24 de março, de 2021 | 15:11
Porque somos a favor da volta às aulas presenciais
Marcone Oliveira * Luciana Freitas *
O tema pede resolução rápida no sentido de que as autoridades públicas tomem medidas para reabrir as escolas, e então minimizar as graves consequencias para a saúde física, mental e social das crianças e adolescentes”Em um momento tão grave da saúde pública brasileira, com muita frequência recebemos pessoas que nos indagam dessa forma: Mas vocês, mesmo sendo da área da saúde, apoiam as escolas abertas? Não deveriam apoiar que fechem tudo?” A nossa resposta é quase sempre a mesma. Exatamente por sermos da área da saúde é que apoiamos o retorno das aulas presenciais. Gostaríamos de expor aqui, nosso ponto de vista, sem viés político-partidário, ou qualquer influência de estar ligado a alguma instituição que se beneficiará deste posicionamento.
Após um longo período de pandemia no Brasil e no mundo, um conjunto de dados de pesquisas relacionados à experiência de abertura das escolas foi produzido, e por isso é importante trazê-los para análise e como justificativa para abertura das escolas. Além das pesquisas, instituições que são referência no mundo na análise de contextos e dados educacionais também são importantes fontes de referência para nossa tomada de decisão.
Em primeiro lugar citamos a OMS - Organização Mundial da Saúde, que elaborou um guia de retorno às aulas em parceria com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura) em 14 de setembro de 2020. Neste guia consta que a retomada das aulas presenciais não agravou a pandemia do coronavírus, e que em contraste, o fechamento de escolas tem impactos negativos claros sobre a saúde infantil, educação e desenvolvimento, renda familiar e economia”. Nesse mesmo sentido, a ONU emitiu um comunicado com uma frase que muito nos marcou, onde ela dizia As escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir”.
Já a recente publicação da Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, do dia 5 de março de 2021, intitulada Stay-at-home policy is a case of exception fallacy: an internet-based ecological study (A política de ficar em casa é um caso de falácia de exceção: um estudo ecológico baseado na Internet), destaca que ficar em casa não desempenhou um papel dominante na redução da transmissão de covid-19. O objetivo do estudo foi avaliar a associação entre a permanência em casa (%) e a redução / aumento do número de óbitos por covid-19 em diversas regiões do mundo, os resultados deste estudo mostraram não ser capazes de explicar se a mortalidade por covid-19 é reduzida permanecendo em casa em 98% das comparações após as semanas epidemiológicas 9 a 34.
Parte inferior do formulárioA Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu uma nota técnica no dia 17 de março de 2021 destacando que a covid-19 se manifesta predominantemente em formas leves ou assintomáticas em crianças em adolescentes, e que são raros os casos graves como da Síndrome Respiratória Multisistêmica, e que a mesma nota destaca que em 2021, até o presente momento, observamos menor proporção de hospitalizações, menor proporção de mortes e menor taxa de letalidade nas crianças e nos adolescentes de 0 a 19 anos em comparação ao ano de 2020.
A Unicef também se posicionou e emitiu uma carta aberta no dia 7 de janeiro de 2021, às prefeitas e prefeitos eleitos nos municípios brasileiros, destacando que o longo fechamento da maioria das escolas e o isolamento social têm impactado profundamente a aprendizagem, a saúde mental e a proteção das crianças e adolescentes, que o risco de abandono da escola é imenso, e que o aprofundamento das desigualdades impactará uma geração inteira. Também destacam que a experiência em muitos países demonstra que a reabertura das escolas não causou aumento de infecções e que por isso, as escolas devem reabrir no início do ano escolar.
Um relatório do Banco Mundial, publicado dia 17 de março de 2021, aponta para um aumento de crianças com dificuldade de leitura e escrita no Brasil de 50% para 70%, o que torna a desigualdade social ainda maior.
Um artigo publicado no periódico Pediatrics intitulado Suicide Ideation and Attempts in a Pediatric Emergency Department Before and During Covid-19 (Ideação e tentativas de suicídio em um pronto-socorro pediátrico antes e durante o covid-19) chega a conclusão estatisticamente significante de que os números de pensamentos suicidas e tentativas suicidas entre crianças e adolescentes foi maior em 2020, quando comparado ao ano de 2019.
PORTANTO, os dados acima deixam clara a necessidade da reabertura das escolas, mantendo as regras sanitárias publicadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. O tema pede resolução rápida no sentido de que as autoridades públicas tomem medidas para reabrir as escolas, e então minimizar as graves consequencias para a saúde física, mental e social das crianças e adolescentes.
* Médico Neuropediatra / www.drmarconeoliveira.com.br
** Neuropsicóloga
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Arethuza
28 de março, 2021 | 09:03Vcs são a favor do retorno das aulas PRESENCIAIS pq não tem que ver o seu filho (a) em um lugar de risco. Convido -os a conhecerem as escolas públicas municipais e estaduais ( onde maioria da população estuda) antes de defenderem esse absurdo
Em especial as escolas de periferia,sabe... O mundo NAO É COR DE ROSA PARA TODOS. Fácil se falar de retorno com os filhos estudando em instituições que testam a criança quinzenalmente. Vá a uma escola onde temos uma sala de 4m por 4m com 40 alunos. Vá a uma escola onde os professores fazem "vaquinha" para comprar papel higiênico para os banheiros... Aí vc pode PENSAR em defender algum retorno. Outra coisa: até hj não vi, Dr Marcone, nenhum PROFESSOR contestar uma receita ou laudo médico ( pq essa não é nossa competência) o engraçado é ver o senhor, sendo médico, querer palpitar no que diz respeito só aos PROFESSORES. Diga-me então pq não fez magistério?”