Fundação Renova, os quais podem transformar o parque num vetor de conservação da natureza e polo de ecoturismo regional e nacional.

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria

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Comentários

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Moysés Maltta

09 de setembro, 2021 | 19:36

“Análise muito arguta do Economista Nahas. Só acrescentaria duas notas de passagem. A primeira delas é para dar o devido mérito ao grande bispo D Helvécio como responsável para que a área do PERD fosse conservada.
A segunda nota é para lembrar que já passamos por uma experiência fracassada nessa parceria pública - privada para abrir o PERD ao público, recentemente.”

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