08 de maio, de 2021 | 09:01

Por que a maioria das mães dá à luz entre março e maio?

William Passos*

Hospital, cesárea, mães entre 20 e 25 anos, meninos, março ou maio. Este é o perfil dominante dos partos brasileiros, variável apenas na idade da mãe, cujo pico alcança entre 30 e 34 anos em Ipatinga. Na contramão da vergonhosa epidemia de cesárias, cerca de 57% no Brasil contra os 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o ciclo de gravidez das mulheres brasileiras respeita religiosamente as leis da natureza: a maioria das mães concebe entre junho e outubro e dá à luz em março ou maio (coincidindo com o final do verão e o início ou meados do outono). Em 2018, a maioria dos partos de brasileiros ocorreu em maio; em 2019, predominou em março. Os dados são das Estatísticas do Registro Civil, que concentra os registros de nascimentos dos Cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais e Varas de Família, Foros, Varas Cíveis e Tabelionatos, mas confirmam o que há muito já sabe a Demografia, a ciência que se debruça no estudo da população.

Uma das inferências que estes registros permitem é que, além do ciclo de alta dos nascimentos entre março e maio, há um ciclo de queda dos partos entre novembro e dezembro. Consequentemente, a fecundidade da mulher brasileira aumenta entre o final do outono e o início da primavera, abrangendo ainda todo o inverno, e cai entre o final do verão, passando pelo Carnaval, até meados do outono. Outro dado importante apresentado pelas Estatísticas do Registro Civil é o de que, como resultado do aumento contínuo da escolarização e do maior acesso à informação pela mulher, a cada ano que passa, as mulheres têm sido mães, em média, cada vez mais tarde: a gravidez na adolescência, isto é, aquela abaixo dos 19 anos, já representa menos de 0,70% do total de partos realizados no país, enquanto cresce o número de mulheres que decide ser mãe por volta dos 50 anos, também pelos avanços da medicina.

Outro resultado desmentido pelas emissões dos registros de nascimentos é o de que as mulheres pobres no Brasil ainda têm muitos filhos: embora, de fato, ainda tenham mais filhos comparativamente às de maior renda, a cada ano que passa as mulheres mais pobres também vêm diminuindo o número de gravidezes, seguindo o comportamento geral de fecundidade feminina. Novamente, o maior acesso à escola e à informação, inclusive sobre contracepção, em relação às próprias mães e avós, faz com que as mulheres também deste estrato da população rejeitem a experiência de um grande número de filhos das gerações anteriores.

Do ponto de vista da assistência à saúde reprodutiva feminina e à maternidade, todas essas informações são fundamentais para garantir o apoio e o acompanhamento tanto da mulher quanto dos nascituros, do pré-natal ao pós-parto, o que passa pelo planejamento da rede hospitalar, de modo especial à neonatal, e das unidades de saúde que sirvam de suporte a esta importante etapa da vida da mulher e seu bebê. Também passa pelo combate à vulnerabilidade socioeconômica e afetiva femininas neste importante momento e, fundamentamente, pelo cerceamento do abandono parental, em particular o paterno. Estas são condições primordiais para garantir o direito saudável à maternidade e aos primeiros anos de vida, o que deveria ser universal, permitindo que o maior número possível de mulheres desfrute, todos os anos, de um feliz segundo domingo de maio.

A todas as mães de Minas e do Brasil, um Dia das Mães muito feliz, com muito amor e muita saúde! Vacina para todas as mães!

*Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. E-mail: [email protected]
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