04 de junho, de 2021 | 10:00

Longe do comodismo, rotina de professores tem sido desafiadora na pandemia

Tiago Araújo
O trabalho remoto impôs dificuldades não só aos alunos, mas também aos professores, que precisaram se adaptar rapidamente a uma nova forma de trabalhoO trabalho remoto impôs dificuldades não só aos alunos, mas também aos professores, que precisaram se adaptar rapidamente a uma nova forma de trabalho

A pandemia da covid-19 trouxe desafios para muitos profissionais em diversas áreas. No caso dos professores, o desafio foi educar à distância e, algum tempo depois, retornar às salas de aula em meio à incerteza sanitária, já que a vacinação de profissionais da educação teve início recentemente. A diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, Subsede de Ipatinga (SindUte), Isaura Azevedo Carvalho, avalia o cenário e pondera sobre os percalços vividos pela categoria.

Nas postagens de matérias do Diário do Aço, relacionadas à volta das aulas presenciais, é perceptível que muitos leitores colocaram os professores num lugar de comodismo durante o isolamento social. “Os pais ou os professores que não querem voltar (às aulas)??? Sei não hein”, postou um leitor em matéria publicada na página do jornal no Facebook. Outro comentário abordava a questão financeira: “Tira o salário dos professores pra ver se eles ficam em casa kkkk. Se eu ficar em casa eu sei que não tenho salário, tenho que trabalhar de verdade kkk, sou a favor de tirar o salário pra ver se a conversa será a mesma”, condenou outro usuário da rede.

Adaptação

Diferentemente do que apontam algumas pessoas, Isaura afirma que desde que a modalidade remota foi instituída, os profissionais da educação vêm se desdobrando e se reinventando todos os dias. Não pararam em momento algum as suas atividades profissionais. “Iniciamos essa nova forma de trabalho sem qualquer formação prévia, não nos foram disponibilizados quaisquer meios ou equipamentos para realizá-lo e ainda as cobranças foram potencializadas. Aumentamos nossos gastos com energia, com os melhores equipamentos, aumentando a capacidade da internet para conseguir fazer o atendimento aos estudantes, e inclusive temos nos disponibilizado ao trabalho além da nossa jornada. Isso tudo para dar conta de atender todas as atribuições que nos foram impostas”, destaca.

A diretora lamenta o fato de muitos terem afirmado que a categoria está recebendo salários sem trabalhar. Para ela, quem faz esse tipo de afirmação são as pessoas que não conhecem a realidade da educação e também não reconhecem todo esforço que os profissionais têm feito nesse momento para oferecer uma continuidade ao processo educacional aos estudantes. “A gente reconhece que não é o mais adequado (o momento atual da educação, em virtude da pandemia), não é o melhor, por mais que nos esforcemos, não conseguimos alcançar todos os nossos estudantes. Mas é o que nós conseguimos para minimizar os riscos de contaminação, nesse momento ainda crítico da pandemia. A gente também entende a realidade de muitas famílias nesse momento muito complicado, até porque a responsabilidade do acompanhamento dos filhos está potencializada. Eu, enquanto mãe, acompanhando os estudos das minhas filhas em casa, não é uma tarefa fácil. Mas daí, dizer que as professoras delas não estão trabalhando é uma mentira, uma vez que eu consigo ver e provar o quanto elas têm se disponibilizado”, defende.

Divulgação
Diretora do SindUte, Isaura Azevedo avalia situação e defende a categoria em meio a críticas de quem não conhece o trabalho diário dos educadores  Diretora do SindUte, Isaura Azevedo avalia situação e defende a categoria em meio a críticas de quem não conhece o trabalho diário dos educadores
Descaso

De uma forma geral, para Isaura, os governos vêm tratando e falando da educação como essencial, prioritária, mas as ações conflitam com esse discurso. “Faltam vacinas em todas as esferas de governo e quando se consegue uma autorização para vacinar trabalhadores em educação, antecipando o que estava inicialmente previsto no Plano Nacional de Imunização, isso é feito de forma desorganizada”.

“A gente espera que dentro dos próximos dias a administração consiga realmente materializar o processo de vacinação, de uma forma mais tranquila e respeitosa e que a gente amplie a quantidade de pessoas imunizadas. Mesmo tendo a clareza que a segurança nesse momento de pandemia pede a imunização de uma parcela significativa da população, já é um passo a vacinação de profissionais da educação, uma vez que já estão de volta ao trabalho presencial”, avalia.


Reinvenção e muito esforço



Um professor da rede pública de Ipatinga, que preferiu não se identificar, relatou um pouco de sua rotina, na qual a metade dos alunos vai à escola numa semana e a outra na semana seguinte. “Quem está em casa tem um caderno de aulas remotas e como a escola é integral, tem um caderno do Integral também. Nós orientamos na atividade do dia. Fazemos planejamento na escola e em casa. É trabalho triplicado. Sem contar no monte de papel pra preencher. Pedi pra diretora falar no Colegiado de Diretores e ela diz que a reclamação é geral. O pedagógico fica comprometido no meu entendimento, pois mal entregamos um caderno e já está na hora de entregar o da próxima quinzena”, lamenta.

Também da rede pública de Ipatinga, uma professora afirmou estar esgotada, além de ter tido problemas para se adaptar às novas mídias. “Na noite passada eu nem dormi direito, de tanta dor no ombro, por causa da digitação excessiva de conteúdo. Ontem (quarta-feira) foi minha coordenação e só parei pra vir pra casa. Essa situação de ter de usar a internet e celular para tirar dúvidas tem sido complexa. Eu tive problemas para me adaptar, soube de muitos colegas também (que tiveram a mesma dificuldade)”, pontuou.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Jorge

04 de junho, 2021 | 14:39

“Aulas remotas, professor pensar está ensinando os alunos finge está aprendendo,o aluno aprende de quatro formas: com o professor os colegas da turma,com os pais e ele mesmo desenvolvendo seu raciocínio,sem aulas prensenciais e os pais pensando na maneira do sustento da família,sobrou somente 25% de chance de aprender.”

Gildázio Garcia Vitor

04 de junho, 2021 | 07:26

“Muito bem Companheira Isaura! Parabéns pela abordagem e argumentos utilizados em nossa defesa. Sobre as dificuldades em adaptar às novas tecnologias, imagine as minhas, que sou da turma do mimeógrafo e até o ano passado não tinha nem celular, coisa que mil e uma utilidades. Dá até para ler o Portal Diário do Aço e fazer comentários sem noção.”

Envie seu Comentário