29 de junho, de 2021 | 14:56
Sustentabilidade na Usiminas: proteção ambiental e melhoria da lucratividade
Antônio Nahas Jr. *
Inovação significa competitividade; ampliar mercados; preços melhores e, consequentemente, maior lucratividade”A experiência da Usiminas demonstra que a correta gestão da agenda socioambiental oferece resultados financeiros compensatórios”
O Relatório de Sustentabilidade da Usiminas referente ao Ano de 2020 revela claramente como o atendimento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos princípios do Pacto Global são perfeitamente compatíveis com a sustentabilidade financeira dos empreendimentos de alto impacto socioambiental, como a siderurgia e a mineração. Os resultados do Centro de Pesquisas daquela empresa demonstram isso. A inovação, a busca de novos materiais que se coadunem com os ODS e com o Pacto global, sempre inquietaram os técnicos daquele Centro.
Fundado em 1971, desenvolveu, apenas em 2020, 14 novos tipos de aço, entre eles o Usi Solar, o primeiro aço exclusivo para usinas fotovoltaicas, que resistem muito bem à corrosão atmosférica. Foram desenvolvidos também os aços elétricos, capazes de aumentar o rendimento energético dos motores, e também os aços de alta resistência mecânica e espessura reduzida. Esses novos produtos permitem tanto a construção de motores com maior rendimento quanto a construção de veículos mais leves, com uma menor taxa de emissão de gases de efeito estufa.
Inovação significa competitividade; ampliar mercados; preços melhores e, consequentemente, maior lucratividade. Um ótimo exemplo sobre como a indústria brasileira de transformação pode recuperar o espaço perdido ao longo das décadas passadas. Seus técnicos fizeram jus à história daquela instituição, que já abrigou ilustres personagens da história de Ipatinga.
Em Itatiaiuçu, a Mineração Usiminas SA (MUSA) avançou consideravelmente na desativação da barragem Minas Oeste (Somisa) e acabou ali encontrando uma nova fonte de mineração: cerca de 60% do material utilizado hoje pela mineradora vêm dos resíduos descomissionados das barragens. Assim, resíduos destinados ao abandono, que já haviam sido descartados no meio ambiente como inservíveis, voltaram ao processo industrial e se transformaram em matéria prima para serem utilizados pela sociedade.
Trata-se de uma forma de reciclagem de lixo industrial em larga escala, transformando em valor o que antes era um transtorno ambiental. Tudo isso vem dentro de um processo planejado com esmero: a companhia criou a Gerência de Sustentabilidade, que passou a centralizar esta agenda, estruturando metas e indicadores relacionados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Nesse processo, a empresa procurou envolver seus clientes, colaboradores e fornecedores. Foi feita uma pesquisa com o público-alvo - clientes, empregados, conselho de administração, especialistas em sustentabilidade, instituições financeiras, fornecedores (210 respondentes) - e, com base nesta audiência, desenvolvido um Plano de Ação Global, desdobrado em Metas e Indicadores, a ser implementado na empresa, com a participação de todos.
A agenda desenvolvida abrigou os seguintes pontos: Ética e Transparência; Governança Corporativa; Gestão de Resíduos e Materiais Perigosos; Gestão da Água e Efluentes; Biodiversidade e Uso do Solo; Emissão de Gases de Efeito Estufa; Segurança de Barragens; Saúde e Segurança Ocupacional; Treinamento e Capacitação; Diversidade; Igualdade e Inclusão; Relacionamento com comunidades; Qualidade do ar e poluente.
Todos os pontos foram devidamente analisados e traçadas metas para sua convergência com os objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Foram também definidos os responsáveis pela sua implementação e produzidos indicadores para monitoramento da sua implementação.
Enfim: toda a empresa se mobiliza para que as metas traçadas sejam atingidas. A Agenda Socioambiental incorpora-se à cultura da empresa, tornando-se um poderoso estímulo para todos e unificando seus colaboradores em torno desta missão, que, em última instância, faz convergir os interesses corporativos com o bem comum.
A implementação de uma agenda tão complexa é um enorme desafio, levando-se em conta o tamanho da empresa. O relatório percorre todas as áreas da Usiminas e descerra o seu perfil: são quatro unidades de negócio com cinco empresas Siderurgia, Mineração, Transformação do Aço e bens de capital, que atuam em cinco estados do Brasil: Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco.
A Usiminas conta ainda com 23 mil colaboradores (entre pessoal próprio e empresas terceirizadas) e 4.246 fornecedores. Este gigante faturou, em 2020, 19,8 bilhões de reais. O valor adicionado gerado pela empresa - após deduzir do faturamento os custos com matéria prima, energia e o desgaste com os bens de produção - alcançou 6,6 bilhões de reais. Porém, 34,5% deste valor gerado vão parar nas mãos do Governo, e apenas 18% são distribuídos como salários e encargos.
De toda forma, a experiência da Usiminas demonstra que a correta gestão da agenda socioambiental oferece resultados financeiros compensatórios. E mais ainda: associar sua execução a benefícios fiscais contribuiria para a sua disseminação; aumentaria os investimentos em inovação e modernização industrial, reduziria os custos empresariais e poderia contribuir para elevar a competitividade da nossa indústria.
* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria
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