04 de maio, de 2021 | 17:17

Retrato de uma ''estrela'' chamada Fernanda Montenegro

Aos 91 anos, atriz mantém disposição invejável e celebra carreira na televisão, no teatro e no cinema, como uma das maiores artistas do cenário brasileiro

Andrucha Waddington-RG
A última atuação da atriz foi ao lado da filha, Fernanda Torres, no final do ano passado em especiais de TVA última atuação da atriz foi ao lado da filha, Fernanda Torres, no final do ano passado em especiais de TV

Ela é reconhecida como a grande dama do teatro brasileiro. Mas construiu uma carreira brilhante também no rádio, na televisão e no cinema e se mantém ativa aos 91 anos. Em 2021, a televisão celebra 71 anos no Brasil e Fernanda Montenegro comemora seus 71 anos na televisão e 77 de carreira artística. Sobre trabalhar todos esses anos e ainda contar com uma disposição invejável, a atriz destaca: “Desde que você esteja, em primeiro lugar, fazendo o que você ama fazer, é como um esporte: requer seu físico. Tem uma hora em que a disponibilidade do fazer te domina, é como o barato de uma droga”.

Esperançosa em dias melhores, Fernanda Montenegro já está imunizada com as duas doses da vacina contra a covid-19. A atriz nasceu em 1929, na cidade do Rio de Janeiro, numa casa de portugueses e italianos e foi batizada com o nome de Arlette Pinheiro Esteves da Silva. Ela enveredou-se no meio artístico aos 15 anos de idade, quando participou de um concurso da Rádio MEC que selecionou redatores, locutores e atores de rádio. A estreia no teatro foi em 1950, na peça “3.200 Metros de Altitude”, ao lado de Fernando Torres. Ela foi a primeira atriz contratada da TV Tupi do Rio de Janeiro.

No ano de 1952 ganhou o prêmio de melhor atriz revelação da Associação Brasileira dos Críticos Teatrais por seu trabalho em dois espetáculos. Nesta mesma época, fez parte da Companhia Maria Della Costa e do Teatro Brasileiro de Comédia. Ao lado do marido, Fernando Torres, montou a Companhia dos Sete, juntamente com os atores Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Giani Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto. Em 1970 afastou-se da televisão durante nove anos. A sua volta deu-se em 1979 quando participou de “Cara a Cara”, novela de Vicente Sesso exibida pela TV Bandeirantes.

A sua estreia na Globo foi em 1981, em “Baila Comigo”, interpretando Sílvia Toledo Fernandes e logo depois apareceu em “Brilhante” na pele da milionária Chica Newman. Inesquecíveis mesmo são suas cenas ao lado do saudoso Paulo Autran, na primeira versão de “Guerra dos Sexos”, de Sílvio de Abreu, na qual eles viveram os primos Charlô e Otávio. No ano de 1986, em “Cambalacho”, novamente numa história de Sílvio de Abreu, ela protagonizou situações hilárias na pele de Naná, ao lado de Gegê, personagem do também grandioso e saudoso Gianfrancesco Guarnieri.

Os personagens marcantes são inúmeros. Tem a Vó Manuela, de “Riacho Doce”; Salomé, em “A Rainha da Sucata”; Olga Portella, em “O Dono do Mundo”; Jacutinga, na primeira fase de “Renascer”; Madalena Moraes, em “O Mapa da Mina”; Quitéria Campolargo, no memorável “Incidente em Antares”; Nossa Senhora, no “O Auto da Compadecida”; a italiana Luiza, em “Esperança”; a Madrasta e Dona Cabeça, em “Hoje É Dia de Maria”; a ardilosa Bia Falcão, em “Belíssima”; Iraci, em “Queridos Amigos” e Bete Gouveia, em “Passione” e muitos outros.

Reconhecimento

O reconhecimento também veio pelo do convite feito pelo então presidente José Sarney, nos anos 80, que gostaria de ter Fernanda Montenegro como ministra da Cultura, mas atriz recusou. Em 1999 foi condecorada com a maior comenda – a Ordem Nacional do Mérito Gran Cruz, pelos destaques na cultura brasileira.

A atriz tem seu nome ligado ao cinema brasileiro e, em 2004, recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Tribeca, em Nova York. Entre suas atuações no cinema nacional, destacam-se: “A Falecida” (1964) e “Eles Não Usam Black-Tie” (1980), ambos de Leon Hirszman; “Olga”, de Jayme Monjardim; ”Redentor” (2004), dirigido por seu filho, Cláudio Torres; “Casa de Areia” (2005), dirigido pelo genro Andrucha Waddington, e “O Amor nos Tempos do Cólera”, de Mike Newell, lançado em 2007, no qual fez a personagem Tránsito Ariza, mãe do personagem do ator espanhol Javier Bardem.

E vale lembrar ainda o “Central do Brasil”, de Walter Salles, que foi indicado ao Oscar por sua atuação. A atriz ganhou o prêmio Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim por este trabalho.

Mas o maior prêmio que Fernanda Montenegro conquistou em sua carreira veio quando foi premiada na categoria melhor atriz durante a 41ª edição do “International Emmy Awards”, em Nova York, nos Estados Unidos. Primeira atriz brasileira a vencer o “Emmy” e a única já indicada ao Oscar, Fernanda recebeu a estatueta no palco das mãos do ator americano Steve Guttenberg.

Família

Fernanda Montenegro casou-se com o também ator Fernando Torres em 1953 e eles tiveram dois filhos, a atriz Fernanda Torres e o cineasta Cláudio Torres. O marido da atriz morreu em 2008. A última atuação da atriz foi justamente ao lado da filha, Fernanda Torres, no final do ano passado, quando protagonizaram dos episódios de “Amor e Sorte” e o especial de Natal “Gilda, Lúcia e o Bode”. Sobre contracenar com sua própria filha, Fernanda reflete: “Acho que nós esquecemos que somos mãe e filha. É o trabalho de uma profissional, de uma artista, com quem eu estou contracenando”.

Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário