CÂmara de Ipatinga 728x90

05 de agosto, de 2021 | 08:00

Treinador de goleiros fala sobre rotina de um ano e meio sem futebol na Indonésia

O ipatinguense Luizinho Passos relata como trabalha distante dos colegas e como está sendo a rotina da família num país estrangeiro durante a pandemia

Divulgação Persib Bandung
Ipatinguense conta como seu trabalho é valorizado na IndonésiaIpatinguense conta como seu trabalho é valorizado na Indonésia

A pandemia de covid-19 alterou a vida da população mundial, além de diversos setores da economia, e não seria diferente com o futebol. No Brasil, os campeonatos foram paralisados por quatro meses no ano passado, porém, na Indonésia, o futebol segue suspenso até hoje. Vivendo essa rotina de perto, trabalhando no clube indonésio Persib Bandung, o treinador de goleiros ipatinguense Luiz Fernando Silva Passos, o Luizinho, contou ao Diário do Aço como está sendo sua rotina no país ao lado da família e como está trabalhando há quase um ano e meio distante dos colegas.

Com 18 anos de carreira, Luizinho trabalhou em diversos clubes no Brasil, entre eles Ipatinga, Cruzeiro e América. Antes, foi goleiro da base do América e do Atlético, tendo em seguida atuado por alguns clubes do interior de São Paulo antes de abraçar a profissão de treinador de goleiros. Desembarcou na Indonésia em 2017 para trabalhar na primeira liga local, no Borneo Football Club, onde ficou por três anos; hoje atua no Persib Bandung. Vivendo na cidade de Bandung com a mulher, Suellen Passos e dois de seus filhos, Davi, de sete anos e Luiza, de dez, o profissional está desde março do ano passado em casa, isso porque todos os campeonatos de futebol foram suspensos no país.
“O governo aqui é muito rígido com a pandemia. As ligas 1, 2 e 3 estão paralisadas há quase um ano e meio. Na última partida que fizemos, em março do ano passado, nosso time venceu por 2 a 1. E agora estamos orando para que o futebol volte. Precisamos voltar a trabalhar, todos temos família”, frisou ele, dizendo que a expectativa é de que os campeonatos voltem em setembro. “Estava previsto para voltar em julho, mas adiou de novo por causa da variante delta, o que nos colocou em novo lockdown”.
 
Trabalho em casa

Luizinho conta que depois de três meses de lockdown em 2020, os profissionais do clube voltaram aos treinos, mesmo sem perspectivas de um jogo oficial. “Trabalhamos por três semanas para manter os jogadores em atividade e nossas mentes sãs. Em 2021, retomamos a rotina de treinos, mas aí houve outro adiamento do retorno dos campeonatos e, com o novo lockdown, os jogadores já estão há um mês em casa”, explicou.

Diante da rigidez do país no controle da pandemia e com a impossibilidade de se reunir com os atletas, Luizinho criou um novo esquema de trabalho. “Fornecemos trabalho via vídeo todos os dias, para que eles se mantenham minimamente em forma e não pensem tanto no estresse sem liga e nem na covid”.

Divulgação Persib Bandung
Luizinho e os goleiros do Persib Bandung, num dos últimos treinos presenciais da equipeLuizinho e os goleiros do Persib Bandung, num dos últimos treinos presenciais da equipe


Corte de salário

A mudança de rotina sem os campeonatos também afetou o rendimento de todos. “Houve corte de 75% nos salários. Mas os 25% a que temos direito são pagos regularmente todo começo de mês. O clube é muito bacana nesse ponto. Mesmo no ano passado, com três meses em casa por causa do lockdown, o pagamento de 25% acertado entre clubes e federação foi pago normalmente”, ressaltou Luizinho. No futebol indonésio, os clubes pagam em dólar ou na moeda local (a rupia), mas com cotação em dólar.

Mesmo com o pagamento feito em dia, o treinador de goleiros conta como essa redução afeta seus planos. “Após mais de um ano parado, com corte no salário, morando fora do país, a gente acaba mexendo no que foi guardado ao longo do tempo. Quando o futebol voltar é tentar recuperar esse valor”.

A variante delta do coronavírus também atingiu os países vizinhos, afetando o futebol. Na Malásia os campeonatos voltaram recentemente, mas estão suspensos na Tailândia e Vietnã.
 
Rotina com a família

Embora viva num país paradisíaco, a vida na Indonésia em meio à pandemia está limitada às paredes de casa. “Bandung é uma cidade bonita, de montanha, é arborizada e tem um clima gostoso. A Indonésia é um país tropical, lembra muito o Brasil”, contou Luizinho. “Para me manter em casa, pratico atividades físicas e elaboro exercícios para os goleiros do clube. Meus filhos têm aula on-line e no tempo livre tentamos distraí-los, com leitura e televisão também”, disse ele, destacando a evolução dos filhos. “Aqui eles estão na escola, que não é barata por ser estrangeira, mas eles estão evoluindo bem, aprendem novas línguas, evoluíram bem o inglês”.

Luizinho agradece que todos estão com saúde, mas lembra o período em que foi acometido pela covid-19. “Eu e minha esposa tivemos covid um mês atrás, mesmo com todos os cuidados tomados. Ficamos duas semanas isolados e as crianças não pegaram, ficaram em outro quarto. Soubemos nos organizar para não ter contato com eles”, detalhou.
 
Persib Bandung

Um dos clubes mais tradicionais e de maior torcida da Indonésia, o Persib Bandung, que tem como dono um chinês, abriga outros estrangeiros. O treinador é holandês, assim como dois jogadores, Jofrey e Nick; um atacante é o brasileiro Vander Luís e outro atleta é da Palestina. “Na comissão técnica só tem eu de brasileiro. Mas para o time são três vagas para estrangeiros e uma para estrangeiro asiático”, explicou Luizinho, contando que também indicou profissionais para outros clubes indonésios, como os treinadores de goleiro Marcelo e Salomão.

“O treinador do Bali é o brasileiro Teco, que é bicampeão dentro do país. O mercado aqui é aberto aos brasileiros”.
 
Saudade do Brasil

Embora a Indonésia viva um momento delicado por causa da pandemia, os moradores podem deixar o país no momento que desejarem. “Tem que fazer teste para sair e voltar. Para voltar, independente do resultado do teste para covid, é preciso ficar isolado por 14 dias”, relatou Luizinho, comentando que, se o campeonato for retomado em setembro, a previsão de encerramento é para o fim de março. “Se tudo ocorrer dentro do previsto, eu penso em ir ao Brasil em março. Tenho saudade dos amigos e familiares e dos meus outros filhos, que moram no Brasil”.

A saudade não fica restrita ao âmbito afetivo e familiar. “Tenho saudade de trabalhar no Brasil, mas já passei por dificuldades em clubes que não pagaram ou não me valorizaram profissionalmente. Na Ásia é diferente, não são salários astronômicos, mas são bons salários”, apontou o treinador de goleiros, lembrando que é mais fácil guardar dinheiro na Indonésia.

“Nesses quase quatro anos aqui tenho só que agradecer a Deus de ganhar essa moral dentro de um país estrangeiro. Consegui fazer um trabalho bom no primeiro clube. Temos respaldo grande na mídia, coloquei dois goleiros na seleção do país, no Sub-23. As pessoas te valorizam profissionalmente”, concluiu.

Pandemia na Indonésia


Com uma população de 270 milhões de habitantes, a Indonésia conta 3.496.700 casos de covid-19 e 98.889 mortes causadas pela doença, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. No início da pandemia, o país decretou lockdown de três meses, período em que o futebol foi paralisado. E desde então vinha controlando a doença.

Porém, em maio desse ano, os casos voltaram a crescer com o fim do mês de jejum islâmico. Crescimento exponencial que também foi impulsionado pela variante delta, que surgiu na Índia, país que fica a 4 mil quilômetros de distância. Isso tornou a Indonésia o novo epicentro da pandemia. Por causa dessa segunda onda, a Indonésia impôs novo lockdown no mês de julho.
 
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário