07 de junho, de 2021 | 14:00

Por que o Brasil está se tornando uma Venezuela?

William Passos *

“O objetivo final, assim como na Venezuela chavista, é fechar o regime, controlar o Supremo Tribunal Federal (motivo pelo qual joga o STF contra a sociedade), manipular o resultado das eleições (com a desculpa de fraude) e eliminar a oposição”.

Diante do segundo episódio de quebra de disciplina mais grave da história do Exército brasileiro, o ministro-chefe da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, disse que a decisão do comandante da Força de livrar de punição o general Pazuello “foi extremamente pensada” (O Globo, 6/6/2021). A participação do ex-ministro da Saúde no ato de apoio a Bolsonaro em 23/5, quando subiu no palanque e falou ao microfone, saudando os apoiadores, só fica atrás do discurso golpista do coronel Bizarria Mamede, em 11/11/1955, com o objetivo de sabotar a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek, sucedido do apoio do presidente em exercício, Carlos Luz, que não concordou com a punição do então ministro da Guerra, general Lott.

Em Pernambuco, documento oficial da comunicação interna da Polícia Militar revela que foi do então comandante-geral da corporação a ordem para repreender o protesto realizado no dia 29/5 contra a atuação de Bolsonaro com balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. Na ação, duas pessoas perderam a visão de um dos olhos (Estado de Minas, 5/6/2021). Vanildo Maranhão, autor da ordem, provavelmente só foi exonerado porque o governador Paulo Câmara (PSB) não é aliado do Planalto.

A cada vez mais escandalosa bolsonarização dos quartéis e das polícias militares aproxima cada vez mais o Brasil da Venezuela chavista. Ao contrário do que espalha Bolsonaro, a subordinação do Exército ao presidente, em troca de poder (cargos), prestígio e dinheiro (absurdos aumentos salariais), empurra o Brasil para um processo de venezuelização de direita crescente. Em conjunto com a liberação das armas e o apoio das polícias, Bolsonaro cria as condições favoráveis para o surgimento de milícias políticas e forças paramilitares.

O objetivo final, assim como na Venezuela chavista, é fechar o regime, controlar o Supremo Tribunal Federal (motivo pelo qual joga o STF contra a sociedade), manipular o resultado das eleições (com a desculpa de fraude) e eliminar a oposição.

Largamente utilizado na Sociologia Militar, em especial pelo coronel Marcelo Pimentel, formado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o conceito de “Partido Militar” refere-se à ingerência das Forças Armadas na política do país. Trata-se de um pequeno grupo coeso do Exército, hierarquizado, disciplinado, autoritário e que se comporta como um partido político formal.

Formados na AMAN nos anos 1970, no auge da repressão da Ditadura Militar, este grupo foi promovido ao generalato, ocupando o Alto-Comando do Exército a partir do início dos anos 2000. Com a Comissão da Verdade, que buscou revelar crimes e atrocidades cometidas na Ditadura, o Partido Militar, que nega ter havido Ditadura no Brasil, passou por reestruturação.

Com ativa participação no impeachment (ou golpe parlamentar?) de 2016, e no lançamento da candidatura presidencial de Bolsonaro, em 2018, o Partido Militar vem loteando a administração de um governo que dificilmente não se pode chamar também de militar, já que são mais de 6 mil militares ocupando cargos civis, número maior que o da própria Ditadura.

A diferença, porém, em relação a Venezuela, é que o Partido Militar não tem projeto político. Seus generais, ao longo da carreira, pouco se interessaram por política, limitando-se a opiniões genéricas de senso comum. Isso também ajuda a explicar as deficiências da formação escolar destes militares, que já protagonizaram erros de geografia e história grosseiros. Seus interesses são movidos apenas pela pauta corporativa, particularmente os privilégios para os generais, como a nomeação de Pazuello, que declarou “nem sabia o que era o SUS”, para o Ministério da Saúde, mesmo diante da maior pandemia da história da humanidade.

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Diário do Aço. Email: [email protected]
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Comentários

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Josimar Andrade

08 de junho, 2021 | 20:53

“Mas que palhaçada, nem consegui ler tudo.”

Ricardo Lopes

08 de junho, 2021 | 09:58

“Para quem ainda tem dúvida, sugiro a leitura dessa matéria, da DW: https://bit.ly/3x38Gtq. "Exército impõe 100 anos de sigilo para processo de Pazuello. Instituição nega a jornal acesso a processo já arquivado sobre participação do general e ex-ministro da Saúde em ato político ao lado de Bolsonaro, argumentando que a documentação contém informações pessoais".”

Renato Pereira Teixeira

07 de junho, 2021 | 16:26

“Fala sério !! Kkkkk”

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