19 de março, de 2021 | 14:27
A Engenharia como antídoto para o desemprego
José Manoel Ferreira Gonçalves *
O Brasil é um país continental, que no passado recente exigiu notáveis esforços de infraestrutura e engenharia para se integrar e crescer”A debandada da Ford com suas fábricas do Brasil escancarou um dos grandes problemas, cada vez mais crônico, de nossa economia: o desemprego entre a mão-de-obra qualificada. Mercedes-Benz, Sony e diversas outras empresas baseadas em tecnologia já haviam anunciado o fim de suas respectivas unidades fabris, engrossando as estatísticas desanimadoras sobre a oferta de postos de trabalho na indústria.
Segundo a CNC, Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o Brasil perdeu 17 estabelecimentos industriais por dia nos últimos cinco anos. Em 2020, a indústria atingiu o menor nível de participação no PIB brasileiro em toda a história: apenas 11,2%. É a chamada desindustrialização. Especialistas da CNI, Confederação Nacional da Indústria, defendem que já estamos vivendo uma segunda onda desse processo desde meados da década passada.
A oferta de subsídios e outras medidas macroeconômicas adotadas pelo Brasil nos últimos anos não surtiram efeito. Há tempos o governo peca ao optar por essa forma primária de se fazer presente na briga global por competitividade. Subsídios são apenas um entre muitos outros fatores mais sólidos que atraem investimentos, tais como a já citada mão-de-obra qualificada, geolocalização, um forte mercado consumidor, sistema tributário moderno e estabilidade jurídica.
O Brasil é um país continental, que no passado recente exigiu notáveis esforços de infraestrutura e engenharia para se integrar e crescer. Voltar a investir nessas iniciativas, em grandes projetos de transporte, energia, saneamento e logística, é o caminho para termos uma nova era de desenvolvimento.
Àqueles que acreditam que o Estado não tem condições de assumir esse papel de indutor de investimentos, é preciso contrapor que o país possui, sim, os recursos que poderiam ser investidos em infraestrutura, como a poupança interna, a balança comercial positiva e nossas bilionárias reservas cambiais.
Com relação aos técnicos e engenheiros, eles são resilientes e estarão prontos para contribuírem, voltarem a ser protagonistas de um Brasil vibrante e gerador de oportunidades.
Algumas das possibilidades que saltam aos olhos e que estão aguardando a vontade política de nossos governantes para gerar empregos: Ferrovias há no país 8.534 km de ferrovias abandonadas, 51.530 km de ferrovias planejadas e apenas pouco mais de 10.000 km de ferrovias ativas ou precariamente ativadas. Toda essa malha aguarda um projeto sério de investimento para voltar a funcionar, inclusive como opção ao transporte de cargas e passageiros, reduzindo a dependência do país do modal rodoviário. O investimento anunciado com as duvidosas prorrogações de concessões que só interessam a poucos representa uma migalha do enorme potencial do setor ferroviário.
Indústria petrolífera temos tecnologia de águas profundas pioneira. Além da Petrobras, há cerca de 5 mil empresas privadas criadas em torno da indústria do óleo & gás.
Indústria aeronáutica apesar do momento delicado para o transporte via aérea, o país possui seu próprio Vale do Silício em torno da Embraer, e é altamente competitivo nessa área.
Tecnologia agrícola envolve milhares de pesquisadores e é responsável por inúmeros avanços de repercussão mundial (em São Paulo, o governador parece estar disposto a desmantelar esse nicho de excelência).
O próprio Instituto Butantã, que nos enche de orgulho no combate à pandemia, é outro exemplo: criado em 1901, é o maior produtor de vacinas do Hemisfério Sul. Em resumo: sem projeto nacional de desenvolvimento, não há empregos. Sem engenheiro, não há desenvolvimento sustentável.
* Engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, integrante do Engenheiros pela Democracia e presidente da Ferrofrente
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